sexta-feira, 31 de agosto de 2012


Perguntas sobre a poesia


. Um dia

 me perguntaram

 se já escrevi

 poesia .

Sóbria e naturalmente dou-me duas respostas:

Aos pobres de espírito, pessoas comuns, eu digo que sim;
Faço uma ou outra poesia, ao bel prazer da inspiração e do dia (desperto).

Aos ricos de espírito, pessoas incomuns, eu digo que não;
Traço um ou outro pensamento, ao bel saber da reflexão e da noite (insone).

Portanto, fica explícita a razão pela qual vivo a dizer-lhes:
Para alguns, aquilo é apenas tinta derramada sobre um papel qualquer;
Aos outros, o que há é um texto e serve para (re) começar a pensar.
De minha opinião, faço tão somente o meu trabalho: comunicar...
(JotaPêSMourão)

¡ adad evlas ! (salve dada) da-da sa_ve 

quinta-feira, 30 de agosto de 2012




Não quero dá uma de Hamlet
Mas quem eu sou?
E quem eu vou ser?
De onde vim?
Pra onde vou?
Deus existe?
Como e por quê?
Se numa noite casual
Eu não quiser saber de você
Não fique mal se a transa é legal
Você também não queria saber
Mas se eu acordar com drama
Não vai ser um dia normal
O jeito é pular da cama
E fazer um bacanal

NECROFILIA




Leitores vasculham cemitérios,
Livros são lápides eloqüentes,
levam resíduos de poeta nos dentes.
Leitores vasculham bibliotecas,
comem defuntos com os olhos,
vomitam versos de outrora.

Poetas amam a vida, bebem a vida.
Tem olhos voltados para frente,
abrem caminho no escuro.
Poetas amam a vida, bebem a vida.
Comem defuntos
ocasionalmente.

Ouro Dezoito




Se eu era o quilate que te faltava
Au
Se eu sou o que late enquanto te surra
Couro
Se eu era o ourives que te lapidava
Aura
Se és o motivo desta minha turra
Ouro

[por Vicente de Paula]

Dezeito quilates




(poema que Gustavo Athayde fez pra mim, que eu fiz pra ele, que nós fizemos pra todos! - Vicente de Paula)

Ele late
Me bate
Por causa de uma pintura,
De um batom escarlate
Eu aceito porque ele é maior
Ele é dezoito, é vinte e quatro, é trinta e oito
38 com que me atira e me abate
Mas antes que ele me mate
Eu vejo o brilho de todos os seus quilates...
Quilates impuros da mais pura arte
Que me salvam para eternidade

VÁCUO




Não sei se é fome ou sede
Mas sei que é vazio
Ausência de cor.
(...)

Um colorir de saudade
Nos meus olhos que se costuram d’agua.

Minha voz apertada
boca seca que não saliva palavras.

sabor de fome
fome de sede
ausência de dois.

Folha de Jornal...

