segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Prólogo I da saída de Cocytus: Sócrates envolto em reflexões, observa o brinde


Um brinde demasiadamente delirante; com risos intactos e certeza de vitórias ideologicamente construídas. Mas como chegaram a estes acordos? Saberia a divindade, pela suposta onipresença, de tudo o que aconteceu até então?

Satan, este sim, parecia carregar mais esta alcunha do que seu próprio criador. Com seu devido limite, evidente. Da mesma forma para com a divindade. Mínimo se pensar que é de uma contradição de proporções espaciais tudo saber e observar o jogo de carnificina que se desenrola pela existência da humanidade e não fazer nada. A divindade deleita-se sobre os destinos traçados? Onde entra o livre arbítrio na onipresença?

Estes pensares atravessados, transversalizavam minha mente, que procurava compreender todo o processo que nos guiou até aquele exato momento. De como ações minhas, deliberadamente feitas de acordo com minha liberdade no inferno, contribuíram, foram peças chaves para as condições se apresentarem daquela forma.

A carta enviada para o Duque de Copas foi o elo principal, o selo definitivo para que o plano maior de Satan e Metatron alcançasse êxito. As motivações minhas não foram irrelevantes. Ao longe eu observara o Duque e seu desenvolvimento em misantropia. E como o via como condição para minha cosmogonia, o próprio aleatório se mostrou organizado. Outros também demonstraram um potencial. Tanto para a esperança, quanto ao caos. Mas observavam também os seres alados e infernais. O vento temporal que levara minha mensagem pudera ser controlado? E minha vagueando no instante mais destrutivo da existência humana.

Minha provocação reverberou mais que o esperado ao destinatário. Ele se encheu de fome e sede por reconhecer toda a realidade dos outros mundos e afirmar, pela ponta da espada e do linguajar, o caminho finalista que a humanidade construía. Que não haveria sangue o suficiente que pudesse fazê-lo ver as cores, sentir-se com ânimo. Mas que assumir a cadeira mais alta e imponente do inferno lhe parecia um delírio a ser sentido. E só agora, embora antes desconfiava, isso vinha em meus devaneios com mais convicção.

Os braços erguidos; as taças no mais alto patamar de glória. Sem expressão vacilante. Refleti sobre minha existência naquelas terras; tanto me movi para uma pretensa cosmogonia da história humana, mas obtive muitos elementos de fontes genuínas das origens de alguns sentimentos e virtudes. parecíamos, naquele último ato, quatro deuses, entre o respeito e a destruição iminente.

O brinde findado, garganta embebida. Satan, Metatron e Duque, rumam para o centro do palácio do regente ... Uma luz emana sobre nossas sombras ...

Sócrates jogando poker em Cocytus com Satan

Cosmogonia de novas passagens


Condado:
boa noite; bom dia; boa tarde
o sol arde e chuva

Cada vida, cada um, cadafalso;
não há lugar para o outro lugar
distantes, ausentes, universos
o tempo frio madruga

Sobe, desce
silêncio, não grite, não mergulhe, não respire
passe, almeje, no aconchego de sua existência
e não me encha a paciência
com paixão e apego;
só mais um beijo
e mordida suave

Vou embora; mas tão tarde?
O lugar te invade; a música chama
não siga a canção, esqueça o refrão
Aqui é o fim, para todos os começos de solidão

André Café


O que a janela me diz


Vaga lembrança vagueia no meu pensar;
da janela alta, uma terra que não é minha
chove, como se fosse um choro compassado
o cinza celeste toma conta de todas as cores
e o verso do poeta se acinzenta, junto com o tempo

Das caminhadas, o olho mira um outro espaço,
placas dizem nomes, lugares, momentos
demasiadamente distintos e distantes.
são os olhos que velejam tristes
pela maresia das lágrimas de saudade?

Já não se deve mais hesitar,
o sufoco é contradito,
mas seu uso é parte normativa
daquilo que dizem ser importante pra vida
nesse processo louco e silencioso de sobreviver

André Café

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

O que se foi e o que será?


Passeio sobre redemoinhos desconhecidos.
ao fundo, o som tênue de um tambor desafinado;
onde está o que está errado? Deste lado ou profundo?

Os universos giram em suas existências; e seguem
o campo fluído se enche com minha vasta solitude
onde está o coração da minha cidade?

Ou onde estará meu coração no meio de tudo?
o vinho barato é boa pedida, para despedidas de lugar nenhum
amargo, no âmago, confunde o torpor invisível

Cesso-me, ao sentir o vento gélido invadindo o corpo,
que se move ao ponto de ônibus pra qualquer lugar
onde eu não possa ouvir o silêncio cardíaco do meu peito
onde eu possa descansar mais uma vez sobre meu leito.

