sexta-feira, 18 de maio de 2012

Chá e biscoitos, em algum lugar do tempo e do espaço


As forças exauridas, sou guiado pelo mar púpuro para uma praia de espinhos
o caminho tortuoso, com chamas e gritos, horrores e sangue para todo lado

Como antítese extrema de imagem, meus olhos não acreditam em tal cena
além da carnificina, por cima de todo lamaçal rubro e nocivo
alguém altivo e tranquilo, repousando em cadeira de ouro
observando sem mais sinais, a barbárie refinada

Seria algum demônio? Mas como pode ser? Um homem? Vivo? Aqui?
Minha voz mais rápida que o pensar, ousou, cuspiu: - Socorro!!

O homem logo ouviu, um trago em um copo comum
levantou-se; caminhou; diante de mim estava
o rosto não muda o semblante, durante todo dizer:

- Me pedes ajuda, mas jaz o teu corpo, és alma agora.
Não há como fazer nada; mesmo se existisse, não quereria fazê-lo.

- Mas humano tu és? Como pode ver tanta maldade e não fazer nada?

- Existe o saber. Existe o não saber. Existe o fazer. Existe o não fazer. Existe o fazer e saber, como não saber e fazer; e também não saber e não fazer, como saber e não fazer. Acaso caístes aqui por inconsciência, ou foram teus passos que aqui te trouxeram? E antes que diga, não faço aqui um apelo a remissão de nenhuma falta que fizestes em vida. Eu digo, foi feito e já está em memória. Agora siga o caminho.

- O senhor perdeu a humanidade!

- (...) De certo que deveria realmente ter algum tipo de ranso em meu peito. Mas digo, perder a humanidade, parece ser o caminho que a maioria dos homens seguem, por querer seguir. Então entre você e eu, não existe tanta diferença. A humanidade se perdeu, sem precisar de ajuda. Com as mãos em teorias e técnicas, foi feito exatamente o extremo do que não podia ser operado. Minar-se e subjugar o planeta. Prefiro antes de minha passagem perder este vínculo que me torna humano, mesmo sabendo que no plano físico isso não é possível... o chá irá esfriar...

E assim ele segue, embebe um gole e passa a escrever algo
aquilo que nunca saberei e que nunca farei


André Café e Sócrates jogando poker em Cocytus com Satan

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