Quem sou eu? Como ainda existo? Porque ainda vivo? Onde estou? Faço estas perguntas meramente fracas a quem diz que o passado é como uma folha de jornal, que atestada de negro, cinzento e branco, onde algumas cores sobressaem numa pagina de fotos tristes que contão a vida de outrem. Navego com os meus dedos velhos, como se fosse um velho que as folheia. Já não sei se sou esta folha ou esta folha “eu”. Existem fotografias meramente mortas pelo passado que o tempo apagou sem vergonha nem ressentimentos. Umas folhas pensam que são a glória do passado, ou pensam que são a vitória do futuro. Vitória do futuro são aqueles maravilhosos textos que o jornal imprime como forma de crónica a uma e a outra pessoa, que nos motivos dos quais é geral. Existem letras que não passam de mera figurinhas que alguém com uma pequena máquina de escrever as ditou ao leitor que lê este jornal que sou eu, ou ele é que é meu! No momento da verdade não sou aquelas imagens que alguém pintou com amor e carinho, que sobressaem no momento, mas sim são aquelas notícias tristes que alguém as redigiu de forma a transforma-las num sentimento e não numa notícia. Estes dedos que escrevem numa leve e fina folha doem como pode doer a vontade de amar, mas não tem ninguém para amar, estes dedos redigem como se de uma pessoa criativa se trate. Mas porque fazer destas palavras ou imagens sentimentos vivos? Olhando para a data deste velho e já rasgado jornal vemos a idade do mesmo como se fosse uma pedra já com uns quilos de anos, e não com uma produção literária recente que alguém escreve. Não se trata de um romance, nem de drama, porque drama é as noticias que no seu íntimo se encontram, e romance é a vontade de serem amadas por verdade e não por esquemas, como aqueles que encontramos no término desta verdadeira aventura. Percorri caminhos, que a mentira deixou, como forma de encontrar a verdadeira e pura verdade, mas sem medo eu morri, porque as folhas estavam rasgadas. As cores nelas, de velhas que eram deixaram de pairar sobre o meu coração falso e foram para as entranhas das minhas velhas auto-estradas, que na vontade de encontrarem um rumo, perderam-se na sua própria vida. Quem não tem vida, passa a tentar procurá-la como este escravo das palavras que aqui redige a folha do jornal. Não são as notícias que dão vida ao jornal, mas quem as lê é que dá vida ao jornal, elas não foram escritas com amor, foram escritas para dar amor, e se no fim da vida deste jornal não existir ninguém para ama-las então o jornal morre e com ele vão as imagens das mais variadas cores e feitios e as verdadeiras palavras que se encontram no meio que o jornal tem. Passear as folhas neste jornal, incentiva a ouvir musica, que pela alma do jornal sintoniza-se dentro de cada um de nós, mas sem a vontade de descobri-la passa-se mais a procura de que a encontrar. Olhando para a sua largura, não vejo senão uns míseros milésimos de espessura que, em cada milésimo de milésimos centímetros, encontra-se uma história, uma pergunta, uma verdade. A história é a vitória sobre o futuro e a gloria do passado, que nas tormentas da vida, alguém com mais força que este escrevo escreveu falando da vitória de um futuro mais próximo que o amanha nascente, a pergunta é a sinceridade em igualdade com a sentimentalidade, que numa conjugação transformam-se na verdade da pura verdade, a verdade não é mais nada que a simples saudade de um bem que já se foi e nunca irá voltar, porque o passado pode ser a gloria sobre algo, o futuro a vitória, mas e o presente? Aí está a pergunta, o que é o presente? Esse tempo que confunde a saudade é mais uma vitória, mas de cada uma destes que lê o jornal, porque se olharmos para o passado vemos pequenos seres, que agora são velhos mas pequenos seres, mas se olhares para o futuro tens os pequenos seres do presente, que mais tarde se tornaram os velhos e pequenos seres, por isso, o presente é a linha que divide a vontade de folhear o jornal e a cega sinceridade de procurar a mais bela e pura melodia do sentimento, que é o bater da nossa alma, porque o bater do coração no jornal, já a muito que deixou de bater pela derrota de ser arrumado num armário sem sentimento. Quem folheia as folhas, pelo toque e pela vontade de descobrir depara-se com a sua histórias pelas rugas que o jornal tem, não são rugas normais, são sentidas e vividas, porque o jornal é uma pessoa em forma de papel, não sente, mas faz sentir, não mente, mas diz a verdade e acima de tudo não ama por palavras, ama por imagens ou gestos, porque cada folha folheada, pelas mãos deste escravo ou de outro, são a vitória de ser sentido por imagens ou gestos. Na sua capa encontra-se o resumo da sua vida e na sua fina contracapa, encontra-se a sua conclusão de uma vida cheia de sentimento verdadeiros, nunca sentidos pelo coração, mas sim por imagens ou gestos. E porque gestos? Por vezes deixar cair uma fina folha de um jornal que suavemente cai no chão, mostra que por mais que aquele jornal seja deixo cair no chão, tem sempre a glória de ser um jornal puro, que não se desencanta por gestos, mas que os aproveita para fazer deles uma forma linda de sentir. Agora as noticias terminam com lágrimas de quem as sentiu, mas que a verdade foram mais sentidas por quem as escreveu, mas que numa forma de sentimento verdadeiro mente ao longo desta longa reportagem jornalística, que na verdade, quer pela força do destino, encontrar a sua alma verdadeira que leia isto da maneira que eu a escrevi e senti, porque por vezes não é dizer eu amo-te, mas sim, quero descobrir quem és tu, porque gosto de ti pela forma de um jornal, do que pela forma de outra coisa, que não um ser que sente de verdade… Assim folheio as folhas deste jornal na tentativa de descobrir a verdadeira sensação de ser mais que uma pessoa, ser o conjunto do jornal que a alma escreve na verdadeira pastas de sentimentos que eu posso oferecer, agora deixo de ser fino como uma folha, porque não sou uma folha, mas passo a ser da espessura deste jornal que na verdade não passa de algo que alguém criou como forma de sentir mais que as imagens ou os gestos, sentir tudo de qualquer forma…



Como se fosse meu...
"Como um

Será que ele tem libido?
Será que ele tem ido na boca da noite
caçar vara de açoite
ou alguém que lhe assunte
uma boa prosa?
Será que ele goza?
Será que ele passa fome?
Quem será que lhe come?

