terça-feira, 30 de dezembro de 2014

O psiu de cada dia, não nos dê hoje e nem amanhã


Penso que a luta não vai acabar nunca.
Que as mulheres são fortes, mas tal força é capaz de mudar comportamentos como esse?
E penso nas mulheres que pensam o mesmo que eu.
E me sinto mal por quase perder a esperança.
E penso em um possível estupro que possa acontecer.
E penso que já sou violentada antes mesmo.
E penso que quero cuidar dxs minhas/meus irmãs/irmãos que passam por isso que eu também passo.
E penso que eu tenho que pensar.
Pois eu to cansada de ignorar.
Penso que tenho que por ora me relembrar que eu não sou coisa a se brincar.
Me dá seu apoio, irmão.
Não me dê "psiu".
Você não precisa disso.
Eu também não.
"Vem cá", sua violência verbal quebrou minhas pernas.
 Cegou meus olhos.
Mas eu posso te ajudar a enxergar ainda.
Que o machismo não vai te ensinar a caminhar.

Dandara Cristina

De madrugada, a gente questiona 4


O corpo cansa,
pede passagem pro sono

É, não há o que fazer com os passos da vida
mas nunca me colocar irei nos quadrantes impostos
do ser velho, jovem ou invisível

Tenho as limitações, que não delimitam o que sinto
e apesar do torpor palafito
o que fito de tudo que envolve você
repito, sonho e acordo neste rito
de nunca cansar de sentir e expressar:

Amo e nenhuma madrugada morta
dessa minha vida torta
fará me transportar
pra outro lugar

Amo, intensamente soul de amor
por você, raivas e risos
sem avisos e pré-ditas
de tua bendita e linda existência

André Café

haikai de Danda 2 - Madrugada


Antes, éramos sono
agora, que a noite demora
pro não abandono

Entre ligações
amor, afeto em ardor
infinitas porções

Pedaço do mundo
antes, fui o que sou distante
e hoje profundo

Tu, que és poesia
gira, ao passo que inspira
versos e melodias

André Café


Estradas perdidas do mundo do Ar VI - São outros caminhos


Sempre poderia acontecer,
nesse desaviso, o vento foi inconstante;
as rédeas pressentem tempos quentes
e surgem caminhos; antes, distantes

Não há razão para prisão;
talvez para o medo do estranho,
mas vereda achada já se faz destino
prum menino cansado de ser urbano

O traçado levará para mais incertezas
segundo a vida que querem vivê-lo pré-diz
no instante, o voo é o único aprendiz
pra quem apenas rodopia, torto e feliz

Pelo vento, possibilidades e mormaço,
pelo amor infinito, afeto e abraços
no sorriso sem laço
que descompassa o coração

Estradas vem e virão
pois andamos e vamos em mergulho
é força, o que foi e o que será
no semear de nova rotação

André Café




Sonatta rara do amor de Danda


Nem todo caminho se percebe;
punhado de passos e eis: cá estamos
olhando pra vida e para o que acontece
nos traços juntados que nós criamos

E são contos de tempo e estradas
e são tantos de espera; e ficamos
pelo repouso, já somos moradas
uma no outro, nos ressignificamos

A lembrança mareja saudades
da suave e sublime bondade
que emana de teu todo sereno ser

Cá estamos noutras tantas cidades
nada teme, pois já se faz verdade
uma no outro, o amor e o amanhecer

André Café

sábado, 27 de dezembro de 2014

A ruivinha

A ruivinha...

Às vezes, quando somos crianças, lançamos com esmero e apuro incomuns nossos olhares para situações as quais nos deixam curiosos e prendem de verdade nossa atenção. Eu me lembro com saudosa memória de um passeio que fiz aos 4 ou 5 anos de idade com meu pai, por uma rua próxima a minha antiga casa.
Havia movimento na rua, estávamos andando pela calçada do lado da direita e lá na calçada do lado da esquerda eu avistei uma menina mais ou menos da minha idade; ela tinha um toque todo especial: era ruiva! Muito ruiva!! Eu deixei de prestar atenção em qualquer outra coisa para me ligar àquela pessoinha. Instantes mágicos se passaram num piscar de olhos, num pestanejar.
Depois, em outros passeios, vim a descobrir (por conta própria) que a menininha era filha da dona de uma butique que ficava ali próximo, naquela rua mesmo. E eu adorava quando saía a passear com meu pai ou meus irmãos e avistava a butique, só para olhar e flanar aquela menina! Eu tinha 4 ou 5 anos...
Uma vez, estávamos indo na calçada em direção ao mercado do bairro, aquela espécie de feira livre que existe em todo bairro que se preze. Aí eu a vi! Ela vinha na mesma calçada, na direção de nós. Mal pude me conter de encantamento. Quando ela chegou perto, eu peguei na mão dela e fiquei só olhando, encarando-a, de frente, como se fora um flerte infantil! Ela tinha sardas e um sorriso lindo, olhos meio puxados e castanhos claros. É, e é tudo que me lembro daquele encontro que ficou guardado na memória.
Foi o primeiro amor e o amor a primeira vista!
Depois disso, nunca mais eu seria o mesmo. Entontecido e extático, em êxtase, fiquei com aquela cena na lembrança, marcada para sempre em meus pensamentos.
Talvez por isso, a mulher que mais amei, já quando adulto, foi uma ruiva.
E também o meu “santo” bateu com o dela!
Ela me atraiu de imediato, não pude resistir. E fiquei com aquela moça no pensamento...
Será que era ela? A mesma menininha ser aquela moça.
É uma lembrança que trago vívida na minha mente.
(Para Márcia Micaelle de Sá Leal)


