sábado, 30 de novembro de 2013

Eu comecei a ver


Eu  estava a caminho de casa, esperando a condução diária, a velha rotina em si mesma. Foi naquele dia que como de vez em quando, encontro uns tantos velhos amigos. Todo mundo descendo das firmas e construções, depois de um dia tenso e corriqueiro de trabalho. A proposta é a mesma e totalmente imperdível: rodadas de cerveja para amenizar as dores do dia. Aquele era um momento mágico, único e realmente de relaxamento. E era sempre o mesmo velho bar da esquina da rua de minha firma com a Sexta Avenida. Sempre foi bom desfrutar desse momentos com amigos leais. Nesse dia, porém, foi sugerido um outro lugar. Fomos para um outro bar maior, que ficava ali descendo a avenida. E para lá fomos, chegamos e sentamos. Um lugar aprazível, uma cerveja fantasticamente gelada. E toda nossa alegria pra falar da vida como sempre. Estávamos lá, quase em nossa 'quarentice' e sufocos do trabalho. Eu ria de algumas coisas e aborrecia meus amigos com aquelas ideias de um outro mundo é possível. Mas não me importava com as chateações deles. Permanecia com o que acreditava, embora meus amigos facilmente deixavam-se levar pelo o ouro que brilhava em promoções trabalhistas. Isso quando não me chamavam de contraditório: 'se tu não quer esses valores então porque trabalha, ganha esse dinheiro e bebe essa cerveja gelada?' Eu sorria e explicava pra ele que o trabalho e a cerveja não eram o problema em questão. O que o ser humano produz não era o sentido da coisa. O problema estava no dinheiro e no regime que dava sentido a esse tipo de relação. Aí eles faziam aquelas caras azedas e eu pensava se conseguiria ser entendido entre a embriaguez e o conhecimento estereotipado sobre posicionamentos. Ora, eu quero sim poder usufruir de coisas que eu produzo e que esmagadora parte da população mundial produz. Mas só minha vontade não basta. Eu preciso entender como isso é produzido. Em que regime de trabalho, quais condições de trabalho, quais relações comerciais. Eu pensava muito como todos meus amigos pensavam, mas de um ano pra cá, comecei a me questionar sobre essas e outras tantas coisas. E não vejo as saídas alardeadas por mídias grandes quando constroem heróis para todos. Se não é algo com todos, qual o sentido de uma ou poucas pessoas responderem por coisas que queremos e podemos fazer? Amigos. Cerveja. Eu gosto muito disso tudo. Mas meu copo parece ter esquentado. E um conjunto de zumbidos chegavam-me aos ouvidos. Eu continuaria na algazarra da festa improvisada. Mas minha mente continuaria ébria por esses caminhos que começavam a se desenhar. E as caras azedas não me assustariam. Mais um brinde, mais uma certeza de que compreender o mundo de outra forma e querer uma outra felicidade era uma postura sem volta. Saúde!

Renan Arthur Queiroz Ismodrev

Um terço de lembrança


Um soluço de solução
que faz perder o sono
que me fez canção,
verso e rima
pra quem reanima
os pedaços de saudade

E assim, antes do dissipar
me acusa a própria mente
como se fosse enlaçar
e deixar de ser num repente
plano ou vida
se estou ou partida
são meias verdades

Fizeste, mas não me apetece
outrora engasga, consome
mas o feito jamais se esquece
num martelar de seu nome
sigo em frente
ao teu ausente
de vidas metades

André Café

Sobre as histórias de acordar III haikai


Mais cinco minutos
é mito pré-dito
ponteiros palafitos

Só mais um poquito
sucinto, maldito
num doce repito

André Café

Sobre as histórias de acordar II


Como quem nevasse pelo tempo,
um suave decímetro, para um caos de frio
eu de gelo, só os cubos e arrepios

Vou flutuando, como que me caindo,
desvairado e sorrateiro pulo
no tácito corpo nulo

Um ríspido segundo e queda livre
da morte certeira, de coração em sangue pulsar
e as horas se tombaram no meu desesperar

André Café

Sobre as histórias de acordar I


Filetes de luz dando corpo ao telhado
um prumo amuado no desacordar
em desacordo de sonolência
pensando na insurgência
de se rebelar

Levanta-te obrigado ao servil
num senil passo torto
esguiado de ternura
mental na embocadura
de outro dia absorto

André Café


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

TOCADOR DE REALEJO


Com caderninho de papéis azuis
Tocava sons ilustrados de fábulas
de símbolos mágicos
com o místico do amanhã

O tocador de realejo
entoa sons
vestidos de fantasias
embebidos pela poesia
embalados na alegria
com pinceladas de euforia!

