sábado, 30 de novembro de 2013

Eu comecei a ver


Eu  estava a caminho de casa, esperando a condução diária, a velha rotina em si mesma. Foi naquele dia que como de vez em quando, encontro uns tantos velhos amigos. Todo mundo descendo das firmas e construções, depois de um dia tenso e corriqueiro de trabalho. A proposta é a mesma e totalmente imperdível: rodadas de cerveja para amenizar as dores do dia. Aquele era um momento mágico, único e realmente de relaxamento. E era sempre o mesmo velho bar da esquina da rua de minha firma com a Sexta Avenida. Sempre foi bom desfrutar desse momentos com amigos leais. Nesse dia, porém, foi sugerido um outro lugar. Fomos para um outro bar maior, que ficava ali descendo a avenida. E para lá fomos, chegamos e sentamos. Um lugar aprazível, uma cerveja fantasticamente gelada. E toda nossa alegria pra falar da vida como sempre. Estávamos lá, quase em nossa 'quarentice' e sufocos do trabalho. Eu ria de algumas coisas e aborrecia meus amigos com aquelas ideias de um outro mundo é possível. Mas não me importava com as chateações deles. Permanecia com o que acreditava, embora meus amigos facilmente deixavam-se levar pelo o ouro que brilhava em promoções trabalhistas. Isso quando não me chamavam de contraditório: 'se tu não quer esses valores então porque trabalha, ganha esse dinheiro e bebe essa cerveja gelada?' Eu sorria e explicava pra ele que o trabalho e a cerveja não eram o problema em questão. O que o ser humano produz não era o sentido da coisa. O problema estava no dinheiro e no regime que dava sentido a esse tipo de relação. Aí eles faziam aquelas caras azedas e eu pensava se conseguiria ser entendido entre a embriaguez e o conhecimento estereotipado sobre posicionamentos. Ora, eu quero sim poder usufruir de coisas que eu produzo e que esmagadora parte da população mundial produz. Mas só minha vontade não basta. Eu preciso entender como isso é produzido. Em que regime de trabalho, quais condições de trabalho, quais relações comerciais. Eu pensava muito como todos meus amigos pensavam, mas de um ano pra cá, comecei a me questionar sobre essas e outras tantas coisas. E não vejo as saídas alardeadas por mídias grandes quando constroem heróis para todos. Se não é algo com todos, qual o sentido de uma ou poucas pessoas responderem por coisas que queremos e podemos fazer? Amigos. Cerveja. Eu gosto muito disso tudo. Mas meu copo parece ter esquentado. E um conjunto de zumbidos chegavam-me aos ouvidos. Eu continuaria na algazarra da festa improvisada. Mas minha mente continuaria ébria por esses caminhos que começavam a se desenhar. E as caras azedas não me assustariam. Mais um brinde, mais uma certeza de que compreender o mundo de outra forma e querer uma outra felicidade era uma postura sem volta. Saúde!

Renan Arthur Queiroz Ismodrev

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