segunda-feira, 18 de novembro de 2013

"caoseterno"


veja esta moça que observa – pela janela – a sua história
a moça que não esquece o engano que o tempo – senhor do fado – gerou
esta derreada moça que examina o seu passado em sua memória
e que não olvida o desalento que no vento outrora encontrou
em seu corpo ainda estão pregados os vestígios dos mistérios
que o destino – tão cretino – assentou em seu perturbado caminho
e ainda fez da sua trajetória uma composição de escárnios
transformando-a em um cálice farto do mais adstringente vinho
veja nela o retrato abstrato de um concerto insano em moscou
que em uma fotografia derrocada das suas teorias desatinadas
a imagem em preto e branco do seu intelecto em seu aspecto sobejou
porém não esqueça de apresentar-se com maneiras requintadas
pois ela traz consigo a suntuosidade das mulheres da belle époque
então converse com ela e a emocione com pronunciações quiméricas
para que seja possível naufragar nestes olhos com lágrimas em estoque
e compreender sua personalidade lúgubre em pessoais efígies coléricas

ao fim não esqueça de resguardar os bongôs que ela deixar pelo caminho
e quando ao longe observá-la contestando a sempiterna orbe capitalista
ou enamorando-se por poetas utópicos aos versos repletos de neblinas
recorde-se das duas poetisas que nesta época encontrou:
o ângulo bizarro de ginsberg
a faceta libertina de rimbaud

(Laís Grass Possebon)

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