Savina Priscila

Eu, quando tomo café
penso: Quão amargo ele é!
Quão doce poderia ser
não fosse a acidez de viver.

Penso em quantos grãos,
quantos pés necessários
foram até chegar ao cume,
no esplendor deste negrume!

Então bebo vagarosamente,
degustando a fluidez opaca
na quentura, em sua cintilância
que transcende a ignorância.

Doçura, o amor ali submerso.
A bebida quente, negra.. misteriosa!
Se acaso bebes fazendo prosa
também não tardarás a fazer verso!


Ravenna Scarcela Angeline

Me abandone


Olhei o tempo e pensei que em alguma era passada alguém o reparou também,
Eles iludiram você...
Os dias escoam como águas resolutas e pesadas,
Estamos apenas enchendo nossa vida de coisas inúteis?
Reis da razão sempre guiados pela emoção e a dor.
Querendo sempre o papel de destaque mas sempre como coadjuvante na vida,
E aí vamos empurrados a receptáculos desconhecidos,
Apresentados ao... nada e ao tudo.
Rompendo nossas veias, espirrando o sangue de nossas mentiras,
O glóbulo de nossas máscaras,
Fugindo dos lagares de nossas mágoas e feridas,
Por um momento...
Regurgitando o que abominávamos,
Tecendo a teia de nossas veredas nesse fio tão frágil...
Busco-te entre as florestas da vida e te encontro numa caverna de Platão,
A escuridão te cerca e recusas a olhar a luz e viver,
Viver realmente e abandonar escuridão da ignorância e a massa que impera!
Me abandone sendo comum, antes que eu me abandone...


Marta de Paula

Fome poética


Não há fome no mundo que te devore,
que te decore com a primazia em perfeição
não há força no mundo que te passe aflição

É esse jeito insuspeito em surpreender
que me prende; faça-me prenda em tentação
como arte inacabada, atada em explosão

Foi todo o rodopio e ainda sobram sensações
canções de cores e olores a vontade
devora-me verdade, me versa em sucção

André Café


terça-feira, 19 de novembro de 2013

Cheiro da aula de voo do pavão na terra de cometas

Revista Emília

Viajei em um ônibus velho
e as velharias balançaram o meu corpo
enquanto a minha cabeça sonolenta
batia nas ferragens desparafusadas.

Suei como um menino saindo da febre
e os meus pés estavam recolhidos
como se reatassem a sua união ali
e eu permanecia com o corpo adormecido sobre o banco.

As minhas pálpebras guardavam um sol embriagado
e não sabia se pedia, para o café-da-manhã,
lua, estrelas ou o cavalo de São Jorge para cavalgar
entre a constelação da rota do pequeno príncipe.

Segurei a calda de algum cometa feito um vaqueiro
e segui firme e delirante para suspirar água bêbada
onde os olhos ficavam arregalados pelo vento das asas
das cidades soltas e sitiadas pela história do mundo debaixo.

Veio, de súbito, um freio pesado
e me acordou dos cometas, mostrando os olhares
dos que estavam quietos e com os olhos expurgados ao redor.
Desci tropeçando com o meu tênis sujo de outros mundos.

Eu tinha cheiro de pavão misterioso
e não me re-conhecia entre aqueles olhares carcumidos
até que algum espelho gritou ousadamente de longe
e me chamou de inumano quando avistou uma pena em mim.

Perdi o senso de ser alguém naquela viagem no ônibus velho
e eu sempre fui tão perdido e mais perdido estive entre os objetos
desse mundo de cá, do lado lá desse rio
que guarda os seus afluentes nos meus olhos vermelhos não-dormidos.

Sigo ávido pelas digressões de versos parados
porque versos parados não funcionam quando os mosquitos lhe tocam.
Há muitos alfinetes fincados nos cometas que queimam as penas
desses pavões desajeitados, desvalidos e com a feição de outros tempos
e mundos.

(Lourival de Carvalho)

Cordão umbilical.


Você nasce nu e morre só
e o que dói não é a solidão
é morrer afogado no amor
Que o outro derramou .

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Porque poemo, poemo por quê?