Se ele curte eu não sei.
Mas, se um dia ele for no culto,
que ajoelhe e reze, porque
nesse culto eu ja comunguei."

Poema de Gustavo Athayde



‎''Se minha lagrima cair
Se meu coração padecer
De repente me ver perdida sem você
Minha alma não vai suportar
O sentimento me viu apenas uma vez
A tua indiferença é a pior navalha
aquela que corta a carne e dilacera a alma.''
( Yara Silva)



''Não confiou no meu amor
Procurou outros pra curar a dor
Como pode agir assim?
Fecha os olhos para o que sentimos
Esquece os olhares
Ignorar meu pranto...
Fui covarde ao não sair da minha segurança
Para seguir contigo
Vai ver nosso amor esta pré-destinado a solidão
A crescer em silêncio,mesmo assim
Façamos um trato:
Manteremos este sentimento puro e santo
Façamos dele o alimento da alma
A eternidade nos aguarda
e lá viveremos este amor
Sem lacunas ou mordaças
Apenas eu e você
Num sonho de amor...''
(Yara Silva)



‎"Por muito tempo eu escondi as palavras incontidas em meu coração, elas queriam dizer o quanto eu te amo, mais o seu repúdio o deixou solitário."
Juliana Gomes

Versos de ressaca




No gênio sapiente de
manhãs varadas
a café e
gelo,
Correm as lágrimas do
silente anoitecido.
Os trágicos fantásticos,
de cabeças ornadas em cor,
dilaceram postulados.

(Nas terras de concreto e metal a solidão é dissimulada).

No encontro de horas marcadas,
pés descalços,
calças furadas,
nuvens normais
Não me permito nem
mais um gole de
ressaca.

No mais – uma face no espelho –
- Pobre barril de envelhecer cachaça...

(Pedro Sena, em Inefável Maldito: http://inefavelmaldito.blogspot.com.br/2012/08/versos-de-ressaca.html)



Lembro-me de me deliciar escutando-o balbuciar suas crises existenciais que me deixavam em completo estado de embriaguez sinestésica, era incrível! absolutamente encantador. Eu gostava de confortá-lo e de tentar entender tamanha loucura, tantas lágrimas e tanta inteligência. Lembro que as vezes surgia um imenso medo daquele sentimento e um instinto de proteção ecoava na consciência dizendo pra eu tomar distância, tomar fôlego. Lá no fundo eu sabia e não queria ter noção do estrago, os rasgos, as ranhuras feitas na alma, as mudanças de ideologia, a ruptura com as minhas crenças e com minhas antigas e banais linhas de direcionamento morais.

eu disse adeus com a alma lavada de sangue e as veias molhadas de gozo...!

"Um dia quis amar...





''Um dia quis amar
Amar verdadeiramente
Um dia amei
Quando isso ocorreu
Amei com intensidade

Mas os erros foram maiores
E me fizeram sofrer
Meu choro transcendeu a tudo
Pensei que iria morrer
Mas de repente você chegou

E me mostrou o que eu não queria ver
Tomou meu coração
O jogou no fogo
Quando me vi nele,fritei
Senti a tristeza adentrar e fazer morada

Como posso suportar?
Como posso sobreviver?
Não sei
Só sei que sigo,não sei pra onde
Apenas sigo...

Pensando nos sonhos ,castelos
Que fiz em minha mente
Alimento que supriu minha alma
Vou sobreviver...
Levarei a lembrança que me fazer viver com tudo.''

(Yara Silva)

Por que não?




Que tal sua pele na minha?
Os sorrisos de volta
Sua boca na minha
As promessas de volta
Minha mão percorrendo seu corpo
E todas as frustrações no chão junto de seu vestido e minha calça
Que tal seu corpo fervendo junto ao meu
Pedindo e clamando pelo nosso bom e velho entra e sai
Uma boa dose de tequila para esquentar ainda mais nossa vontade
Vamos pare logo o que esta fazendo
Venha para minha casa e vamos repetir o que fizemos ontem.

Bernardo Moraes

Criança na brisa de cirandas




Sentada no gramado felpudo, observava,
Coberta no vestido branco de fitas rosas,
O céu daquele teatro, abóbada discoide,
De nuvens concêntricas, afuniladas, até a lua.