João Paulo Santos Mourão

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

De amor mais linda

"Protagonistas" (Rua 13 de maio, centro de Teresina/PI) 
Créditos: a partir de mim


O corpo vai chorar,
pra deixar alma lavada
pra lembrar pessoa amada
viva o amor, viva o amor
que não se mede no tempo.

Que não se mede no tempo,
e não cabe no espaço.
Só cabe num abraço:
sede por amor, sede por amor,
em doses generosas.

Em doses generosas
espalhe-se em tantas quantas
pra mostrar que adianta
ser bem mais que ser sozinha.
Viva o amor, viva o amor.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Não cabe em si


O gosto;
mas num só não se cabe
apenas te quero
pois desde já, me tome

Flutua arrastando o tempo
mas mesmo assim os dias, horas
afora, o mundo em riste
nos tiros de realidade

Contanto o peito, invadido do calor,
escuda-me felicidade

O riso cor de luta
o aroma cor de fúria
coração num abraço
todos carinhos
em que me estilhaço

André Café

Brisa das onze horas


Na madrugada, o vento chega
despindo minha solitude em desejo
teu beijo carregado pelas monções
teu cheiro em sopros sutis

Há tantas distâncias
e em todas danças, abstraímos
sentimos, como se lado a lado,
o abraço apertado de saudade

Amamos pois, existimos,
por todos esquadros de afetos,
em liberdade

André Café

Mãe, eu sou anarquista


Mãe, não tenho culpa pelos meus olhos sobre o mundo
pelos meus picos de depressão, pelo meu choro fácil
ou pelos tantos pontos de engarrafamentos de Teresina,
entre o abafo e o mormaço nada sutis

Não tenho culpa, mas quero demais fissurar
o número maior de repressões e existentes
eu quero amor sem os olhares sociais criados e criaturas
e tudo que quero, infinitamente venha para todas

Mãe, não é não querer me engravatar
é uma máscara que não me cabe
e se forçada, irá trincar e perecer tudo que sinto
e vai e distanciar de mim, de você e do mundo

Não mãe, ainda tem rotas de fugas
ainda que quase sempre com sua ajuda
e o seu apoio, apesar dos pesares

Mãe, eu quero apenas um mundo circular e horizontal
quero outros tempos, poesia no jornal
ter e ser colo, querer e compartilhar saberes
a toda hora e a todo momento, é disso tudo que falo
o meu ser assimilou e não se rasga mais do que hoje sou

André Café

Haikai de Danda


Se sonho fosse
seria daqueles sem dia
sem que o tempo passe

Mas é realidade
rara beleza Dandara
que todo meu ser invade

André Café

Amor livre


Livre, porque se expande
não há limites para o sentir
pois nossa liberdade tende ao infinito

Será doce ou quente, discreto ou rompante,
na vontade compartilhada dos pares e ímpares
somos amor com toda intensidade,
carinhos, carícias e muitos desejos
até quando quisermos
na medida que nos descabe
dure o tempo permissivo
pra que esse amor não acabe

E na vontade de cada uma ou um e tantxs
se espalhar, sentir, alvorecer

ou não, e tantas outras coisas

André Café

Foi no abraço


Dentro de mim
um universo inteiro
que tinha a ideia
de ter todo o calor possível
de conhecer todos os apertos
apreços e apostos
feliz no seu conforto
de sistema em equilíbrio

Um abraço; quase sem fim
um momento; colisões de galáxias e saberes
entropia; suavidade
um pedaço de cada mundo no outro
o ressignificar explícito
a minha felicidade na outra
tendendo ao infinito

André Café

Meu bem


Quando a canção
chama pelo presente
nos versos que correm o vento
me acalmam todas as brisas

Pra ver o sol e o mar da sombra
de qualquer lugar de canto do mundo

Sentir as ondas, o ardor da areia quente;
o sabor do beijo iminente

Num espalhar livre, intenso e expansivo

Faz-me maresia menina
que vou aí, me flutuar
pra ser e ter o bem
no sonho, real e quiçá

André Café

Rebuliço


Um rebuliço;
pois a vida que seguia
era um ameno súbito
de calmaria

Todavia calmo tanto quanto mórbido
em tácitas dúvidas que se cristalizam

Amenizavam assim, cortando
mas no espaço que gira
cabem todas as direções
num desviro, vi meus pés sobre estrelas
o piso no canto escondido rompido
nem deu tempo de saber
que me encontrava mergulhado em você

E quando soube?
TCHIBUM!!!

