quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Deixa eu sentir o sabor do mercúrio III


Alimenta-me.
A grande fome das entranhas
por estranhos prazeres começa a me consumir.
faça-me de estômago cheio do mundo
e te toda falácia das palavras mais sinceras.

Eu quero o sangue apimentado com sabor de areia e asfalto
quero o grito mais alto do gol entre escudos e cassetetes
quero um, dois, não, vinte sete regiões sonolentas
o purismo de quem carnificina e julga o tudo
eu quero aos montes, não fará falta

Faça-me engolir acordos acordados enquanto durmo
devorar tijolo, barro e muros que caem para o progresso
verticalizado e ilhas de calor
deixa eu sentir o sabor que passa na bala paga por imposto
resposto tua ânsia de ter raspado o prato
eu pago o caro, o pato e a plateia
eu como a ideia; deixa eu sentir o sabor do mercúrio

Que por um segundo
as palavras serão pontes pra vomitar tudo em tua mesa
no teu corpo, boca, nariz, olhos e ouvidos
sem tempo pra gemido
num prazer visceral
num voo mitral
lança-me louva-a-deus grená
que tudo fará sentido, entre o lume e o libido
de nos fazer esperançar

André Café

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