Abraçava a noite, o vento brando, a calmaria,
Entre as tradições do teu povo e as novidades por vir.
Tua pele negra se banhava de cores, de sons, de aromas,
Tua vida linda se molhava nos amores, nos versos, na poesia.

Teu sorriso infantil, tua respiração profunda,
Sorviam o que de melhor poderiam ofertar,
A casa rústica, a companhia do circo,

Encenavam realidades diante dos teus olhos de prazer,
Que vivos e atentos, permitiam-se ver,
Bonecas e bonecos, marionetes de cordas livres.

Eu pude sentir mesmo com tantas brisas, o cheiro do teu perfume, o seu olhar fixo fazia meu coração palpitar, meus pés eram como se não estivessem mais no chão, existia algo sobre mim, que me fazia te amar, mais e mais, eu queria poder contar aos meus filhos no futuro que foi pra sempre, mas infelizmente todo esse sentimento teve que acabar. Eu bem que tentei manter o seu coração bem próximo ao meu, mais pensando bem, já não é mais você, era como se uma força estranha tivesse tomado conta do que eu mais amara, e você se foi... Juliana Gomes#

Mentira!


E quando digo: não quero sim! o não!
o não quando digo, que quero, agora sim
agora não! sim! o que quero ... não mais
me traz o sabor do mercúrio
para que possa fugir
do não querer do querer negar
para quando agora sim
puder saborear

André Café

Sociopoeta


Você só
tu só o cio
você só 'ci' ...
tu só o ócio

Você só o ócio em pó
Você só 'ci' o cio por
Você escárnio,
da cusparada, sou seu pus
não me importo em tanto ninho que me tomas
e ao mesmo tempo me reanima

Eu que não faço poesia,
enquanto escrevo,
engano os engasgos soberbados
A vontade de não ser e só ser o não
no mundo cão, prefiro as embarcações

Você só, cio, pó e tá por aí, a cantar canções de tantos segundos
Eu, sociopoeta
e fim do limite

André Café

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A vida daquele lugar.






Alguns chamam de força superior
Outros de dono mundo 
Eu me basto dizendo : -Doutor! E a mãe do Raimundo?
Preze por essa vida cansada que já muito de ajoelhou
Mas que mesmo de tapete no ventre fez-se presente, se abuletou
Passagem tranquila se não vigorar
Benditos dias ao acordar 
É preciso pouco, é preciso paz 
Dói de ver a mulher nadando contra o cais
Dos filhos da esquina já deu de comer
A voz falha ficou da água com sal corroer
O espaço que fica entre a pupila e o querer
Da vitória divina e o pousar do acontecer
Bom se curasse
Bom sem doer.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A maldição da clavícula



É sempre mais escuro antes do amanhecer... Enoque não sabia o quanto, habilitação no bolso da calça jeans, cabelo esvoaçante ao vento, encima de uma moto. Agarrada às suas costas vinha a liberdade de andar sem capacete nas ruas do bairro mais ao sul de Teresina, os olhos vermelhos das duas grades de cerveja. Mal sabia ele que a maldição da velha adivinha o acompanhava em cada troca de marcha.

Enrique tinha visto primeiro. Era seu. mas o irmão mais velho, Enoque, não queria deixar o pequeno tomar a última dose de iogurte da geladeira. Naquela época, ainda brigavam por qualquer tolice. Enoque tinha sete anos; Enrique, quatro. Eram duas crianças que queriam demonstrar, em disputa, o amor dos pais. Excepcionalmente àquele dia, as crianças estavam sozinhas: mamãe já tinha saído para a pedicure, papai ainda não tinha voltado para casa, após o supermercado. Os dois irmãos ficaram isolados da presença dos pais, que tinham uma preocupação superficial cotra a decência dos filhos.

Embalado pela paixão que tanto lhe devorava o tempo, Enoque, flor da puberdade, resolveu apostar as fichas no misticismo. Élida o amava, mentia ela. Mas como saber da verdade se ele não era um quiromante? Decidido, dirigiu-se para a tenda mais superticiosa da feira da escola, o coração a pulos, ansioso pela certeza. Leu o letreiro: "Irmã Edith". Arrumou o cabelo espetado, engoliu a saliva suja de pessimismo e abriu as cortinas. Deu o primeiro passo com o pé esquerdo.

