domingo, 31 de julho de 2011

Exagerados



Atirei-me em um abismo
como um trem desgovernado,
querendo o grito mais sofrível,
querendo a dor mais malquerida,
querendo o incomodo arrepio,
querendo um mar desiludido
de sal pelo rosto escorrido,
mas ao fim do mergulho,
nada de tão profundo,
apenas um abismo sem causa
do tamanho de um copo d’água.

(Suzianne Santos)

Brasil aposentado



Hoje acordei sem norte
após um sonho mal dado
de um futuro desbotado
mas, na real,
era o hoje apresentado

Repentinamente,
rompeu-me o silêncio
de um Brasil aposentado.


Viril Estado fraco, 
inútil e quebrado
cujas histórias e conquistas,
manuscritas em legislativos,
foram parar 
no vão esquecimento,
junto às histórias 
“pra boi dormir”

Seu aposento 
não veio por mérito
de suas longas madeixas brancas,
ou quem diga
por seu tempo de contribuição,
mas sim
pelos longos anos de exploração,
coerção e alienação

Senhor mor 
em ludibriar a realidade alheia,
transfigura ‘o nosso’ em ‘meu’,
ou melhor, em  ‘their’*

Profissionalizou-se 
na arte ilusionista,
encantando todos à sua volta
como um País das maravilhas,
E assim, foi silenciando
E assim, foi desmobilizando
E assim, foi comprando seu aposento,
pago à Terceiros e Particulares,
sob um mar de valia

Agora,
de diferente nada parecia,
nada de sonho ou fantasia,
só silêncio e descaso
pelo real configurado
de um jovem Estado aposentado...

(Suzianne Santos)
*Tradução: deles

Caminhada na noite em meio aos cães





Peito marcado
dor nao suprida
unha na ferida
cutuca e nao sinto
coração faminto
cansou de sofrer
ver e nao ter,
ter nada na mente
deixou-me dormente
de sonhar ou saber?

(MarcoFoyce)

Céu-Mar



Feeling the blues
Na brisa azul
Delicadeza azul
Num balanço envolvente
Feeling blue.
Na voz suave
No toque da pele
No vento azul
Feeling blue?
Na melodia das notas
simples notas.
Paz de espírito
Brisa da respiração
Do corpo que chora o vento azul
Feeling the blues.


Juliana de Andrade

Engenheiros do Hawaii - Alivio Imediato

sábado, 30 de julho de 2011

Poesia, rebeldia e uns tragos que não me acalmam


Tu repensa, revisa toda história, atrás de algo
que talvez tenha se perdido bem no meio do furacão
mas nada, se algo se perdeu foi sua vontade de continuar
pra não falar de si que come derrota no café da manhã
Tenta olhar pra cima, mas não consegue e o corpo todo
se derrama pelo banheiro entre tristeza e vômito
nem a cachaça foi capaz de atenuar
e agora cumpade? fazer o que agora?
primeiro, como num lampejo de suspiro
conta as coisas que pode passar pra frente
o que eu posso deixar pro mundo?
eu fui amigo, eu fui fiel, eu lutei pela felicidade
e depois de tudo aqui, assim. 
malditas pernas! POR QUE ME TROUXERAM ATÉ AQUI?


um riso culpado no rosto, tal bondade se mostra algoz
só sinto que essa passagem finda
e algo busca fugir deste plano
de braços abertos
de olhos abertos
de corpo aberto
de coração despedaçado
o ensaio do vôo sem volta
depois silêncio ...


(André Café)

Sexo.

Engula-me, engula-me!
Afoga-me em saliva;
Depois de morta, degluta-me.
-Envolva-me,
E devolva-me a mim.
Tal qual quem nunca quis
Que não quis nem permissão
De quem não queria, mas queria...
Escuta-me.
Diga-me se ouve o mesmo que eu
Ouçamos no mesmo tom,
Ousamos na mesma Língua.
São duas bocas num ouvido só:
-Engula-me.



De.terminar Tal.vez


O erro talvez possa estar em querer determinar,

Na dinâmica da vida até a matemática pode vir a perder sua exatidão,

Cristalizar-se numa idéia abraçando a solidão,

Não percebendo outro caminho, provável solução;


Nem o certo nem o errado,

Mas a metade dos dois,

Se para mim agora é certo,

Pra você talvez já foi;


Há um errado entre nós?

Ou talvez certo nós dois?


Nem certo nem errado meu bem,

Apenas a metade dos dois,

E se o erro talvez for certo,

Talvez acerte esta canção,

Talvez aprenda compreender e transmutar opinião;


E vou viver como numa tal vez que enxerguei com o coração,

Sempre cantando e me afastando de terminar esta canção...

Artéfio Bruno

em: 12.01.2010

sexta-feira, 29 de julho de 2011

peço-lhe um favor: deixa-me em paz na guerra.



Madrugada não me deixa dormir, ela é o silêncio mais maldoso que já vi.

Disfarça com esses olhos de criança esquecida no parque.

A cidade tenta me dizer que há algo a menos do que todos nós pensamos que há.

Menos vida, menos certeza, menos calor, menos amor.

Ou ela me engana ou ela me alerta.

Atento-me aos olhos das luzes das casas, prédios e praças e pergunto-lhes:


- "se existe algo além disso, acendam as luzes. Se não existe, apaguem por favor".


Responderam-me quase que de imediato.


E então, luzes se apagaram, luzes se acenderam...


Algo aperta aqui dentro. Meu coração se enrosca feito um parafuso e meus olhos ofuscam com lágrimas a paisagem morta da noite.


Vou dormir para não começar o desespero da não vida.

