sábado, 24 de setembro de 2011

Viciada naquilo e, deve ser amor

No quarto, Pedro olhava-a com uma lágrima, que dançava em seus pêlos cravados na pele e que enfeitavam aquela boca feroz, sutil, demente.
- Não me peça para pensar em te abandonar. Meu corpo te adora, te chama, te ama e, você não pode ir agora, nós ainda não acabamos com tudo o que temos.
Sílvia, de tanto atropelar a voz com o choro, soletrava o pedido de quase despedida.
- Muito de mim, me chama até lá e, muito mais ainda me pede pra ficar e com fome de amor, não te vestir nunca mais.
O sol escondia-se e, de longe mesmo, avisaria aos amantes que a porta entreaberta era testemunha do que queria ser fuga e permanência. Era um castigo não querer que eles se pertencessem.

- Espera! Segura minha mão, recolha-se! Eu sou uma oferenda, não me despreza. Venha, meu bem!
- Repare essas lágrimas. Haverão de sumir tantos motivos para não estarmos como sempre, como antigamente.
- Fica! Perdoa meu corpo indecente, que de dengo não foi apenas teu...
- Por tudo o que amei e em salvação ao que ainda não gostei não te deixo nem com meu orgulho ferido. Cubra-se!
Ele latejava a todo instante, em seu corpo. Mas demonstrava frieza e indiferença. Em sua imaginação, fazia mil aventuras com imagem posta ao seu alcance. Ainda era dela o toque mais sincero, a boca mais rebelde, as curvas mais belas. Mesmo com a promessa quebrada, feita em sussurros e desejos de uma noite que não teve fim: “- Somos nossos e isso é tudo”!
Agora, sem meias palavras, sem meios de dizer que valeu e doeu terem perdido, os pés moviam-se no espaço. Era um chão de lágrimas que partia a alma. Quis voltar, quis amar aquele amor quase nu. Era ela, era dele isso tudo. Ela, era dele.
Ainda estamos aqui. Ainda temos tempo. É simples: Ignore as vozes. É que eu estou ficando louca...
Os sons do quarto eram de batidas de corações e gemidos. Sim, tanto se quiseram que não controlasse aquela discussão de despedida, que acendia o desejo dos dois. A boca dele assaltara todo o seu corpo. Livrou-se do resto da renda branca que ainda lhe cobria. Não controlaram a voz da pele. Misturam suas salivas, seus cabelos, seus instintos famintos.
Amanheceu com aquela cor linda de sol forte, que juraria às pressas, enrolada em meios lençóis, aquele doce corpo nu era mesmo dela. Silvia ainda estaria ali com seu sincero amor. Os cabelos dela cobriam aquelas costas sujas. Os lábios dele acordaram os lindos verdes olhos dela.
- Agora que não é mais amor, são 50 reais.
A vadia saiu.

(Rosseane Ribeiro)

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