sexta-feira, 25 de maio de 2012

Prólogo Socrático do Encontro II: mais uma rodada de poker e de rum


No segundo desligado, pós-queda do virtude, eis que um demônio de classe baixa interrompe o momento
É mais um convite para o jogo. Surpresa, é claro, em tão pouco intervalo de tempo ... mas teria sido pouco o tempo? Nestes campos que não se sabe hora ou lógica. Não hesitei, e acompanhei a criatura até o habitual recinto de nossa jogatina.
Vazio, com as cadeiras e mesas. Mas nada de chá ... garrafas descansadas, cor de fogo e olor conhecido ... rum ... o que me queria Satan?
No pouso do assento, as cartas esparramadas, apenas uma com a face pra cima; nefasta brisa que adentrava pela porta principal .. silêncio ... interrompido pelas passadas marcantes de quem deve demarcar sua apresentação. Surge, os olhos quimera e riso maligno:

- Olá caro Sócrates.

- Saudações ao Rei dos Mundos ...

- Esqueça as cerimônias nobre pensador. Esqueça até os últimos jogos e possíveis dívidas.

- Vejo que você está falante agora. Agrada-me em partes esquecer o que devo. Mas qual o sentido deste retorno quase imediato?

- O que seria senão o nosso habitual compromisso? Mas o deste momento tem um adicional. Gostaria que me dissesse qual é.

- Pelo que vejo, lhe interessa agora a presença do Duque de Copas aqui. Não compreendo o porquê, uma vez que o tempo e o espaço se condensam e se misturam, impossibilitando um encontro lógico.

- Conhece as leis que rege esta existência. Mas não acredita nesta tal possibilidade nobre pensador. Na realidade, busca este momento. Pergunto então, se esquecera a condição de habitar sobre os meus domínios.

- Não, não esqueci. De fato, não foge a verdade sua perpicaz análise. Como também não foge a verdade minha constatação física. - indagava-me pelo súbito interesse, enquanto o gole de rum descia seco na minha garganta. Uma coisa era o jogo e nada de palavras, apenas gestos. Outra coisa é o jogo de palavras; este eu temia e percebia esse temor crescente. Mas não me reduziria. - Acaso Satan, está com algo a me dizer diretamente?

- Nobre pensador, autorizei a entrada de mais um ser vivente, muito para um deleite, esperando ele se perder em maldições e traumas irreversíveis. Informo que exatamente o contrário está acontecendo. Não reside nele traço de humanidade algum. O meu deleite foi execrado à ira, pois não consigo definir a que natureza pertence a criatura. Qual a intenção de tê-lo no inferno?

- O caso é Satan, que o convidei para o chá em algum momento da história. Apenas isso e somente isso. Não há conspirações pré-meditadas, Você que habita este e outros mundos e ares, tão ou quase tão onipresente, não deveria estar com preocupações neste sentido.

- Em minha posição Sócrates, nada é considerado irrelevante, pela própria descrição que fizeste.

- O Senhor teme perder o seu posto. É isso? Acho impossível.

- Não. Eu temo o sagrado 'cair' e destruir o real, utilizando-se de sua imagem e semelhança.

- O mal sobrepujando a si próprio e deste ato, destruindo-se. Mesmo que o sagrado seja profano, mesmo que o brando faça insurreição de assassino. É, Senhor. Tua preocupação tem causa...

- ... Mas apenas uma conjectura de todas que controlo. É sempre bom dialogar com você nobre pensador. Full house ...

- Agradecido Satan ...Royal straight flush ...


Sócrates jogando poker em Cocytus com Satan

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