Eram duas da manhã, mas o vigia da creche ainda estava escutando as músicas românticas pela rádio, na calçada do prédio público. Percebeu de longe o barulho da moto desembestada e suspirou um sono defeituoso. Enoque, em disparada com todos os seus sessenta quilômetros por hora, avistou de longe o perigo e pisou no freio. Não foi o suficiente. A sensação de alívio de Enoque, proporcionada pelo alcool, não deixou a moto parar antes da piçarra da esquina. O pneu da moto derrapou, quando a velocidade se tornava mínima. Mesmo assim, ele sentiu um peso na consciência.

Eles dois não tinham o costume de decidir no par ou ímpar. Nem em dados viviados em cocaína, a cambalear sobre uma superfície seca. Enoque e Enrique não tinham o mesmo tamanho, mas eles usufruíam da mesma força, herdada pelos fios acastanhados e encaracolados que adornavam suas cabeças. Por isso, a decisão seria no ringue. Quem primeiro fosse nocauteado, perderia a chance de beber do derradeiro leite artificializado. Enrique topou o desafio, as perninhas bambas. Enoque, por sua vez, já tinha um trunfo.

Em uma salinha de espera improvisada, havia duas vítimas do ocaso premeditado, além de Enoque. Ele já estava com fome, e já queria ser o próximo. A tenda da irmã Edith cheiarava a ervas embebidas em oleo aromático, o que duplicava o poder ludibriante daquele lugar espectral. a secretária-aluna da cartomante não se deu nem ao trabalho de esfregar e acender a lâmpada mágica. Nas paredes de tecidos, as fotos referentes aos variados ramos da adivinhação estavam expostas. Os olhos das velhas sibilas congeladas no tempo pareciam ainda se mexer, assustando as almas medrosas.

Esperando com certeza o momento da queda, o velho vigia se levantou da calçada com um sobressalto. Enoque ainda tinha tentado equilibrar a moto, mas já as cervejas tinham consumido suas forças. A danada caiu por cima dele: o guidom sobre seus ombros, o cano quente encima de sua perna. A batida de cabeça no chão aliviou a dor dos demais membros. Ficou desacordado. O velho vigia foi acudir o jovem naquele desespero, antes do grito de desespero e o silêncio do motor. Ninguém mais na rua. Não tinha dado cinco passos de corrida, e o vigia já se apresentava ao acidente. As mãos ásperas pela idade retiraram a moto que esmagava o rapaz contra o solo piçarrento. Pegou no pulso, o coração jovem ainda batendo. Deu uns tapinhas na cara, as pálpebras nem tremeram. O vigia apalpou os bolsos do azarado, nem se atentando aos supostos ferimentos internos. Achou o celular e discou a emergência, ainda temente por não ter aprendido com clareza como portar objetos ultra-tecnológicos.

Embora Enrique estivesse com medo, foi o primeiro a subir na cama dos pais. Ali era o octógono quadrangular onde haviam as corriqueiras lutas pela vida. Já era o terceiro confronto dos irmãos. O placar: 2 x 0 para Enoque, o mais experinete e centrado nos objetivos. Dessa vez, o iogurte era apenas um simbolo de preciosismo. Os dois se enfrentariam, por fim, pela realeza na casa: a soberania, o absolutismo, a mordomia, a superioridade, a invencibilidade. Conforme se preparavam para o combate, o juiz imparcial - o urso de pelúcia da mãe - elaborava uma síntese sobre a jornada dos competidores. Eles demontraram uma reverência infantil e começaram, com golpes de amadores e sorrisos de campeôes.

Eis que a madame Edith sentiu a presença de um garoto bonito à espera e o anunciou à sua presença. O rapaz estava nervoso. nunca tinha visto uma velha coberta de chales estampados com cores quentes. Enoque sentiu calor, talvez aquela bola encima da mesa exalasse um ar mais frio daqui a pouco. As cartas sobre a mesa convidaram o rapaz a um duelo, mas a velha se interessou mais em desmanchar as tranças do cabelo crespo. Por fim, encarou o garoto e, humildemente, permitiu que ele se sentasse em seu devido lugar. Qual seu nome? Enoque. O que você procura? Respostas. Dê-me a mão esquerda. Enoque suava o pé. Respostas amorosas? Ele fez que sim com a cabeça, acreditando que ela sempre fazia essa retórica pergunta a seus convidados. Dar-te-ei tais respostas.