Eu planto um pé que te cabe furtar
a dor de quem pisa perto e apertado
tirando tiras dum fado profundo

Eu canto até que tu cantes comigo
abrigo abraçado e brando
nas brumas brisadas da ponta do mundo

Eu tanto que tento de tonto mergulho
me tolho no olho do espelho molhado
de lado, bem raso, no canto profundo

André Café

Porque poemo


E o meu amor levou poemas
pra quem não sabia cantar
uma voz pequena e rouca
num azul de marejar
trovejou palavras doce
que a fome ousou calar

O meu poema levou amor
para terras de tanto desafeto
não querendo vir a ser lei
só pensou no descoberto
que ali já havia poesia
na falta de um desperto

O meu levar ama poemas
e poema muito amor
não pelos olhos de poeta incompleta
mas sobretudo pela cor
que explode quando vi um riso de criança
e que dança quando vi o tiro da dor

André Café

Um preto poeta...


Em uma noite qualquer
De solidão conhecida, ele apareceu
Sem expectativas talvez
A conversa fluiu...
Falamos do dia-a-dia, da distância...
Falamos de música, poesia e flor...

Mas de repente, não mais que de repente...
Isso não era mais suficiente
Precisávamos falar de amor, de pele...
O que nos fazia bem era breguice sentimental!
Em pouco tempo, trocamos versos e gestos de carinho...
com estas peripécias de um conquistador barato, me ganhou.

Ele é simples como o vento
Não precisa de grandes esforços para me fazer feliz...
Ele me trouxe a surpresa do desejo repentino.
A distância se tornou nossa aliada
Pois sem ela, ele seria mais um
Aos pés de uma bela dama endurecida pela vida.

Ele é o meu preto poeta!
De delicadeza apaixonante
Sinceridade delicada
E energia reluzente ...
Meu preto vem de longe, pra me embriagar de beijos
E me drogar com seus carinhos...

E rogo a todos os santos para que ele venha pleno
Que venha cheirando a amor,
Rico em ternura...
Porque sei que ele é meu e eu sou dele
Pelo menos até onde o destino quiser,
E se o mesmo quiser seremos felizes até a próxima página...

Yara Silva


Eu nunca fui uma pessoa muito agradável.
Não é difícil arrancar sorrisos meus, mas eu não sorrio de uma piada sem graça só pra agradar o piadista como muitos fazem.
Eu sou uma pessoa até amigável, mas não de muitos amigos, isso todo mundo sabe.
Os meus são meus por livre e espontânea vontade. São poucos, mas sabem, sem desconhecer o meu pior, que o meu melhor é deles.
Eu não sou um ser que despeja simpatia.
Simpatia, assim como tolerância, são coisas que não devem ser desperdiçadas. Tem quem merecer.
Eu nunca fui uma pessoa muito ouvida, nem uma pessoa muito falada.
Nunca fui de demonstrar muito amor, mas até que sempre fui aconchegada.
Eu nunca fui uma pessoa muito repleta, nem muito vazia. Mas sempre fui muito ousada, o pouco nunca me fez companhia.
Eu não sou muito alegre, nem muito triste. Eu sou ocasional. Quase sempre sou apenas reflexo do que me causam.
Euforia, intensidade e amor são sinônimos de mim. Mas nem todo dia eu acordo assim.

- Samantha Carvalho

"caoseterno"


veja esta moça que observa – pela janela – a sua história
a moça que não esquece o engano que o tempo – senhor do fado – gerou
esta derreada moça que examina o seu passado em sua memória
e que não olvida o desalento que no vento outrora encontrou
em seu corpo ainda estão pregados os vestígios dos mistérios
que o destino – tão cretino – assentou em seu perturbado caminho
e ainda fez da sua trajetória uma composição de escárnios
transformando-a em um cálice farto do mais adstringente vinho
veja nela o retrato abstrato de um concerto insano em moscou
que em uma fotografia derrocada das suas teorias desatinadas
a imagem em preto e branco do seu intelecto em seu aspecto sobejou
porém não esqueça de apresentar-se com maneiras requintadas
pois ela traz consigo a suntuosidade das mulheres da belle époque
então converse com ela e a emocione com pronunciações quiméricas
para que seja possível naufragar nestes olhos com lágrimas em estoque
e compreender sua personalidade lúgubre em pessoais efígies coléricas

ao fim não esqueça de resguardar os bongôs que ela deixar pelo caminho
e quando ao longe observá-la contestando a sempiterna orbe capitalista
ou enamorando-se por poetas utópicos aos versos repletos de neblinas
recorde-se das duas poetisas que nesta época encontrou:
o ângulo bizarro de ginsberg
a faceta libertina de rimbaud

(Laís Grass Possebon)

Vento que balança as árvores e fortifica os caules
me calça os pés, me faz leve e voante

Me faço andante, dos andes aos pampas
à pampa eu vou sem soar dissonante

A frequência é única, cada túnica à uma pessoa
e se me pedes que nades nu ... aahhh, eu nado numa boa

Eu sou bóia nesse aaaahhhh - mar gigante
que não tem bordas nem beiras.