André Café

Virá



Pra quem tá em cima, segredo não há:
que gerem os conflitos,
que façam-se mitos,
fascistas com audiência,
ciência pra permanência
do mundo como está

Lá em cima é meritocracia;
tédio não enriquecer,
só mais alguns pobres a morrer,
um grão de vida por fim,
realidade dura assim,
para quem não é dinastia

Pisam cada vez mais forte
os pés encastelados
que faz de muitos calados
por dizer que é obra divina
uns tantos muios terem à sina
de viver à espera da morte

E para manter toda estrutura
tem um negócio de eleição
vamos lá ser cidadão
e mudar o imutável
deixar tudo estável:
gota de mel na amargura

Mas não sabem os de cima
e se sabem, menosprezam
que aqueles que silenciam
não farão mais parte do rito
e jogaram pra fora o grito
que virá com força e estima

Ombro a ombro será o desato
dessa realidade nociva
toda gente ativa
destruindo Capitalismo e Estado
pela autogestão do povo organizado
agindo diretamente, fazendo a propaganda pelo fato

André Café

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

05


Mas até então eram nove?
Sim. Mas poderá ser onze;ou cem;
se cada giro de expressões,
provocar uma miríade de possibilidades:

Das críticas sinceras; aos 'julgos' iluminados:
dos últimos, infelizmente não se espera prática educadora
das alegrias em ver um pedaço seu no rodopio,
aquele que você falava baixinho pra si,
aquele que você tem vergonha de mostrar,
aquele que você não chama de poema

Certo, para a história literária estudada;
desta, não fazemos desfeitas: amamos, fazemos odes
Mas não poema, equivoca-se, pois sim, é uma produção

Um protoverso, um protopoema, um protopoeta?
Cada uma e um precisam ser semeados, irrigados; crescer e amadurecer;
na ponta do risco, o que antes era um grito dum universo indivíduo
poderá ser um raio rasgando o horizonte
tomando toda realidade de forma métrica, justa e rimada.

São 05 sim.
E serão ainda mais. Nos holofotes, nas quebradas,
coretos e beira de rio. Serão tantos que forem preciso, para que mais
e mais, e mais pessoas aprendam coletivamente,
a infinita possibilidade de ser poesia

André Café

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Desviver


Novembro; o ano; a existência
o planeta dentro de mim ...
poderia num sonho de quimera,
simplesmente sumir?
Acabar, obliterar-se de dentro pra fora?
Exaurir a última queima de oxigênio,
findar-se sem deixar vestígio?
Como se eu nem tivesse passado,
história, lembrança, amores
Novembro, tu me dói a alma;
pela marca do tiro certeiro,
do meu próprio punho oscilante
Para quê dezembro? Por que insistir?
O sentimento comum de recomeço,
de um novo ciclo ao fim do ano,
não surgirá, não terá efeito,
não iniciará nada, nem tudo,
Acabe aqui, em silêncio,
antes mesmo de alem do fim,
antes da minha vontade de desviver;
Apague rapidamente, para não ter riscos,
de nenhum rabisco meu, em memória;
Até que pare o pêndulo,
o tempo descanse,
e eu possa perecer,
sem lastro, sem rastro, nem rosto
encerrando o sufoco, o tormento,
sem arestas, lapidações e medos
deixa-me mais cedo,
ser um vasto esquecimento

André Café

sábado, 21 de novembro de 2015

Acalentado



De agonia me afogo em poesias
Ultrajantes e ecxtasiantes
De agonia transpiro versos
Surreais e incertos
De agonia vomito palavras
Nocivas e decididas
De agonia derramo letras
Azuis e Aleatórias
Ao vento do oceano
Ao som das flautas de ohm

(Victor Barbosa)

Teu sabor




Teu gosto em minha boca
Me perco nestas pernas
Após cada segundo em teus lábios
Entre tua vagina e teu gozo
Tempo tão efêmero quanto eterno
Enlouquece meu inferno
Com a lembrança de tê-la em minha boca
É quase um outro sexo
Nada mais me sacia
Nem tua buceta com meu pau
Tão pouco, tua boca em minha boca
Nada mais me sacia, se não ela
Macia, linda, encharcada e deliciosa em minha boca
Deixando aquela memória residual antes mesmo de gozar

Quero mais...

(Victor Barbosa)

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Mais uma primavera


Da janela, o carro lento,
o passo firme, tardio vento,
a pressa da presa, a chuva
ora dádiva, ora escárnio
lavando um a um, atrasos
e apressados;
as ruas e tudo o que passava;
o tempo melodiava,
para as pessoas olharem pra si
e para o alto; para os lados
e para o fim; para que se
parasse tudo e que tudo fosse
brincadeira de criança
em pleno fim de tarde

Mas arde, a cabeça e paciência,
o horário e a essência;
bate ponto, lucra rico,
paga conta, pobre fico;
não por aqui, nem acolá,
tampouco ali; lá nem pensar
das culpas que não são nossas
a rota é guarda chuva
e mergulho nas vias inundadas,
para mais um dia de risco
em prédios de janelas fechadas

Cá estou, a ver o fluxo;
do meu mundo sozinho,
observando o tempo
passando por todas as vontades
e possibilidades de mudanças
quiçá, oxalá, tenho esperança
não há tempo pra mais espera;
que da janela do meu abrigo
só floresçam primaveras

André Café

Folclórica

Imagem Original

um conto
esquecido
num folk
a estrofe:
estopim

então você
sem um porquê
jogou no mar
o livro antigo
que te dei
no Natal
sobre o Sal
e um amigo

o tempo secou
os seus pés
e os meus pés
Hefesto desejou

no espaço
da sua varanda
silenciou o som
de Sírinx, sim
talvez se chame Pã

e o suéter cinza
que fiz
com lã de amor
você doou
pro seu avô
em maio

mas os gestos
olhares inquietos
no jeito do amor
o beijo partido
no fim do amar
sua arma secreta
segredo ainda
guardado

no fundo do mar
um manuscrito
esquecido
um livro
você jogou
no fundo do mar
o fim do amor

o tempo secou
os seus pés
e os meus pés
Hefesto desejou

Laís Grass Possebon

A Taça


Derramam-se os vinhos
Fragmenta-se a poeira
Modelo Inacabado

Desconstruído
Faltam-se Palavras
Vasculha-se o Proibido
Eis um Achado

Em meio de copos perdidos
A cintilante Taça
Construída de Cacos Vazios
Moldes imperfeitos
Reflexo da alma de um poeta vazio.

