terça-feira, 26 de julho de 2011

Sem código de barras


O mundo não está fácil pra ninguém:
corpos de partida, realidades crueis que não mudam,
problemas pessoais, públicos e privados,
um monte de coisas que atormentam.

Quem se importa? Só me perguntam
pelo CPF, Identidade e comprovante de residência.
A Santíssima Trindade da referência.
E a família e as amizades, não contam?
Dizem que são dados desnecessários.

Perguntam meu número de telefone,
sem desejo de marcar encontros.
É mais uma etiqueta, uma dependência,
vínculo imediato em oito dígitos.

Querem saber se eu tenho matrícula,
quantas matérias, qual o código de disciplinas.
Quantos títulos eu possuo? Servem empates e derrotas?
Eles também são elementos constitutivos.

Tentei encontrar necessidade nos registros,
pilhas de papel transformadas em acervo digital.
Resolvi me inserir na lógica maquinada,
cansei de esperar que as coisas dessem certo.
Deixei elas simplesmente acontecerem.

Parei de fazer leituras de lábios,
e me expus aos olhos lasers de um burocrata
asséptico e sem vícios, limpo de qualquer expressividade.

Sem esboçar nenhuma surpresa,
sem trava de espanto ou sobressalto,
exibiu uma mensagem de rotina,
a última antes de cuspir o fim do nosso contato.
Aquilo que eu tanto esperava:
era apenas mais um produto sem cadastro.

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