Haschi Faria

Bailarina do papel


– menina bailarina do papel
que fazes com esses olhos de mel
a fitar?
– poesias, versos e ventos, invento!
– sopras também, além de olhar?
– sobro, somo, e às vezes, sumo
voo pra longe, e me resguardo no silêncio

Haschi Faria e Nayara Fernandes

Diluição da dúvida


Eu fui um dia cidade do Amor. Estado de ternura. E país sede do sentimento, para receber milhares de borboletas no estômago. Ele desdenhou a passagem das vontades. Perdeu o voo do pensamento. Contentando-se com qualquer beco de afeto na vila fantasma da lembrança – o tempo não espera a diluição da dúvida.

Nayara Fernandes

Tempo das hastes


Nas esquinas do abandono nos encontramos. Nossos encontros acontecem nos peculiares abandonos. Abandonar a si é recrescer. Amadurecer um cadinho mais o ser. Florescendo macio com a mesma textura das rosas. As hastes necessitam de um tempo para ganharem formato. De vez em quando precisamos nos guardar no abandonar para renascermos como rosa.

Nayara Fernandes

Calor das batalhas


O bom de carregarmos a fé dentro – alimentando os sonhos e luzindo a Alma. É que, se hoje não deu, amanhã tem mais. Mais de mim. Mais de nós. Mais de tudo que é vivo, que nos aviva. Tudo que é novo, que nos renova. Mais de tudo que em Deus esbarra, e nos depara com aquele fio de esperança que não quebra. Mas aquebrata o desânimo, e nos prepara para colheitas próximas – o encontro com um novo começo. O saber do passo é o mesmo saber de que tudo passa no tempo certo. E a cegueira das angústias é necessária para enxergarmos a vida com os olhos do peito. Provocando os sentidos que nos sustém na fraqueza. E inovando o Amor (em nós) que surpreendentemente nos revela mais sobre nos nós mesmos. É o calor das batalhas que nos salva de um viver morno.

Nayara Fernandes

Do casamento orquestrado pela cigarra


A cigarra repousava ali perto da porteira
e, quando escutou as luzes dos olhos deles,
lançou uma flecha sonora que cortou a ida do dia.
E percebi o olhar da menina que tropeçava entre as belezas
Ela caminhava sobre os seus próprios sorrisos.

Percebi, de longe, que atrapalhou-se no próprio vestido
Mas a música de entrada era de novela e reabriu a praia
Envergonhando o mágico por ter a sua mágica descoberta ali
Vimos um mar sobre os pés deles dois.

As fotografias estavam penduradas por prendedores que apertaram
Os meus olhos pelos olhos encontrados deles
E que ficaram por ali perdidos, paralisados
Pelas belezas, pela elegância, pelo casamento sitiado

Estivemos no estado de exceção
Decretado pelo amor mais que bonito e de uma urgência
saltitante que dificilmente se pode achar

Torno a dizer que ali todos nós casamos
Mergulhamos profundamente nos dois
Fechamos os olhos e vimos aquelas luzes piscando sobre o universo
Desconhecido, apaixonado e seguro dos novos rumos

O banquinho abarcava os dois corpos protagonistas
Que melodiaram a nossa imaginação
E nos trouxeram sonhos de longe
Que me fez cantar, e cantei

Sempre quis ser cantor
E fui cantor ali
Cantei junto à cigarra que cortou a hora
Que celebrou a chegada de algo

Enquanto todos silenciaram
De olhos fechados, ficamos apenas
Eu e a cigarra
Que, de tão ousada, cantou sozinha
Forte, intensa e misteriosa

A cigarra encerrou a noite.
Ninguém percebeu.
Apenas eu, o cantor imaginário dali,
E os inúmeros suspiros que implodiu cigarras por todos os lados.

(Lourival de Carvalho)

Não é o fim


Saudades do teu sorriso, da tua atenção, das suas mensagens...
A sua amizade é um prêmio sem preço.
A nossa relação transformou tudo em mim.
Como era bom ter você ao meu lado.
O seu desprezo me faz sofrer.
Quando me lembro das nossas prosas só quero chorar.
Simplesmente te amei e continuarei te amando até os últimos segundos da minha. existência.
Eu sei que lá no fundo você também me ama.
Um dia seremos parceiros de brilhantes trovas.