Alciomar Neto

O beijo de Nimue


 Declarou-se árido e abandonou o lago alfa. Atravessou dois condados com sangue nos olhos. Matou o estado e chegou a Montana. Desconhecia os folclores trazidos pelos ébrios imigrantes. Suou. Sujeitou-se aos costumes. Casou-se com uma antropóloga e se fez objeto. Os anos se passaram e os traços marcaram sua face. Deixou um manuscrito ao lado da cama. Retornou ao lago alfa. O lago mostrou-se ômega. Entregou-se água. Despertou em outro universo. Foi beijado por Nimue.

Laís Grass Possebon

Objetivo


 Pragmático insistente
Num caráter repressivo
Pensamento incisivo
Massificador dá gente

Não passa
Lama reluzente...
Mentes de âmagos Vazios...

Alciomar Neto

Ossos do Ócio


 Antropomorfo em busca de sentido
A pé... e sempre indo
Jornada sem hora exata
O EU, o prólogo do nada

Ausência de Passado
O que se foi... presente

Teoria inventiva dum futuro ausente
Inexistência de realidade existente

... acabado

Não há virtude que se procura
Em Retóricas Planas
Simplesmente Ossos
De um mero ócio...

Alciomar Neto

Se sonho, pesadelo.


Enquanto ele dormia, repensava sobre os dias que deixei de registrar os des(amores) da vida. Regava a flor, sem precisar de sua mão. Para mim, dia. Mas ele dormia profundamente e não conseguia me ouvir, tampouco me enxergar. Eu dançava e, por vezes, falava no ar, mas o momento era como se não houvesse som, como se minha voz fosse muda e minha expressão soasse como desespero.  Ele não me via, mas a tempestade já molhava meu corpo todo. Meus olhos, o desafino da vida, ele jamais veria. Surrada, desalinhada, buscando prazeres que a vida não tem. Meio séria, desentendida, semblante vazio. Os encontros já não acontecem, eu não disfarço, não finjo, não minto orgasmos, mas quando acorda só vê a calmaria, me apalpa dizendo carinho e a concretude do corpo o faz pensar que ainda estou aí. Então sorri num desentendido “bom dia, amor!”. E eu o aceito...

Tassi

Para nos olharmos


Porque em riste, para você que anda ao meu lado.
Triste, somos todos algo que não sonhamos ser
E a fera enfurecida pela tela de led, pelo lead diluído
Ataquem-se, ante e distante ao berço do saber

De empatia, apenas a tendência, mas não do todo em si
enquanto isso a máquina não para, o lucro determina
seria eu só, ou da humanidade, destino causal?
uma pausa no pensar; o contemplar de quem contamina

Não somos nós nossos alvos,
há de existir paz com os mesmos objetivos
As dores não serão seladas com silêncios
no fulgor das barricadas que se levantarão
saberemos o que queremos, quem somos e sonhamos
e nada que fantasie nossos olhares e vontades
será capaz de parar a torrente de radicalidade

André Café

Veleiros


As palavras que ensurdecem;
aquelas em que minha voz, muda
rotas e voltas de amores alheios
conselhos servidos para o mundo a fora

E agora espelho? É por refletir o inverso
que o verso é sina? Assassina vontade
de silêncio ou de piedade sincera;
quimera, pois já se foi mais um deleite

Vida que segue, das palavras que me flutuam;
sendo paz e força para quem procura;
mas nunca será a cura,
que afagará os veleiros dentro de mim

André Café

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

De madrugada, a gente questiona 6


Passo a passo caminhar;
neste rumos que torturam,
não é querer pesar por pesar,
mas melancólicos são os tracejos da vida

Curam-se as feridas,
quando não se sente mais dor alguma
fé? talvez um apego; mais um ou finalmente;
o lado do céu iluminado recai em ilusões

O tempo apregoa a disritmia,
cedo ou só, tarde quente, noite intrusa
a madrugada pede fala, os olhos querem silêncio:
o corpo cede, a sede obsessiva da mente

Risco; rasgando o sentido de sentir;
nos versos surgidos, a fome engana
se espalha, se esconde, parece alívio
dum ser 'secante', tangente ao desfibrilante

André Café

Amo, mas amargo-me


Como diriam versos ao acaso,
de alguma música que fala de amor;
eu queria te dizer o que cantam,
eu queria poder fugir desse silêncio

Um amor assim; como despedida,
pelas poucas crenças que me restam
e que certamente será: 'o que teria sido'
para não alcançar destino frustrante

Não falo de merecimento ou coisa parecida,
não se medem relações, tampouco assim,
as vontades surgem e clamam existência
enquanto o coração se abriga, batendo cada vez mais surdo

Eu penso que a amo: pelos corredores dos lugares que vimos,
em cada brinde, em cada gole, em cada momento de perder o fôlego
mas o corpo precisa do ar de realidade; platonicamente se repete
sou eu ou são todas as cores? Cada dia é 'passo', para que não se viva mais ardores

Amo, mas amargo-me

André Café

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Entre espaços


Um misto de mundos
afetando os caminhos;
para onde estou andando,
não me contam os delírios

Num rumo de normas,
achando ser louco;
no traço da loucura,
içado pelo chão

Quanto tempo se leva
para revelar o que relevo?
Entre a materialidade escancarada
e o íntimo do espaço em mim

