quinta-feira, 19 de abril de 2012

Sobre Alguéns I





Teria Machado de Assis visto teus olhos a partir dos meus ao falar dos de Capitu? Olhos de cigana oblíqua, dissimulados, olhos de ressaca... que puxam, que chamam, que tragam para um infinito negro... Nada havia visto igual, me engoliam e me devassavam, sem pena ou pudor.
Pensei que me perderia naqueles olhos, sem nunca mais poder voltar. Pensei que me enredaria e mergulharia naquele breu de íris e me fazia pedra.
Via teus olhos, mas percorria teu corpo com os outros sentidos. Principalmente o olfato. Que cheiro... De uma pele suada, mas delicioso, cheiro de gente de verdade. Procurava as mãos, os braços, os abraços fugidios, a pele... Uns cabelos reluzentes que lhe caiam ao rosto, que encobria tua tez morena e macia, que lhe conferia mais charme (se é que isso era possível) e um mistério impossível de descrever. Teu sorriso meigo, franco e aberto, bobo, sincero e infantil  Mas teus olhos...
Ah teus olhos! Me achava e me perdia neles, mais me perdia do que me achava e nem fazia questão de me achar.
Te procurava e você se afastava, por medo? Não sei dizer. Mas um jogo de caça, de gato e rato que só os enamorados sabem realizar. Um se finge de tolo e desentendido e o outro faz o papel de mal.
Procurava teu corpo, me fazia em você, enquanto tu se desfazia de mim. O mistério dos teus olhos quem poderia revelar? Eu só sabia contempla-los de dentro daquele negrume de mar salgado.
Mas enquanto me perdia em teus olhos, o que realmente fazia.... era procurar tua boca.

http://www.youtube.com/watch?v=3tZsb41EWsM

(Doda Pereira, 19/04/2012)

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