Escutaram o recado, anotaram as coordenadas, assumiram o compromisso de não demorar. o velho agradeceu aos atendentes e esperou que a ambulância emergencial não encontrasse engarrafamentos burocráticos naquela madrugada. Enoque jazia no chão, sangrando uma perna, manchando a calça comprida. Estava todo sujo de piçarra. O vigia tentou dar mais um telefonema. Nas últimas chamadas, um tal de EnriqueIrmão tinha telefonado seis vezes, sem ser correspondido. Crente nas intuições do irmão, o vigia retornou a ligação. Que estivesse ele acordado! Chamou uma vez. Chamou duas. Oi, mano! Faz é hora... Aqui é o vigia da creche do Santa Clara. Teu irmão acabou de sofrer um acidente de moto. A ambulância está a caminho. Vão levá-lo para o HUT. Eu vou com ele até lá. O velho tentou ser o mais sucinto. Tá brincando, cara? É sério!? Juro por Deus e pela vida do seu irmão! Avisa pra seus pais! Tá bom... Tem algum amigo por perto, que possa confirmar ? Não senhor. Eu tô lhe falando a verdade. Vá para o HUT que eu lhe conto todo o acontecido. Desligou. Sem querer, querendo.

Enquanto os tapas e os puxões de orelha não dificultavam a ação do intermediador da luta, Enoque ia fazendo Enrique se cansar com a demora de um ato decisivo. O lençol da cama já estava todo amarrotado e pingado de suor, como em noites de delírio extremo. Os travesseiros já estavam se rasgando e Enoque, com medo da bronca da mãe, jogou-os encima do guarda-roupa, em um minuto de trégua. Mas Enrique não cansava e Enoque decidiu executar seu triunfo. Esperou até que Enrique se levantasse para atacar. Enoque empurrou o irmãozinho, as mãos abertas no tórax do pequeno. Enrique se projetou no ar, flutuou sobre a cama, antes de cair com o ombro esquerdo no chão. Enoque começou a cantar vitórias, mas foi abafado pelo grito de dor desesperado pelo irmão mais novo.

Ela decidiu atender ao pedido do jovem, mesmo a bola de cristal lhe mostrando um episódio infame no futuro daquele cego apaixonado. Edith apalpou a mão de Enoque como se lesse em braille, os olhos fechados de concentração. Suspirou e disse para o menino não temer, que a prometida o amava, feito histórias de contos machadianos. Aquilo que você mais deseja em sua amante não demorará a acontecer. Você ouvirá os suspiros e gemidos dessa moça tão próximos de ti, que não aguentarás e derramarás aquilo que você prende a tanto tempo. Nem preciso olhar as cartas. Sua primeira transa acontecerá logo, tenho certeza. Ela o ama. Enoque se admirou que a velha tenha descoberto sua virgindade. Estaria estampado na testa? Mas para ele, a irmã Edith não passava de uma chalatã. E quis se retirar daquele ambiente escuro.

E a ambulância gritou na esquina. Enoque já estava voltando a si quando os paramédicos o imobilizaram e o transportaram para o hospital de urgência. Como prometido o vigia abandonou o trabalho e acompanhou o jovem para seu destino pródigo. Já no hospital, depois de uma longa via expressa, o pai - que não havia demorado a chegar junto com o irmão - ajudou na identificação do enfermo. E recebeu o máximo de apoio do velho vigia. Enrique percebeu o ombro inchado de seu irmão e teve náuseas. Correndo para o banheiro, pecebeu no caminho vários sofrimentos isolados naquele hospital: um homem baleado, uma mulher estuprada, um homossexual espancado. Na sua mente, as palavras do irmão ecoavam tão audíveis como se ele mesmo tivesse escutado da boca da velha cigana aquela predição nefasta. De volta ao corredor, esperou que Enoque se desculpasse pela centésima vigésima sétima vez por conta daquele acontecido quando crianças. Já passou, mano. Veja! Lá vem o médico!

Ensaiou ainda uma volta olímpica ao redor da cama, ignorando os gemidos do irmão mais novo. Enoque achou que era teatro. Já estava indo buscar o iogurte na geladeira, quando focalizou as íris de Enrique embaçadas pelas lágrimas verdadeiras. Meu ombro tá doendo! É culpa sua! Meu ombro tá doendo! Enoque levantou Enrique do chão, limpou suas costas, entoando em melodia fúnebre para sua versão de mentiroso, mentiroso, mentiroso... Enoque fingia pra si mesmo. Era verdade. Tinha lesado o irmão. A quem pedir ajhuda agora? Correu pro meiro da rua, talvez algum vizinho passeasse com o respetivo cachorro. No pino do sol quente. Não me deixa sozinho! O pai vinha descendo a ladeira! Graças a Deus...

