sexta-feira, 27 de maio de 2011
















Quando a notícia triste veio, a primeira coisa que pensei foi: “Quantos mais vão tirar de mim?”. Há pouco tempo perdi um amigão, daqueles homens únicos. Agora perdi também meu avozinho, um exemplo raro de sinceridade e amor.
O tempo, que nunca foi assim um amigo, nos deixou esperando alguns dias entre o medo e a esperança. Minha mãe costuma dizer que quem tem fé não tem medo. Só que o medo é algo grande, e o medo de perder é maior ainda. Vivo me questionando sobre muitas coisas, e a segunda coisa que me veio a cabeça naquela noite triste foi: “De que adiantou tanta fé?”.
Hoje eu sei de que adiantou, pois estamos quase há 1 mês sem ele e começamos a transformar a dor em uma saudosa lembrança dos tempos de sorriso. O Vô Chagas sentava na cadeira de espaguetes na frente de casa desde que me entendo por gente, e todas as manhãs eu gritava do outro lado da calçada:
- Benção, Vô!
E ele:
- Deus te abençoe, minha filha!
Como um tradicional Abreu, não gostava nem de música, nem de multidão; dormia cedo, acordava cedo e tinha hora pra tudo. Birrento, bruto, cheio de manias, um cara que não se rendeu a qualquer doença que fosse. Superou até a distância de 14 anos da vovó, que era amenizada pelas orações e pelo zelo com as lembranças.
Tudo na minha casa tem a cara do vovô, foi ele quem arrumou os armários, as paredes, o chão, o teto, a minha mãe. Marceneiro, pedreiro, eletricista. O que o meu avô não sabia fazer?
Ficaram lições e saudade de um homem forte que um dia perguntou se eu me “atrevia” a fazer um curativo na sua pele frágil que cortou fazendo a barba. E foi a última fez que toquei naquele rosto...

(Larissa Andrade)

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