Não sou eu o só, estamos;
gerações, nações e universos
que não cabem no traço do verso
e não medem os ardores indevidos

André Café

terça-feira, 3 de novembro de 2015

O conto do Antonio


Me contou seu Oliveira,
uma história antiga,
daquelas que vira cantiga
de se cantar nas feiras

O caso foi por ele vivido,
e que começa bem assim:
Maranhão, no interior Mearim
foi o local do acontecido

Sua filha, Ana Maria
tava num mal que só
sofria de uma doença
que não importava a crença
era de sentir dó

O Antonio preocupado,
pois remédio não funcionava,
sua cria nem se mexia
de tanta dor que sentia
e cada vez mais piorava

Deusimar, mãe da menina
se agarrava na oração
mas também foi procurar
dentro do saber popular
alguma solução

Seu Antonio, de boi e reisado,
foi sem problema escutar
o que um Preto Velho dizia
e como numa profecia
lhe disse o que devia encontrar

'Essa doença agourenta,
tem um remédio natural
vá caçar uma raposa no mato
abra a bicha, tire os fato
e pegue o fígado do animal'

'Bote por riba das telhas
deixe ficar sequinho
amasse, pise, no moedor
o que ficou passe no coedor
até criar um pozinho'

O Antonio voltou depressa
mas raposa não marca reunião
o jeito era esperar
pra não deixar escapar
o bicho pelos grotão

A Deusa, na pausa das rezas
já cuidava das panelas em brasa
ferveu café, fez beiju no azeite
deu pro Antonio um copo de leite,
e continuou no fazer da casa

O homem se passou pra tapioca
comeu, repetiu que suou
Deusimar ficou descrente
'esse aí, pega nem gente'
foi quando todo mundo escutou

A gritaria vinha do galinheiro
E o Antonio já saiu correndo
pegou do sogro, a espingarda
chegou ofegante na galinhada
pra ver o que tava acontecendo

Pois num era uma raposa naquele instante?
A galinha piava e bicava
mas ela comia sem parar
um, dois, três pintinho, sem piscar
por isso nem viu o que lhe apontava

Ouvi-se só o estouro
mas o tiro não foi certeiro
pegou bem na bacia,
mesmo assim ela fugia
pro meio do salseiro

E seu Antonio, na pressa de resolver,
gritou pro cunhado na agonia
"José, acode aqui que ela tá fugindo!"
e lá foi mais um tinindo
pra pegar o bicho de dia

Raposa caçada, doença vai passar!
pegaram a carcaça no chão
fizeram como o Preto Velho ensinou
tirou o fígado e nas telhas pendurou
só não contava com o gavião

Não deu nem um minuto de Sol,
lá se foi o fígado voando
Antonio correu, mas não alcançou
pra cima dum coqueiro o bicho parou,
e se apressou quando viu Antonio mirando.

O fígado foi para as crias,
mas Ana Maria ficou bem
coqueluche era a doença da sina
que se medicou e tomou vacina
pra alívio dos pais e dos vizinhos também

Mas fica pra história o conto do Antonio,
que mostra mãe e pai com preocupação,
tem que ser rezadeira, caçador e açougueiro
percorrer por várias fé do mundo inteiro
pra virar rima nordestina que fala de tradição.


André Café

(Poema feito a partir das histórias de antigamente que seu avô Antonio Oliveira e avó Deusimar Laurinda viveram)

Orgânica


Mãos dadas;
olhos firmes
pra frente,
pro meio,
avante

Ombros ladeados,
vozes uníssonas.
diversificado,
horizontalizado,
avante

Materialidade,
coesão e unidade,
tática, prática e liberdade,
o futuro não é distante,
avante

O por vir é logo ali,
pelos frontes que resistem,
comunidades que insurgem,
federações que se constroem,
ações e democracia diretas,
passos fundamentados na ética
a revolução está adiante,
avante

André Café

Viver


Alguns espelhos refletiam nossa
eterna mocidade e outros apenas
acenavam com punhos de vidro.

Algumas portas se fechavam de
forma abrupta e outras somente
se abriam em um duro ranger.

Sua voz se infiltrava em meus
ouvidos como uma sinfonia de
de inverno cinzento e infinito.

Meus pés deslizavam sobre os
seus lábios cálidos de queixas
e tremiam até o seu umbigo.

Sua face mórbida se encaixava
com exatidão entre os meus seios
onde dormia depois do amanhecer.

A aurora trazia o horizonte para
dentro da alcova e também um
caixote para o nosso segredo:

Morrer.

Laìs Ha

Nelson Mandela

Imagem: www.nytimes.com

O líder das revoluções.
O difusor do antiapartheid.
O mensageiro da liberdade.
O cavaleiro da paz.
O mestre que lutou pelos bestializados.
Em prol de uma nação, foi condenado e exilado.
No vasto horizonte o brado de igualdade.

Dhiogo J. Caetano

Quando Quimera fugiu de Anatólia


Ao caminhar sobre velhas calçadas de lajota de uma florida rua do meu bairro, sem me preocupar com os vizinhos que retornam cansados do trabalho e com as crianças que brincam sob árvores, voo até o meu lugar mais bonito e me encontro entre pessoas azuis. Com roxos chapéus de magos, solitários arqueiros pedem-me poemas de amor sobre uma terra distante. Declamo sem pestanejar. O azul se torna mais anil. Seus arcos se transformam em violinos que acompanham algum canto élfico. Sou assim desde pequena: prefiro andar pelo teto e desbravar outros planetas a me prender a toda essa normalidade nauseabunda. Nas rodas de ciranda, eu era a menina que se dizia viking. Na roda de amigos, eu era a jovem que se intitulava Joana d’Arc. Na roda da vida, eu rodo ao contrário. Talvez por isso tenho de dormir sob um apanhador de sonhos. Quem sabe o motivo de minhas buscas esteja aí: nas quimeras. Para mim, o propósito sempre foi experimentar. Budismo. Xamanismo. Anarquismo. Comunismo. Faltam ismos neste mundo. Voo até encontrar.

