quinta-feira, 21 de março de 2013

"I can't fix you"


Era um olhar meio torto, que descia aos pés e voltava
Na queda do Muro de Berlim se fez grande
E tentou alcançar um chafariz – que parecia oceano – enquanto corria
Dormia em bancos, em praças, em ruas, em lagos, na lua
Era, e ser, torto ou reto, já bastava
Tentava, e gozava ao errar o nome das namoradas
Mesmo que puro, noite ou dia, o seu corpo era estação
Sendo estação – estação do ano –, mudava
E, ao ser estação – aquela do trem –, sofria
Uma vez que sentia falta
E, ao sentir falta, sentia dor, e, na dor, achava um abrigo
O corpo, jovem e cansado, era sua casa
Sua esposa, seus irmãos
Correndo, roubando, chorando
Uma vez tentaram consertá-lo, mas não conheciam sua alma
Não conheciam seus medos
Suas trapaças – seu gingado – ganhavam moças
Que surtavam no primeiro porre
E, ao fim, na dor, descobriu que o cabelo, vermelho como o de Thor
Era azul e, desse modo, passou a ver pessoas azuis
E, descobrindo isso, descobriu que as coisas acontecem quando se deseja
E desejou amar
Amando, ou tentando amar, descobriu que nada é eterno
E desejou morrer
E não morreu, pois já estava morto
Desde o dia que o deixaram
Mas respirava
E precisava de alguém que não desistisse
Para ensiná-lo a não desistir de si mesmo
E sonhou
Sonhou em todas as línguas
E, assim, ouviu: I can't fix you


(Laís Grass Possebon)

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