segunda-feira, 2 de julho de 2012

Le poids de la poussière (O peso do pó)

Nelson Afonso

A boca tinha poucas palavras e muitas dúvidas
E uma umidade fria que escorria dos olhos
Os pés, justapostos, esperavam o ato
E tremiam ante a aproximação
A mão esquerda também tremia, espalmada sob o epitélio
Do peito inquieto

A poeira do criado mudo, as folhas rabiscadas,
A parede ao final do corredor
Espiavam desconcertados. O quê seria aquilo?
Alguma memória?
Outra conjectura?

Vagarosamente, o pé repousa sobre o espinho. Um passo.
O chão liso do assoalho não entende a pressão imposta
E cada molécula de ar da sala sente a presença do medo
O pé deixa uma pegada. É medo.
Um cheiro tremido e cinza unta a pele e seus pelos.

A boca diz uma palavra, mas apenas a poeira escuta.
O pé ensaia um passo. O mundo dá duas voltas.
O espinho crava. Dois rios?

As unhas ruídas não entendem. O Sol se esqueceu de nascer.
As mãos, as duas, se emocionam. Leves.
Leve.

A respiração é rápida e breve.
Adeus.

Manoel Guedes de Almeida
Floriano – 30/06/12

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