Laís Grass Possebon

De.pois


Ele exibia expressões de arrependimento
de uma vida advinda de seu bovarismo
plenamente cego por seu ego frágil e só.
Apesar da exterioridade diminuta, que
dissimulava o arquétipo do século, ele
desconhecia a maioria dos livros e dos
filmes que valiam a pena. Seus medos
insanos – penosos e infantis – afirmavam
sua fragilidade de menino em busca de
autoafirmação. Deixo minha confissão:

Eu também fui assim quando tinha aqueles
dezenove anos, boy. Hoje sou outra. Crua.
Sou a mulher que nasci para ser, e jamais
abrirei mão de minha personalidade agreste.
Não precisa mais treinar frases pacóvias
em frente ao seu espelho de menino casto
nem chorar quando desabar no seu próprio
vazio. A vida flameja sob o firmamento e
o tempo enxuga seu líquido férvido com
as escolhas enxutas de cada indivíduo.

Preferências que por diversas vezes se
assolam em um destino frívolo de uma
limitada existência: sequer em palavras
remanescem metafóricos sentidos afoitos.
Nas frases cotidianas, a língua portuguesa
resplandece em meu esmalte vinho clássico,
declarando aquela sua mania cretina de não
isolar o vocativo com uma vital vírgula, boy.
Meus olhos míopes e astigmáticos – isentos
de misericórdia – proferem: je suis desolée.

Só para você ver: a questão – tão abrupta
proclama seu martírio infuso no melodrama
da coluna social de uma choldra jornalística.
Uma televisão multicolorida não afaga o
tormento oriundo de suas novelas mentais
e de seus hábitos inteiramente falidos.
Talvez algum versículo grifado em suas
pálpebras obscuras não permita que seus
intentos se realizem de modo vertiginoso
ou que cortem aqueles forçosos efeitos.

Sem epílogo remanescente:
Há o som de um trompete noturno.
Audível.
Silenciosamente musical.
Sensível.
Um espaço para partituras.
Repare bem em tudo o que não foi
escrito.

Laìs Ha

Irmã Dulce

Imagem: www.sigivilares.com.br

A mãe dos necessitados.
A cuidadora dos aflitos.
Um anjo encarnado.
Uma mulher guiada pela fé.
Movida pela solidariedade.
Instruída pelo amor.

Dhiogo J. Caetano

Quando me vi entre Oneiros

Gonçalo Franco

Quando já não entrava vento por aquela parte entreaberta da vidraça da janela, quando não mais se ouvia os garotos, que bebiam conhaque com café do outro lado da rua, pedirem beijos às garotas que saíam da escola de balé que ficava em um antigo prédio cor de pêssego na esquina, quando já nem se via prédios velhos pelo bairro e muito menos bailarinas, foi que percebi seu sumiço de meu quarto. A janela ainda estava entreaberta e, na calçada do outro lado da rua, havia uma garrafa de conhaque vazia. Mulheres caminhavam apressadas, arrastando seus filhos pelos braços, enquanto homens subitamente atacavam os táxis que trafegavam acelerados. Meus livros, que já se mostravam amarelados, diziam dez anos. Talvez quinze. Acho que sumiços nos causam isto: a perda da contagem do tempo. Apenas esperamos. Sentamos. Fingimos ler. Fingimos ligar a tevê. Fingimos cuidar o trajeto dos ponteiros do relógio. Fingimos respirar. O tempo, por vingança, acelera quando fingimos não sentir, e profundamente os sentidos se afloram até nos darmos conta de que sobreviver não é o mesmo que viver. E a maioria apenas sobrevive. Lembro-me de que em uma noite qualquer você me disse para deixar minha mente vazia, pois assim não ficaria rolando durante horas pela cama e conseguiria dormir mais rápido. Talvez por isso tenho pensado que, se todos esvaziassem suas mentes e somente acumulassem memórias diárias, as coisas funcionariam de modo mais fácil. Quem sabe desse jeito, dissimulando e esquecendo, sentiríamos apenas uma vez na vida, e assim seria mais simples para viver: hoje não me recordaria daquilo que ontem senti e amanhã sentiria algo novo que apagaria o que foi sentido hoje. É engraçado: tentamos fugir de tudo o que nos torna vivos por medo de que isso venha a nos matar. Por exemplo: hoje, após uma década sentada em um canapé sem me dar conta de seu sumiço, resolvi devanear para tentar esquecer o que perdi quando percebi que o perdi, e assim continuo perdendo – perdendo-me. É que o caminho das fugas sempre me pareceu mais prático. Permaneço fugindo de mim em mim. Perco-me em mim.

