quarta-feira, 20 de junho de 2012

O silêncio também é conversa


Descansam as cordas enquanto os corpos se tateiam em uma sincronia quase ensaiada, de gestos espontâneos, impulsivos, conversando em pele enquanto os pelos se eriçam em gritos de satisfação.
Não foi preciso pronunciar uma única palavra e, ainda assim, um diálogo extenso. Intenso.

(Mayara Valença)

Um comentário:

  1. DA ANCESTRAL FALA

    Na dança dos sentidos
    E dos corpos e das almas
    Não se fala
    A língua cala,
    Quando os corpos dançam,
    E as almas sentem.
    Na linguagem ancestral
    E táctil da pele
    É que se lêem,
    Os mudos olhos que se fitam
    E os lábios semoventes
    Que, sem som, se entendem.
    E, no mover cadenciado
    Que dos corpos,
    E das almas,
    Quer se dar,
    Um cadente murmurar
    De pétalas orvalhadas
    Desfolhadas
    Sob o bater do galho
    Em seus açoites
    Faz que chova em flor,
    E fertiliza,
    Pela força
    Desses ventos
    Imperiosos,
    De par em par.
    E se sucede,
    Em meio a sons,
    Tão ancestrais
    Quanto o vagir
    Do nascituro,
    O mais desejado
    E benfazejo
    Silêncio.
    E a solidão
    – Seu triste pouso –
    Já não é mais
    Que um lugar onde,
    Outrora, habitaram duas
    Consciências separadas
    Que num só,
    No mesmo sol-lugar,
    [Qual se uma só e já sem nós],
    Hoje, planam,
    Asas estrelaçadas,
    Vôo cadenciado,
    A entoar o verbo atemporal
    Do infinito;
    Restando apenas
    Um hiato de lábios entreabertos
    No abismo que há
    Entre o medo, a maravilha
    E o êxtase.

    Francisco de Sousa Vieira Filho

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