(Tassi)

Marcas



E se simplesmente as marcas que temos no nosso corpo sumissem.

Você já parou pra pensar ?

De início, claro é legal não ter marcas,
uma pele lisa, bem cuidada,
Joelhos inteiros, dedos também.

O cotovelo, intacto.
Até parece que não fui criança.

E pensei .... mas ... se as marcas sumirem ?!

Se elas sumirem, sumirão também os acontecimentos,
os tombos de bicicleta, os ralados jogando bola,
as vezes que cai na rua, ou no rio.
Tudo era festa, tudo era desafio.

E me lembrarei do pior xingamento que me faziam:
- você solta pipa no ventilador.

Sumindo as marcas, somem os acidentes.
Sumindo os acidentes, somem as lembranças.

Do que vou me lembrar ?!
O que eu fazia pra aprontar ?!
Hoje, acho graça das crianças. Antes, achava graça de mim.
Mas, apagando, vou rir de que ? Do que ?

é ... pensando bem ...
Deixe minhas marcas bem aqui ...
Elas me lembram bem quem fui, quem sou e me ajudam no quem quero ser.

(Tayago)

Aos Por virem

Mário¹ vive passarinho,
Luís², no dualismo,
eu, permisso macio.
E você,
por que não permitir-se?

Em sonhos, todos idealizam
Trabalho, materializam
Amor, aspiram
Carinhos, eternizam
Raiva, se rebeldiam
E em sentir todos vivem

Mas se em sentir
 vivo,
de nada se opõe
o rabisco,
que em palavras toscas,
brutas, soltas,
em melodia ou sem rima,
traduzem
um EU em versos.
E pela realidade desliza
rascunhos em poesia,
já se deparando
com o final da linha.

Use a forma
que melhor te servir
e a letra sair,
todos somos
poetas a vir. 

Pense livre,
passarinhe,
dualize,
contrarie,
permissie...


(Suzianne Santos)

¹Mário Quintana
²Luís de Camões

Em duas asas

I
Sua
Nua
À feito carne crua
Então, depois da despedida
Visto-me de lágrimas



II


Mas me diz uma coisa
Porque depois de tantos cafés
É que você confessa
Que a sua língua
Salvaria-me da solidão?


(Rosseane Ribeiro)

Babamars "The Core"

Belisca-me se fores capaz.

Escrevo para ter a certeza de que existo. Se o que fiz não existe mais, o que resta de mim é descrever a noção de inexistência. porque sei que tudo o que foi, não é, e que tudo o que vai...não me pertence.

Escrever me prova o inexistente.

(Tassi)

Manhã




O vento encaminha-se para mim quando sei que irá voltar. Aquele sorriso esperto, aqueles pêlos em forma de arco por cima do olho atiçado, aquela expressão de ouro do rosto, hão de ver-me em atento espanto, de quando os girassóis reencontram com seu amor ao chegar do dia – raio solar.

Então, que palpitam as palavras, que gestos de zelo contribuem-se a si. É só fitar teus belos ombros escusos e os braços chamando a mim para um achego, que tudo amplifica. Chego, protejo-me em ti, dou tudo de mim neste abraço. Passa o tempo que passar ali estaremos, unidos em qualquer (re)começo.

(Junior Magrafil)

Medo de amar



Não tenho horrores
Não tenho sabores
Não tenho pudores
Não tenho valores
Porque não tenho amores
Pois nem tudo são flores
E enfrento com ardor
Esse pavor
Para encontrar um amor
E enfim viver sem pudor, sem valor
sem horror e sem flor
Pra que serve o amor? Se não para a dor

(Víctor Augusto)

O olhar sobre a areia



Tem coisas que escolho
chutando o balde
com muita vontade
e sobriedade


outras que espero
as mil aventuras
que doce loucura!
pintada em gravura


areia no olho
em feitos ousados
de gestos cravados
de surtos calados


o olho na areia
discórdia semeia
canto de sereia
e lava na veia


areia no molho
do rubro esplendor
vem de desamor
o armário da dor


areia que colho
que a sina me leva
que a força eleva
e ela releva


areia que tolho
que ri e que chora
e que faz a hora
do vem e do embora


tolhido na areia
a mesma sereia
se faz tão alheia
impede que a leia


areia no olho
cai lágrima
sopra
persiste


intensa verdade
voraz amizade
marcada na vida
vidrada em coragem


(André Café, contribuição ideológica de Fernanda Areia no olho)

Marimbondo de Chapéu




Marimbondo de chapéu
é zangado, é cangaceiro
o seu voo é ligeiro
com ferrão pra esporar
marimbondo pequeno
manipula o veneno
forte, passo a passo
é veneno do cangaço
faz cabra macho se formar

Seu ferrão vem pra doer
faz cangaceiro tremer
pele de burro inflamar
não venha provocar
nunca queira confusão
não brinque com seu ferrão
feito pra machucar

Sou cabra macho
eu sou feito marimbondo
num forró apronto
não venha me assanhar
me chamando pra sambar
na porta da minha casa
eu brigo batendo asa
com ferrão vou ferrar
quem vier me enfezar

Marimbondo de chapéu
tu sois feito cabra homem
Marimbondo de chapéu
eu respeito o teu nome
Marimbondo de chapéu
é chapéu de cangaceiro
de ferrão certeiro
temido como a fome

(MarcoFoyce)

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Lua Mensageira


Quando a lua violeta acender-se diante dos teus olhos,

E sentires exalar o cheiro do amor,

Lembra-te de mim,

E te perguntas onde estarei,

Através da lua te responderei:

- Pensando em ti...

- Talvez...

Artéfio Bruno

em: 19.03.2010