Laís Grass Possebon

O Sabor da Liberdade


Uma sensação obscura invade-me.
Entre celas, a opressão da liberdade.
No olhar o grito de socorro dos encarcerados.
Em meio a um ambiente fétido, a esperança ligeiramente surge.
Os indivíduos ali confinados tristemente narram a sua realidade.
Jovens, idosos, mulheres sentem na pele a "justiça" humana.
Os agentes carcerários esboçam uma expressão de superioridade.
O Judiciário decreta e homologa a sentença.
Estão pagando o erro, com a privação da liberdade. Essa é a solução?
Em uma visita para coleta de material biológico, pude sentir na pele os efeitos da prisão.
Um jovem olhou nos meus olhos e disse: "Que bom que você veio, não queria sentir o gosto da liberdade".
Em uma cela ao lado, outro jovem meneou com a cabeça, dizendo: "Quando saímos, somos humilhados. As algemas e a própria viatura policial nos crucifica como bandidos, marginais, monstros".
"Ninguém vê a possibilidade da mudança. Todos querem julgar!".
Meu coração em prantos instigava-me a perguntar a mim mesmo: Como poderia ajudar, o que fazer?
Em uma pequena cela, um grupo de indivíduos, que por infringir as leis humanas foram exilados do contexto social.
Mas quem são os condenados? Quem são os condenadores?
A solução é o aprisionamento, ou a reeducação?
É chegada a hora da revisão de todas as estruturas instituídas para a vigente ordem da vida social humana.
O primitivismo deve ser banido da nossa perspectiva intelectual e filosófica.
Progredimos, mas arrastamos a origem instintiva até os dias atuais.
Muitas das nossas atitudes são difundidas de forma irracional.
O materialismo de conluio com o egoísmo fecunda o autoritarismo que dita as regras humanas.
Existe um universo desconhecido à nossa volta, não podemos morrer nas profundezas da incompreensão de uma razão tola.

Dhiogo J. Caetano

Apoema

Derek Bridges

No meu pequeno pedaço de terra
que outrora foi desmedido e verde
ainda permanecem vivas as chagas
produzidas pelos coléricos do norte.
Neste corpo juvenil e neste espírito
ancião, expressivos, vigorosos, há
os traços dos pecados ditos sagrados
feitos pelos santos do eurocentrismo.
O meu sangue escarlate, os milênios
destruídos, as crianças recém nascidas,
as mulheres violentadas e os dízimos já
pagos ao sacro euronarciso vazam de
meus vasos nativos, humanos e divinos.
No meu peito aborígene, na minha face
terráquea, na minha alma cósmica, sem
divisão de vidas, eclodem sentimentos
inefáveis que cicatrizarão as feridas
ainda abertas neste pequeno pedaço de
terra que outrora foi desmedido e verde.

Laís Grass Possebon

© Andrea Marchetti


perdida nesse
caos
nós
o avesso desse
céu
seu
meu pecado nu
lençol
sol
perdido nesse
caos
nós
dois extremos e


Laìs Ha

Luz ao frodo


teus dedos
selados
nos meus

teus lábios
sanguíneos
nos meus

teus selos
sinetes
nos meus

teus pés
sambando
nos meus

teu sorriso
sereno
no meu

teu corpo
suado
no meu

teu porto
seguro
no meu

teu afeto
silêncio
no meu

meu apego
segredo
no teu

nosso amor
sufrágio
meu e teu

Laìs Ha

O Corpo da Minha Alma

Azhar Latif

A arte me faz sobreviver em meio aos fluxos da dor.
Nas entrelinhas da vida o desejo da transmutação.
A movimentação do teatro preenche-me de sinergia.
As poesias narradas alimentam a minha alma.
Os versos proclamados me despertam diante do meu inverso.
As performances promovem o equilibro do meu ser.
Tudo inspira o nada que conspira em mim.
Diante da lente de uma câmera, uma criatura que busca transver as realidades.
A arte é o codinome do corpo que coabita a minha alma.

Dhiogo J. Caetano

O inefável universo dos adoradores de chá


Havia resquícios de sentimentos dentro de seus livros. Havia resíduos de amores no interior de sua gaveta de meias. Sobejavam partículas de macróbias confusões sentimentais pelos corredores de sua casa. Ao lado de cinco pequenos vasos de margaridas, que estavam sobrepostos em uma estante de madeira de carvalho, existia um antigo espelho oval, no qual podia se ver refletida em uma remota imagem cândida. Silenciosamente lívida abriu suas portas para que seu Anjo-amor adentrasse musicalmente. Ele entrou em seu lar e caminhou sem pressa pelos cômodos, apagando os fragmentos de velhas consternações ignóbeis. De modo inefável, sem prescrições galênicas, ele preparou um chá de canela para que ambos pudessem absorver as doçuras do fado. Após navegarem pela magia líquida do chá, trocaram pacíficas palavras de devoção e recolheram-se à alcova. Durante o sono, sonharam juntos e acordaram para dentro. Reconheceram-se no interior de cada um. Nunca mais deixaram de sonhar.

Laís Grass Possebon

Cruzeiro das almas perdidas


O gondoleiro do tempo já passara,
num deslize suave e lento,
sequestrou quem podia,
abarrotando a embarcação do tormento

E com mesma suavidade, desaparece,
no esquecimento das pessoas, padece ...

Para onde então seguir?
Em qual norte se flutua?
Qual o caminho do por vir?
Em qual sentir não se amua?

O vai e vem das horas
pelos séculos me transportam;
de outrora, nem resquício
em suplício, inexistimos

O despertar das pequenas chamas,
que velam por outro destino, iluminam,
transmutam a sorte fadada,
para as almas que vagueiam sem direção

Pois quando será a hora,
das luzes guias de outros caminhos
para aqueles que em carne viva
seguem tortos, perdidos, sozinhos?

