segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Nesses dias não quero ser poeta



Existem dias em que a dor me queima a carne
até expôr os ossos frágeis.
Nesses dias não quero ser poeta.
Não quero deixá-la brotar de mim em
suaves sussurros milenares,
não quero que outros a leiam
e com ela se vistam e se sintam
mais vivos, mais líricos...
Existem tantos dias assim...
Mais do que a minh'alma quereria
supor.
Nesses dias não quero ser poeta!
Não quero a falsa reflexão,
nem o calor dos teus braços,
nem a frenética marcha das horas...
NÃO QUERO QUE ME DIGAM QUE VAI FICAR TUDO BEM...
Quero rasgar-me...
Quero arrancar-me...
Quero atirar-me de um abismo e
deixar a minha carcaça podre enfeitar
o vazio.
Nesses dias...
não quero ser poeta.
Queria apenas...
NADA!
(porém tu chegas e abraças o meu corpo
que dança em espasmo de intensa dor...)
Nunca sentes saudades da morte?

Eu sinto.
Saudades da imensidão
que é o não-sentir,
a antítese do sofrimento,
da queima.
(abraças-me, acalmas-me
e eu a chorar e a gritar,
a esmurrar-te a face alva,
enquanto me torço em dores
tão minhas)
Nesses dias... Não quero amor.
Não quero doces carícias.
Não quero ser poeta.
E eu tenho tantos dias,
tantas noites,
horas miseráveis em que me perco dentro de mim...
À procura...
À procura da criança que não fui,
das cicatrizes que me sangram,
do colo surdo de mãe
que me negas
e me envenenas o olhar...
Nesses dias.
É demasiado duro.
É demasiado gritante.
NÃO QUERO SER POETA.
Só quero ser eu...
Apenas eu...
E eu...sou miseravelmente pouco.
Miseravelmente humana.
Inequívocamente não-poeta.

(Deyne Caroline)

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