Autor: Dhiogo José Caetano

ParaNoia


Aboletou-se no peito,
Olha o espelho,
Olhos no espelho,
Olhos fundos grudados na cara barbada,
Alucinógenos usados como fuga.
Dedos amarelados,
A chama do cigarro aceso
É a única companheira,
35 goles de cachaça, 42 cigarros,
545 tragadas, um soco no espelho.

Monólogo entre quatro paredes,
Respostas caladas,
Gargalhadas que ecoam na cabeça
Saem pela boca,
Risos zombeteiros,
Risos histéricos,
Risos desesperados.

Cacos de um Santo Barroco
Espalhados pelo chão,
A fé,
Fé nas mãos,
A fé despedaçada no chão.

Cores vivas
Ferem os olhos mortos,
Acostumou-se a penumbra.
Cores mortas
Afagam os olhos cansados.

Cabeça transformada em labirinto,
Medos entrelaçados
Acordam, renascem
Na paranoia gritante.

É a culpa,
A culpa que corrói,
Destrói.
A vontade é de arrancar o coração
Usando as próprias mãos,
Come-lo,
Come-lo com devoção
Mastigar cada pedaço,
Digeri-lo,
Digeri-lo ate transforma-lo
Em uma víscera qualquer
Que não seja essa.

(Morgan)

Como posso te esquecer? Como?
Plantado está em meu peito,
raízes frondosas fincaram-te aqui e agora pensa em arrancá-las?
Não sei se hás de conseguir, apenas sei que dói a tua indiferença,
Ela machuca ainda mais a ferida aberta que deixaste amor...

Marta de Paula

Líbelula


Um som estranho quebrava o silêncio.
O relógio marcava nove horas e quarenta minutos.
Entre luzes brandas o brilho de um ser que voava de um lado para o outro.
O clarão ofuscava a minha visão.
Como um anjo, uma bela libélula pousou na minha mão.
Fascinado com tão majestoso momento, fiquei extasiado.
Um sentimento de liberdade me fez voar nas prateadas assas da incomparável libélula.
Ficamos em plena harmonia.
Quanta paz.
Mas sabia que no momento certo ela partiria.
Ao fechar e abrir dos olhos a criatura desapareceu na infinita escuridão.
Quem sabe um dia aquele ser reluz novamente na minha vida vazia.

Autor: Dhiogo José Caetano

NOITE-SE-A


ruas e nucas
levam ao aconchego
horas sempre pretéritas
desgastando o tempo.

aqui dentro verniz
adocicando insônia
olhos pesam a cama

luzes violentas
apagam a cidade
contra metragem

olhos esbugalham
vazio em lua
- aqui estou dentro da janela-

noite para-l-ela
já calo,
e durmo
se-n- ti.

Yana Moura

Textura


Carne e transa
Costurando o corpo
Moldando colchas
Esculpindo a boca
Barro e mãos
Quadro e versos
Arte e voz
A poesia gotejando
Pinto as mãos
Engulo os dedos.

Yana Moura

Há espaço na vida¿


A essência da vida é milimetrada, pesada em balança de precisão atômica
pensada pelos maiores pensadores que esta Terra há de comer.
esmiuçada, desnudada, decodificada nos maiores centros genéticos
no Projeto Essência

Estruturada pelos maiores arquitetos
Corporificada pelo mais puro conhecimento biomédico
Veste Prada, toma coca-cola, quer carro e casa
E escreve cartas existenciais ao pubmed

Multiplicada aos montes mais íngremes que a Terra já viu
reproduzida em cada corpo industrial
E espalhada ao mundo, tal como a esperança
a esperança muda, surda,
a esperança dos outros
no mundo dos outros

Manoel Guedes de Almeida
Teresina -09/11/2013

Eu fui


Sou universo
Sou mulher
Sou mar, sou terra
sou pura água
Digo...
sou mulher
sou fera.

Sou bicho-homem
imundo, carniço
sou vestes que desnudam
sou palavras miúdas
que o tempo se encarrega de esquecer.

(Raíssa Marcelli)

Você Está Desperdiçado!


