terça-feira, 24 de maio de 2011

Longe de mim













Enquanto eu caçava algo pelo chão como se tivesse perdido trocados ou mesmo algo mais importante,
só a notei quando a vitrola enganchou no meu melhor disco do Led Zepellin. Ela ali parada como se me
consumisse tudo aquilo que eu tinha vivido, ingerido e tragado. O golpe seco desce pela garganta
como se adivinhasse a cena do próximo capítulo. Próximo? Não. Nem perto disto.Há poucos dias éramos
uma fluida conexão de sentidos e idéias, mas por primazia do destino essa idéias são as próprias causas
da transrupção. Eu pergunto se está tudo bem, ela diz que está tranquila e me pede um cigarro. Acendo dois. E tento queimar esse espaço vazio que se coloca entre a gente. Achei minha garrafa pela metade de Jack Daniels. Uma boa falsificação. Ofereço. Ela nega. Como negou nossa vida. Até quando poupar uma amizade significa realmente perdê-la? Isso, junto com um número sem cálculo de conjecturações, pairava sobre meus pensamentos. O que me faz retornar aquele momento. Foi. naquele momento. Quando então comemorávamos o sucesso do nosso projeto. Nosso? Não. De repente isso nem existia mais. Como tanto zelo pelo seu amigo pode se tornar tão aterrador e vil frieza? Eu não entendia. Nem a vida parece ter me dado os elementos certos para entender. O fato é que eu a beijei. Não fora discreto. Ataquei. Os lábios que por meses me atormentavam, implorando para beijá-los. Mas ela com toda sua realeza se afastou de mim. E hoje ela vinha pegar o que restava das coisas que tinha largado e que eram nossas. Fumou mais três cigarros enquanto juntava tudo, chegando próxima a porta, utilizando-se de frase feita: 'te ligo. a gente se vê.' Eu a vi sim. Apesar do torpor em meu coração, eu a vi saindo altiva como se tudo ao meu redor não fizesse mais sentido. E ela foi como o último acorde de uma triste melodia ...


(André Café)

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