quinta-feira, 9 de agosto de 2012

PONTEAÇÕES


Ponte Metálica
 
Ponte Estaiada

É interessante evocar e comentar sobre os símbolos de uma cidade, pois isso remete à história de um povo e certa tradição e transmissão de valores do mesmo. Geralmente são trazidos para uma apreciação monumentos, prédios históricos, cenários naturais e até mesmo personalidades, figuras ilustres que ficaram arquivadas no imaginário popular durante um período de tempo bastante longo.
Em Teresina esse símbolo é a ponte! Ou melhor, são as pontes... Primeiramente a ponte metálica que liga Teresina à Timon, enquanto cidades, e em nível de Estado liga a capital do Estado do Piauí à hoje terceira maior cidade do Estado do Maranhão. E isso não é de pouca importante regional! A ponte João Luís Ferreira ou como é mais conhecida, Ponte Metálica, foi durante muito tempo e ainda é símbolo de ambas as cidades e de ambos os Estados.
Mais recentemente Teresina recebeu das mãos das três esferas de Governo e de depois de um tempo estendido de obras, a ponte que homenagearia o sesquicentenário da capital do Piauí, nomeado de João Isidoro França, mais conhecida por Ponte Estaiada, devido às estaias que a compõe, tornando-se a partir de sua inauguração o novo símbolo da cidade, presente inclusive nos ônibus que realizam o transporte público de Teresina depois de realizada a padronização, símbolo mesmo da linha coletiva que atravessa para Timon.
Isso me levou a pensar o seguinte, o que simbolicamente representa a ponte? Recorrendo ao que me lembro dos dicionários e até mesmo de vivências de passagens pelas pontes citadas e mesmo por algumas outras me acorrem, termos como passagem, travessia, caminhar, desejo de chegar ao outro lado, ligação, separação também... Enfim remete a algo inconcluso, que não se sabe bem onde inicia e nem onde termina.
A ideia de uma indefinição, sempre algo em processo, de um caminhar iniciado, porém nunca concluído parece se refletir no espírito das pessoas do lugar e em sua produção cultural a ponto de uma professora conceituada da Universidade Federal do Piauí enunciar mais de uma vez em eventos que o Piauí “é a terra do já teve”! Como assim? A travessia pela ponte começa no lugar e ali mesmo se acaba? Começo a pensar.
Outra perspectiva é que para se alcançar certa notoriedade é necessário você sair desse torrão e “estudar fora”, como se ali permanecendo o seu sucesso nunca pudesse ser garantido. Recorrendo à história de figuras reconhecidas, renomadas por este povo, vamos encontrar esse traço fortemente marcado, muitos dos quais evadiram de seu território e retornaram a ele já formados e “doutores” e outros no qual esse retorno não ocorreu sendo absorvido o seu talento por outros Estados e até alguns países.
Continuo me indagando, mas que legado seria esse? Que travessia simbólica é essa que, aí me coloco como pertencente a esta gleba que estou mencionando, tem que fazer para poder alcançar o mínimo como sujeito que existe, pensa, discorda e constrói um modo particular de ser, sem necessariamente ficar amarrado a essa construção imaginária de que essa ponte é inatravessável?
Cidades que tem esse caráter de dormitório, onde há migração de pessoas vindas de outros lugares, principalmente dos rincões interioranos do norte e nordeste, em busca de melhoria de vida, parece ainda operar mesmo hoje esse processo atravessado, enviesado de uma travessia interminável e difícil de uma localização não mais geográfica, mas afetiva e de pertença.
Nesse sentido de uma construção de identidade de povo, creio que devemos fazer um resgate bastante significante da história e de novos (antigos) elementos constituintes próprios, pois eles existem. A lógica do “tudo que vem de fora é bom” é equivocada e prejudicial a todo e qualquer coletivo que deseja fomentar um modo particular de ser e de viver... Será se desejamos fazer essa travessia? Será se desejamos derrubar algumas pontes? E até construir outras?

Por Alderon Marques
19/07/2012

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