Quantas foram as vezes que ouvi: “você está desperdiçado aqui, você precisa ir embora, procurar um lugar melhor...”
Qual é o lugar melhor? Sou cidadão como qualquer outro, tenho o direito de ficar na minha sociedade de origem. É preciso levar em consideração o livre arbítrio.
Procuro sempre oferecer o meu melhor, na busca por um lugar ao “sol”. Evitando a priorização do capital, objetivando a difusão de uma mensagem que liberta os oprimidos pelo sistema.
Não pretendo cultivar o ego e sim a arte de expressar em palavras a simplicidade, os versos, os poemas que de mim e de todos afloram a cada segundo da nossa existência.
O meu objetivo é continuar a caminhada em direção do ensinar e aprender, pautando o meu melhor, traçando como meta a construção de uma trilha marcada pela sabedoria.
Buscando escrever em nome da nação humana, pois os dias passaram, a vida passará e todos nós morreremos, mas não podemos permitir que a nossa existência passe em branco, assim utilizarei a literatura para trabalhar a cidadania, a moral social; representando o “povo”, os “bestializados” dentro do sistema.
Em versos, narro à esperança de uma humanidade que clama por paz. Reflita sobre o legado que recebemos do uso que dele fazemos e o que faremos no futuro. Pensamos hoje: um mundo justo para todos!Um lugar de paz, igualdade, fraternidade e liberdade.
Sei que não posso mudar o mundo, mas posso fazer a diferença. Quero ser um empreendedor das ideias, difundir uma mensagem que liberta e conscientiza. Não importa a dimensão conquistada, pois se a mesma tocar uma pessoa estarei feliz; tornando concreta a minha missão.

Autor: Dhiogo José Caetano

Decepção


Hoje lamentavelmente todos os meus planos foram desfeitos, segundo os desígnios da vida.
É muito forte o que estou sentindo, mas preciso sobreviver.
Já enfrentei diversos tsunamis e sempre encontrei o caminho para recomeçar.
Fiz tantos planos, mas a vida desconsiderou os mesmos.
É preciso aceita que a vida tem vida própria.
Não estou triste, mas procuro refletir o que a vida planeja pra mim.
A dor pode até tortura a alma, mas trás consigo a oportunidade de evoluir.
Enfim, toda dor vivida é necessária para o progresso da criatura.

Autor: Dhiogo José Caetano

Amor subterrâneo


Encontrei-me perdido em uma tarde, sentado em algum desses cafés burguês da zona leste da cidade, apreciando a pobreza e o vazio dessa gente hipócrita, meditei. Enquanto isso, bebericava meu vermute, em súbito, flagrava-me rindo as alturas, diante da solidão em branco, foi quando então vi alguém chamar meu nome. Virei-me e dei com os olhos em Fabrício, frisei a vista, para então poder ter certeza daquela aparição inusitada. Cumprimente-o com um forte abraço e longo também. Há quanto tempo não o via, aqueles olhos verdes, pareciam ser a visão que nunca mais teria em vida, mas fui contemplado com tal graça plena. Nem acreditava naquele vão encontro. Tínhamos sidos grandes amigos na adolescência, compartilhávamos gostos estranhos e grotescos. Anos a fio e ele ali, diante dos meus olhos, como era bom tê-lo de volta. Mas havia uma angústia em seus olhos, uma angústia que gritava em agonia. O que havia ali, que gritava por socorro? Indaguei-o sobre tal tormento. Ele que quase em sussurro falou: “Aqui não”. Compreendi de imediato que a nossa conversa tinha de ser em particular, em um acordo sonoro entre a minha voz e a dele. Fugimos dali. Passeávamos de carro, por aquela avenida com nome de santo. Senti o peso entre o silêncio de nós dois, ainda sim continuei calado. Conduzi o veículo até o destino final. O chofer levou o carro embora. Ao entrarmos no elevador, vi que suas mãos estavam suadas. Parecia um sufoco, nosso silêncio nos deixava em asfixia. Estávamos então na cobertura daquele hotel de burgos, a vista era esplêndida, a avenida frei serafim fazia então alusão ao corpo humano, ela era então a veia e nela circulava os carros e seus faróis vermelhos, era tão automático aquele fluxo contínuo. Foi quando assustei-me ao ver Fabrício, seus olhos era lágrimas que percorria toda a sua pele e desaguava aflita. Hesitei ao querer tocar seu rosto, ainda sim o fiz. Minha mão era então navalha, ele sangrava por dentro, meu carinho era um corte lento, sem cicatriz. Sua voz me saiu como melodia, eu já distante de tudo o que houvera conduzi sua mão ao desejo mortal. Ele disse que me amava na língua húngara e aceitou o convite. Diante de nós havia um mundo, um abismo sem freio, ao qual nos atiramos. Fez-se dois corpos, uma só alma. Tudo parou, o trânsito, a veia e só!