Experimentou se levantar, e a velha Edith não objetou. Enoque deu as costas para aquela mulher enganadora. A velha acendeu um cigarro e quando Enoque abriu a cortina, ela proclamou. Você sofrerá do mesmo mal de seu irmão. Ele se sentirá vingado pelas humilhações da infância. Conforme a sua arrogância e inconsequência, você perecerá do dor que impeliu a seu irmão, duplicada pelo remorso, triplicada pela idade com que se acidentará. Você sofrerá deo mesmo mal de seu irmão. Enoque, espantado, encarou a adivinha em seu efêmero discurso de despedida. Fingiu que nem tinha escutado. Deus com os ombros; ou melhor, com a clavícula.


Julio F. Sousa

Esboço



"Ela estava ali parada, olhando aquela página por mais de cinco minutos, esperando aparecer coragem de dizer alguma coisa.
A saudade já estava espremendo o coração dentro do peito. Os olhos estavam marejados e mais uma vez não sabia o que fazer. Estava perdida em meio as dúvidas do que poderia ter de resposta (se houvesse). Olhou as flores do jardim, que estava defronte a sua janela, mas faltava cores, faltava odores... ela sentia sua falta!"

Tody Macedo

Naftalina



Sai da gaveta,
do cheiro de mofo,
das pragas que traçam,
das folhas que amarelam,
e do gosto de lodo .

traços e versos
não rimam com naftalina.

Yana Moura

O umbigo



Não sei porque ousam me dizer que ele é o centro.
As cores da telinha
A mão do senhor
E a lei

No acalento de minha ciência.
Sempre o tive como veio de vida
Transpondo, necessariamente, a parca primeira pessoa do singular.
Desconfio que eles tenham clareza disso
No entanto, dissimulam no temor de que saibamos.

Carmem Viana

Açúcar e amor



Nasce de papel
Cresce em algodão
Germina feito trigo
Explode como flor
Avança pelo ferro
Perfuma feito afeto,
Amor e açúcar.

Gustavo Athayde


Necessitado do toque do agogô
Um samba de terreiro
Uma roda de batuque
Uma camisa de batique
Uma batida de limão
De maracujá que seja.
Só não essa sonolência...
Tenho uma incerta urgência

Vicente de Paula

Zion atraidinho


Para Andre coffesinho

Venha de ladinho
Sente de mansinho
Que logo no escurinho
Voce ficara bambinho
Caira desmontadinho
E big bang se montara bem ligadinho
Para atrair varios zionzinho 
Bem dentro do nosso mundinho.

Myrla Sales

Assim





Pelos estúpidos detalhes que
Meu coração se parte
Pelas inúmeras vezes que falei
E tive o silencio como resposta
E eu quero você
Torno-me inútil em ser
A verdade é que
Não quer me machucar
Mas sinto que somos tolos
E quero você
Das inúmeras vezes que
Nos machucamos com palavras fétidas
Sou ciente que me conheces
Em não querer quebrar o elo
Mas continuamos caindo e sofrendo
Diria violentos desentendimentos
Mas sei de que fazemos parte um do outro
Acredito que você supõe que pode
Atacar-me dessa forma,
Sempre inconstante e disperso
Precioso isso que construímos
E que estar prestes a ser demolido
Minhas unhas corroem as paredes
Decidimos partir, um para cada lado
Eu quero você
Você me lançou nesse labirinto
Não sinto vergonha em dizer que chorei por você querido
Divertiu-se e agora não quer mais
Quero você
E esse querer te dar medo
Eu sei...
Reatamos, e disse você articuloso
Seja cuidadosa querida
Pois tudo será um desperdício de folego
Olhe em meus olhos e diga que não está comigo
Por caridade
Irei morrer, eu não posso querer isto
Olhe em meus olhos e digo nossos caminhos!
Eu levantei e um de nós chorava
Triste situação, mas resolvi
Mas a sua intenção era fazer-me esquecer
Querer...
E o pensamento dele despindo você ou você se despindo
Tarde demais para incinerar tudo aquilo que os consumia
Eu quero você.





