quinta-feira, 19 de julho de 2012

Desenho, desejo




quando eu era criança
costumava pintar castelos em toda folha em branco
lagos, árvores, praças
e lábios na medida dos meus

queria dois momentos na minha vida
um feito de luz
e outro feito de som

os amigos próximos, o futuro distante
e a voz da mãe ao meio dia. Os desafetos superáveis
ao final da tarde e as frustrações mais rápidas
que o movimento

o sentimento entre os quarks, a razão
na escrivaninha do meu quarto
e uma cama à beira mar

Mas veio a porra do desejo!

Prédios, sentidos que arranham os céus
Face, sorrisos de concreto armado, Lattes
E o coração ungido à aço
fundido fora do peito.

De tudo que fui, pegadas de fonemas...
Um pouco de mim ficou no pó do passo
Só resta a carcaça. O movimento
frenético da informação na fibra ótica
nem os olhos deixou. Nem a raça
que ergue o passo
apenas para equilibrar o peso da cabeça

Manoel Guedes de Almeida
Teresina, 17/07/12

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