Ítalo Lima (04/11/13)

"Ela está morta
Sua carne está desfalecida
No fim da tarde
Ela não estava mais lá
Seu algoz, bebeu seu sangue
Trouxe a desilusão e a dor
Para junto dela

Hoje ela não vai chorar
Ou ficar em alerta
Ela vai apenas descansar.
Mas ele, está chorando
Mas não por muito tempo
Ele já está a procura
De uma nova moça...

Para jurar amor
Compreensão ..
E uma proteção suspeita
Ele dirá que a ama
Que o que ele faz
E excesso de amor...
Um amor que sangra

Um amor.que fere
Que humilha e dói
Em poucos dias
Será apenas medo!
Assim ele segue
A ser dono, algoz
Caçador!

E todos os dias
Ela reza,
Ela pede,
Pela morte dele
Pelo fim desse cativeiro
E assim segue a vida
Sofrida,doída fria
De uma mulher brasileira
Qualquer, que sobrevive
A dor de se perceber
Mulher!

Yara Silva

Novembro

Tata Frey

A origem de tudo...
A celebração do fim.
Os mortos são lembrados, a saudade se renova e a esperança se aflora.
Estamos atônicos, mas acreditamos na proclamação da vida e do amor.
A nação se interage, um movimentar homogêneo.
A consciência negra se faz branca, pois tudo transforma em prol do bem.
A república Brasil não é mais a mesma.
Em meio à complexidade dos acontecimentos o meu nascimento.
O fim também é um recomeço.
Pensemos que nada acabou tudo se inicia nas manhãs de novembro.

Autor: Dhiogo José Caetano

Acreditar no amanhã
Não é esperar que tudo aconteça como você quer...
É fazer do seu hoje um dia melhor
É ver dentro de si, a capacidade de construir o sorrir...
Respirar fundo e sentir a vida pulsar!
Entender que o milagre da vida consigo mesmo(a) já está
... "Pro dia nascer feliz!"... Florir a alma com aroma, flores e cores
Jardinar o coração incansavelmente...
Reger as melodias que inspiram danças e amores...

Adália Tov

Elemento neutro


Uma integral do produto interno entre eu escalar você
uma integral na linha direta entre nossos dois corações
uma integral definida em todo o traço real do nosso olhar

Igual a zero,
metade por cima, metade por baixo
porque na cama todo homem se entende

Deus, perdoai, vamos pecar!
(engulo a tequila)
a doce matemática me puxou pro canto das demonstrações,
canto escuro onde cabemos, dois elementos
um neutro e o outro, não tão sóbrio

Júlio F. Sousa

LA ANARQUÍA


Eu amo a destruição
Desbravo o material
Choro na contradição

Encanto-me no surreal
embriagando-me com o mais puro tonel de liberdade

O X que utopiza-se ali no horizonte Galeano
chegando mais próximo ano após ano
Até parece vaidade
mas é simplesmente necessidade

Horizonte...
Horizontalidade...

Palavras perdidas
Palavras vividas!

Por onde andam aqueles sonhadores?
Por onde andam aqueles pensadores?

Em frases marcantes o velho homem já dizia
A beira da forca repetia:
VIVA LA ANARQUÍA

Miguel Coutinho Jr.

Particularidade


Medo
Voz
Fala
Dor
Um medo
Uma voz
Uma fala
Uma dor
Ilusões
Pensamentos
Achismos
Idealismos
Quantas ilusões
Quantos pensamentos
Quantos achismos
Quantos idealismos
Os conflitos de um único indivíduo.

Autor: Dhiogo José Caetano

Mendigo


Sou um pobre mendigo, mendigando de amores.
Quando o encontro, meu coração pulsa rapidamente
e no momento até penso que vou morrer, de tanta emoção.

Ai como é ruim não saciar minha fome de amores de amor por você!
Chego a questionar-me, por que não consigo me saciar de você?.
Antes que o dia acabe já começo a sentir sua falta.
Ai coração impiedoso que me machuca, que dilata meu apetite por você!
Ai como quero você! Ai como te quero tanto, que chego a enlouquecer.

Maria Catarina de Sousa.

Sentimento confuso


As vezes me pego pensando em algumas pessoas que tenho raiva.
Fico refletindo se é possível que esse ódio vire amor ou o amor vire ódio.
O amor e o ódio são sentimentos próximos.
Então digamos que por trás do amor exista um ódio ou por trás do ódio exista um grande amor.
É, definitivamente os sentimentos são extremamente confusos.