André Café

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Brinde macabro: o plano, o contra-plano e a alma da menina


Não havia outra sensação rodeando o pequeno ambiente da mesa, cartas e copos naquele momento. Previa, a qualquer instante, uma batalha  homérica entre o céu e o inferno. Os olhares se cruzavam. Duque também o mirava parecia saber exatamente o porquê desta reunião. Jamais conjecturei
que o dia do chá de coca e gengibre com meu alter ego fosse transformado num enebriante, confuso e caótico encontro. Como sempre, Satan demonstrava confiança, com o riso sarcástico no rosto. Saberia ele o final deste acontecimento? O silêncio é quebrado, enquanto as cartas são distribuídas.

- Então Metatron, hoje foi o dia escolhido por vocês, anjos, para a reconquista dos tempos de paz? Como tudo foi arquitetado? Deus já está ciente de todas as coisas ou vocês realmente creem no mito da onipresença?

- Não possuo motivo nenhum para falar sobre o que nós planejamos, mas se tanto te preza saber destas coisas, também não me oponho. Sabes muito bem das regras que são impostas para os seres e suas dimensões. O encontro de dois humanos vivos no inferno foi sim nossa porta de entrada e por isso mesmo aproveitamos esse dia. Engana-se sobre o objetivo do plano. Não viemos reconquistar nada, nem ninguém. Queremos acabar de uma vez com esta tripartição, e seria muito interessante não haver resistências. Sobre Deus, você o conhece muito bem, já esteve ao nosso lado por muito tempo, então não há o que dizer.

- Realmente pareço conhecer mais Deus que vocês. E pelo visto, nada mudou naquele céu paradisíaco e perfeito. Mas não me diminua tanto. Eu também imaginei que tantos alados assim no inferno não viriam somente colher boas almas para salvação. Não me ache tão tolo. Penso somente que isso
não é determinação do seu senhor. E tenho certeza que você não conseguirá este feito.

- Não me retirarei de um possível combate.

- Eu sei disso, e é isso que espero.

O tom subira de uma hora pra outra tornando alarmante e tensa a situação. Nada poderia ser feito então? Era esse o objetivo dos céus? Seria o fim. A garganta rasgava traços de humanidade nascidos de meu medo. Medo, sensações. O que era aquilo que rogava por retorno? Para salvação em não cair nestes devaneios, minha fala jogou-se na zona de conflito.

- Caro Metatron, embora não saiba exatamente da força e eficácia do seu plano, teria você feito a leitura mais correta e precisa para vencer esse embate? Não julgas importante a existência de teus irmãos para jogá-los assim no ardor da morte?

- Nobre pensador Sócrates, desta vez você me subestima. Evidente que estas preocupações foram tomadas. Não haverá embates. Te preocupas com a vida das tuas pessoas? A Terra não tem mais sentido. Não com a existência humana. Se não há razão da vida de carne existir por que este inóspito lugar deveria ser poupado? Para que o círculo nunca quebre? Para algo ter sentido? Não. O desenrolar dos tempos tem sua continuidade. E para um grupo de seres que não adquiriu a capacidade de evoluir, não haverá piedade.

- Mas vejo contradições nesse intento. De certo que há muito tempo não ressoa em mim compaixão ou sentimento preciso. O embate, me parece inevitável, mas como a existência de uma raça traz inquietações desproporcionais para o paraíso e torna-se motivação para destacar-se numa missão onde perdas ocorrerão e todo um equilíbrio pode ser perdido? Não é este o motivo então. Não há como esta ser a causa para que esse desenrolar nos trouxesse até aqui.

- Faz este prognóstico a partir do contingente que trouxe comigo? Isso posso entender, mas não crê no que digo, quando falo que não haverá embate?

- Sim, o que você diz é verossímil e é exatamente isso que me inquieta. Porque não havendo esse embate, penso que outros acordos foram feitos antes deste momento.

- Novamente não falha sua perspicácia nobre pensador. Então você já conjectura o real sentido da chegada de Metatron e o Duque de Copas aqui.

Um silêncio se postou naquela mesa. Duque, ao ser mencionado, guardou um sorriso no canto da boca. Tudo começava a ter obviedade, todas as chegadas, tudo o que foi falado, todo processo no qual me inseri. Era incrível e extremamente sutil a nobreza e o sarcasmo de alguns atos de Satan e Metatron. Embora sanguinários. Mas não cabia a mim juízo ou coisa parecida. Trabalhava na perspectiva lógica. O deleite em juntar todas as peças fora interrompido pela fala de Duque.

- O estratagema então está montado e cá nos encontramos como peças de um tabuleiro de xadrez. É apenas assim que me tomas Satan?

- Pelo contrário caro Duque. Não vês a importância desse dia e de sua presença aqui? Foi exatamente por isso que você lutou. Foi tudo isso que você almejou.

- Não há como corroborar em totalidade com o que diz.  Está sim em curso tudo aquilo que objetivei, mas as nuances programadas por você não me asseguram um desfecho de deleites.

- O que eu poderia fazer Duque? Eu praticamente não me movi. Tudo fez parte dos próprios passos de cada um aqui nesta mesa. Apenas algumas conexões foram colocadas para que pudêssemos saborear bem esta pequena conferência.

Satan bradava suas palavras ao Duque enquanto enchia as taças. Era chegado o instante.

- Brindemos então senhores, vitoriosos ou não!