segunda-feira, 27 de agosto de 2012

PROFISSÃO: PSICOLOGIA




PARABÉNS PELO NOSSO DIA
QUE MOMENTO DE ALEGRIA
CINQUENTENÁRIO ENERGIA
QUANTA DOSE DE TEIMOSIA
UM ROSÁRIO DE AVE MARIA
DE UMA CLASSE, A MINORIA
QUE INSISTE EM MELHORIA
BUSCA CONVOCAR MAIORIA
DA POPULAÇÃO E FANTASIA
BOA FORMAÇÃO: ACADEMIA
TAL PROFISSÃO: PSICOLOGIA


ALDERON MARQUES
HOMENAGEM AOS PSICÓLOGOS DO BRASIL
 PELO CINQUENTENÁRIO DA PROFISSÃO
DIA 27/08/2012

PRAGA




FALOU-ME COM PROPRIEDADE
APESAR DE SUA POUCA IDADE
APRESENTA MUITA SABEDORIA
LOUCA, RARA, ÊXITO LOGRARIA
AO ENUNCIAR O MEU FUTURO
DAR DE CARA DIANTE O FURO
PALAVRAS FORTES VOZ MANSA
LOGO MEU CORAÇÃO ALCANÇA
E REZA A LENDA QUE A MORTE
COM GRANDE DOSE DE SORTE
VIRÁ ME VISITAR BREVEMENTE
PRAGA ALÇADA CLARAMENTE
CASO DESTINO EU NÃO MUDE
ESPERANÇA E FÉ, ATO AMIÚDE


POR ALDERON MARQUES
DIA 27/08/2012

Parcelas suspensas no mundo do Ar: O Atma




Transcenda com criatividade,
externando a divindade
viva em sua personalidade.

(MarcoFoyce)

domingo, 26 de agosto de 2012


Após lágrimas de mágoa,
incompreensão
e dor
Estas, hoje, são de alegria
Não há mais solidão;
Encontrou, enfim,
O amor.

(Mayara Valença)

Retorno

AMADINHOS, VOLTEI!

Passei maus bocados
Perdi forças,
Sangue
Fome
Perdi dias e sol
Passei noites em claro
tive dor
e por vezes
não consegui lutar
Mas nunca estive só
e anjos me carregaram
quando já não andava mais
quando desisti de mim
TODOS os outros não desistiram
e eu voltei
e dessa vez
a luta não vai terminar

Nynna Zamboti


Sabores.


Fiapos de vida
Fiapos de dor
Me apego, me agarro
Dependo desse sabor
Sabor de viver
Sabor de seguir
Meio amargo
Meio difuso
Confuso, turvo
Adocicadamente apimentado na amargura de continuar.

sábado, 25 de agosto de 2012

amizade em um mundo estranho



                                                                                                       

Continuem fingindo que ela não existe

E que nunca foi vista

Nos arredores da sua vida.

Continuem acreditando 

que vocês a ela não pertence

E que nunca foi preciso sentir amizade verdadeira

Nos arredores desse mundo tão estranho

 e desumano.

Pra falar a verdade, 

não continue.

Sinta (...)

porque a amizade é vida.




fotos e palavras de uma tal de carpaso

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

ALDRAVIAS

















I

aldravia
em
verso
sintético
vira
poesia

II

eu

dentro
vivo
viajo
aprendo

III
 
passado
presente
futuro
passe
viva
espere

...passagem franca...



Porque sentia o vazio, meu velho. Assim mesmo, sem explicação. Um punhado de dores que não tinham mais aparecido voltam assim, num jorro, num golfo desenfreado. Demoro a levantar. Estremeço. Vejo que se vai. Aceno como se não te conhecesse mais. Nunca te conheci: toda vez inventa de me surpreender. E eu sigo absorvendo essas pancadas, e na hora que olho pra todo lado, vejo que não estou só, mas que nem todos poderiam me amparar. Fecho as cortinas. Por mais que eu apague as luzes, o sol ainda virá. Desisto da escuridão. Procuro-me em alguém. Ainda vou te encontrar.


De papo na Frei



Em rua de ar lindo, todo mundo é rarefeito,
efeito de sentido ou sopro de gases atmosféricos?
Genérico de mais, medicamentos que não servem
para dissipar o torpor dessa calefação solar.

Vale muito mais a companhia
de líquidos impuros do malte, e loucos imperfeitos de sorte,
gastam-se de sons em plena praça, satisfeitos,
do jeito que a coisa anda, melhor parar.

Sonhar que podem, displicentes, transformar
paredes intransponíveis em confeitos de algodão
sorvidos num instante pelas bocas famintas.

Digerindo versos que não bastam,
consumindo histórias que nunca cessam,
enquanto a vida deixa de chamar prum gira.