(Amar alguém não é só simplesmente falar EU TE AMO.
Amar verdadeiramente é quando nós nos preocupamos com o bem estar da pessoa amada, compartilhamos nossos momentos com ele(a), ficamos ao lado nos momentos mais difíceis, somos verdadeiros e sinceros.
Amar não quer dizer só fazer sexo, amar, sentir amor é também conversar é ser amigo, ser o melhor amigo. “amor todos nós sentimos, amar nem todos nos sabemos”.)

Maria Catarina de Sousa.

Arquivo Mórbido


Entre folhas, páginas, blogs...
A notícia que devasta a alma.
Como dói!
O meu psicológico fica em transe.
Por que comigo?
Só quero ser seu amigo.
Ah se eu pudesse transferir o que sinto por um instante.
Com um simples toque projetaria em você a morbidez que assombra o meu ser.
No olhar a minha verdade, no dia a dia a esperança retratada no discurso, na fala.
Estou completamente despido diante do seu olhar.
Observe as chagas, as feridas presentes na minha alma.
Melancolicamente sinta a energia que este arquivo provoca no meu ser.
Misericórdia desta criatura.

Autor: Dhiogo José Caetano

Triste Lembrança


Esvai-se oito meses, mas a dor ainda é constante.
Fico sem alento, ninguém pode imaginar o sofrimento.
A minha alma em gritos, clama por paz.
O que fiz para merecer tanto sofrimento?
Perdoa-me, não fiz por mal.
Pretendo semear o amor, a vida, a verdade...
Deleta estes arquivos que me faz lembrar daquele passado presente.
Quero esquecer, quero simplesmente viver.
Desculpa-me!

Dhiogo José Caetano

A dor pode até tortura a alma, mas trás consigo a oportunidade de evoluirmos. Toda dor vivida é necessária para o progresso da criatura. O remédio para todos os nossos problemas está dentro de nós. Cada indivíduo guarda dentro de si parte do segredo do existir.

Dhiogo Jose Caetano

Tudo que Resta


Quando cheguei o Anjo Torto partiu
Dez meses depois do meu primeiro choro
Fiquei com sua vaga lembrança
E vaga ainda vazia
Pela "A Rua" da imaginação
Um pouco do que ele deixou

É tudo que tinha
É tudo que resta
É tudo que presta

Andei pelo "Jardim da Noite" a sua procura
Encontrei só a partida
Bem na entrada
No meio da loucura, descompreendida
Sua face , iluminada

Ari Veras

O Afeto


Frescor de um amor
Novo, passado, breve
Sempre nos dá ânimo
Para reagir aos meleficios da vida
Breve seja a dor!
Leve só o que for belo
Cante e queira
Que seu amor seja sempre singelo!

Jamile Di Castro

El Niño


Nos murmúrios de suas serras
derrete-se o sal das trovas
chuva por trás dos olhos
nuvens em suor, nimbos do cio.

Cai a tempestade,
abro a boca
Goteja em carnes
latência e sol
cheiro de terra molhada
pacífico em mim.

Yana Moura


Ao som de Zeppelin
Escrevo, apago, acendo mais um cigarro
Memórias de outrora já vivida
Em tantas vidas
Tão viva
Essas memórias
Sentado uma taça de vinho ao lado
Refresca minha cólera
Inundando a mente cegamente
Eloquente, entorpecente
Sinto a nefasta mão do tempo
Segurar meu ombro
Avisando que a hora já chagara
Partir em busca do desconhecido
Mundos paralelos me esperam
Para serem explorados
Novas terras, novos ares
Sempre os mesmos velhos lugares
Quando a música acaba
Tudo volta ao normal
Infeliz de mim que tinha apenas cinco minutos e trinta e quatro segundos
Pra escrever esse poema
O Zeppelin já se despede
E com ele minhas palavras
Quem dera estivesse escutando alguma música
De vinte e poucos minutos
Daria mais tempo pra terminar a minha aventura pelos
Mundos paralelos
Quem sabe em outra canção

Halysson Arrais

Levita


Parece que o mundo se acaba
Como se a vida não fosse viver
Onde a vontade desagua
Desce úmido o prazer

O desejo ateia fogo e os olhos veem tudo
Vendo revirado
A dor geme no afago ofegante
Nu o corpo em febre, abraçado

O paraíso é pecado
E o céu vira inferno no instante
Um corpo no outro desmaiado
E a vida se revela em excitante

Ari Veras