André Café

Pé de caju


A mandala se abre
pra abraçar novos mundos
compartilhando seus saberes,
espaços e subjetividades

Em suas paredes o convite,
para o risco e o rabisco
sobre o chão, a certeza
do descanso improvável
donde toda brisa faceira é rainha
e que todos os dias são domingos

Mandala abrigo
lugar de quimeras e sossego
sou tudo o que vejo e o que será;

No alto do cajueiro,
moradas de duendes
daquilo que a gente entende
que sempre no faz sonhar

André Café



Beira da calçada do mundo


Sentado na beira da calçada do mundo
um verso preso
no instante do banho de sol;
corta vento, tudo que impede
a poesia correr livre pelas esquinas

Nesse desconectar de nuvens e brisas
sinto o desfibrilar das palavras
e no tempo de um segundo
amanhece também o poema
pra falar daquele problema
esquecido na beira da calçada do mundo

André Café

Resiliência


Quisera eu não ter provocado
tanto e tudo ao mesmo tempo
Não que o choro não possa mais ser compartilhado
e o presente queira ser um passado esquecido

Eu e minhas falhas, do crescer ao compreender
entender de metabolismo e história,
mesmo na falta de memória.
o meu desejo não é semear tristezas
nem ser o porta-voz de infelicidades

Cá desse lado, a saudade reside
mas o dia amanhece num riso
e deste riso, tomarei como meus passos
não pra dizer: faça como eu faço
mas para que um dia tudo fique bem
com lembranças das coisas boas,
para anoitecermos livres e com paixão

André Café


A poesia que desperta no final da tempestade


Neste tempos mesmo de calor
nessa nossa cidade de sonhos, fogo e fúria
tangente ao giro de cada dia, nem tão secante, tampouco inverno
tempestades aparecem a fio
para cada filha e filho escolhido por acaso
casos; delitos; desconstruções
a convicção hasteada, no turvo vento e turbulência
respigam forte o medo, o destempero e o receio
centelhas de versos virão

d'alma livre, restou o voo
a sombra que de delicia nas poças de fim de tarde
farão ressurgir, ressignificar o novo ser
não disperso do que já fora, mas tentando nunca não ter e ser
num pedacinho de alvorada

caem tempestades e desamores; somem o tempo,
querem esquecer reminiscências
mas da nossa essência, empatia, afeto e afagos;
o amor é bem mais simples e tenro
do que qualquer sereno cobrindo o liberto
aos olhos do mundo
colírios colibris
provocando o desejo mais profundo
ser livre e existir

André Café

Ladainha de liberdade




Se te prendo num beijo,
Logo deixo soltar.
Seja livre pra amar,
e amar e amar.

Se te quero num instante,
Logo, logo vai passar.
Seja livre pra viver,
e viver e viver.

Se te busco incessante,
Logo paro procurar.
Seja livre pra mostrar
o melhor que há.

Seja livre, passarinha,
Pra voar voar.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Vicissitudes da Vida



Vinho na praça, gelo no copo
Mais um casal que passa
Pela calçada dos bêbados tortos

Vejo as crianças que brincam
Entre os jovens que viajam
Em conversas e músicas,
Entre beijos e abraços

Embriago-me de vinho, de poesia
Virtudes e (por que não?) de amor,
Tal qual mestre Baudelaire
Um dia nos ensinou

E assim pretendo permanecer
O resto de minha vida:
Embriagada de tudo aquilo
Que me faz sentir alegria.


Hannah Cintra


O que falta?



O que me falta ser?
O que me falta saber?
O que me falta querer?

O que te falta dizer?
O que te falta fazer?
O que te falta viver?

O que nos falta?
O que faltou pra dar certo?
Eu sempre achei que nos completávamos
Mas agora você não está por perto

Eu quase montei o quebra-cabeça
Mas a peça principal estava perdida
E agora quem está perdendo a cabeça sou eu

Por favor, alguém me ajude
Antes que eu pereça e me perca
Com meus assuntos mal-resolvidos
Amores dissolvidos, dissabores repetidos
Pois estou cansada demais pra fazer isso sozinha.


Hannah Cintra




Lágrimas e Chuva



Mãos quentes percorrem o corpo frio
Preenchendo os espaços vazios
Existentes entre a gente nesse quarto sem forro

Entrementes respingos de chuva, lágrimas de choro
Eu beijo teu rosto de menino bobo
Enquanto tua boca me diz coisas boas

Fazendo eu me sentir bonita, repetindo o coro
De que o universo conspira a nosso favor
Deixando o fogo que nos consome converter em calor

O amor que transpira pelos poros e pêlos
Atendendo nossos apelos
De que não haja nada mais tão perfeito quanto nós. 


Hannah Cintra

Ligação Gratuita



Não sei por que eu insisto em ligar
Se eu sei que ninguém vai me atender
Deixo um recado após o sinal
Que ninguém vai ouvir quando receber

Passa a fome, o filme, a hora
Passa o carro, a moto
Passa a música, a foto
Passa, volta e vai embora

Só não passa a vontade de conversar
De falar, papear, desabafar
Dizer tolices e besteiras
Destrinchar minha vida inteira
Pro meu psicólogo particular

Mas cadê você que não está
Nem mesmo perto do celular?


Hannah Cintra