Teresini-me 3

mind=blown by UkletaHolandjanka (aqui)

E o que sou,
forjado pelas tuas ruas quentes
não abrasa os obstáculos
nem aponta soluções
Mais uma vez,
pelo último turno ou suspiro
ensina-me a fluir,
com suas histórias, seus recantos
mesmo que eu não te reconheça,
mesmo que te façam descartável:

Teresini-me com teu calor, reaquecendo meu viver,
Teresini-me com o vento das 11 horas,
Teresini-me com cadeiras na calçada;
Teresini-me com o sabor das frutas no mercado;
Teresini-me com tuas vivências, contos, poesia;
Teresini-me pelos coretos e praça, me abrace pra eu resistir
Teresini-me por ruas e rios, por tempos mais brandos
Teresini-me, apenas te peço
Teresini-me em verso e prosa, no som do violão à meia-noite
Me refaça, a volta e o viver
me forje, me insira ou desanexe, delicie ou desabe
me faz o que sou, perdido pelas caminhadas
bom ou mal, de luta e de riso
pra tudo fazer sentido
Teresini-me

André Café

Des...

Mind by moderntroll (aqui)


CASA-DA

Mesma coisa:

Pretérito Perfeito, Imperfeições explícitas:

Estado estagnado

Ameaça ao corpo e à alma

Mais pelos, mais QUILOS

Menos tesão, mais tv.

Quarto, cozinha – cozinha, quarto.

Fim da linha, início da outra: [....], [....], [....]. Sem picos, salpicos.

Comidas, roupa lavada, banheiro limpo.

Sem quintal, sem varanda, ou abstração.

Sem rima, sem ritmo, sem qualquer coisa, sem vida, sem sexo, sem nexo.

Com-tudo, sen-tidos.




A poesia se perdeu em outras conquistas, em outros chãos.

A despeito dos defeitos, o amor rompeu.


Tassi

Pela praça, passa vida


A vida praça, passa pela praça,
passeia, pulsa, peneira, pirraça,
passa pela praça. 

É vida boa, daqui de casa, 
do abraço vizinho, do viver carinho, 
'russo passa pusso agradece merci bocu.' 

Rouba-bandeira, futebol de travinha, 
pula corda, amarelinha, 
ciranda e balanço, fim de tarde, descanso.

No passeio onde remexem a copa das árvores; 
um sossego, um alento para um mundo
que só vê um tipo de desenvolvimento. 

Uma resistência carregada de lembranças e sentimentos. 
Faz parte da identidade cultural de um povo; 
alegrias, tempos marcantes, memórias para sempre

André Café

Onde ser


Percebo olhares desviantes;
onde estou? Será mesmo o meu mundo?
há pessoas distantes,
lugares dissonantes

Tempos plásticos,
risos cálidos,
sons destoantes
erros ardentes

Por que aqui? Não noutro momento?
o mergulho profundo do eu
entre brindes, delírios e brincadeiras
não tenho eira nem beira
na vasta procura pelo breu

Sou eu ou todas as coisas?
todas as coisas em mim;
no fim,
apenas quero sede,
para deixa secar esse ardor profundo

André Café

quinta-feira, 22 de outubro de 2015



Ao Sol

Olhar quente e fervente
Certo e convicto
No por do sol
Mostra teu mel
Escorrendo
Teus lábios contra os meus
Me foge deste encanto
Descontente e cheio de lirismo
Em teus lábios
Que não me esquento

Victor Barbosa

domingo, 18 de outubro de 2015

Ouvindo



Me transporto para Teresina
Me transporto para a terra mágica
Me transporto para o calor
dos seus belos fins de tarde
Me sinto na cultura, 
na vida e em seus sentimentos
Me sinto acolhido
Me sinto envolvido
Me sinto mais
Me sinto possível
Me sinto quente
Me sinto em Teresina

Victor Barbosa

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

De madrugada, a gente questiona 5


Sobrecarregado,
cansa o corpo, pede o tempo
mas é infindável a sede dos dedos,
mirando o extravasar dos pesares
fala, aquilo que a garganta silêncio

Por muitos tercetos,
desorganizados, sonetos
Caindo os olhos pela manhã que se anuncia,
café doce, mas amargo; um trago sem sabor
tudo inerte ao externo extenso

Desconhecidos campos de incertezas,
aflorando sonhos e medos,
no mundo é cedo, pra ele, tarde demais
da fresta da janela: luz, calor e vida,
passagem de ida, pra contrassenso

André Café

E vive, e volta


Já voltei e vivi,
de campos que tragam a esperança:

O desespero semeia o solo,
e toda cor se acinzenta,
a alma toda arrepia,
e cada flor se lamenta;
do galho se arrebenta,
padecendo de agonia

O vento faz frio e lágrima,
da face, resseca o riso,
nos ombros o peso do mundo,
cabeça perde o juízo,
o corpo em desaviso,
de passamento profundo

As pernas cessam o movimento
a reação se acaba,
toda vontade se finda;
a vida que desaba,
como numa biaba
a beira da berlinda

Já voltei e vivi ... mas que descaminho sorrateiro
Cá estou desconhecido,
o mundo que vi em mim
de tudo estou esquecido
pois já havia partido
da orbe sem meio e fim

E tudo mais uma vez;
o frio que atormenta,
a sede que não cessa,
a fome que desmonta,
o pranto não suplanta,
a dor que nunca passa

André Café





Depressa não


Quis começar pelo fim;
não falar de origens e de fatos
consumados, consequentes;
a boca árida de conselhos pífios
não se amordaça pelo que não se sente

A verdade é que não era pra ser começo,
entorpeço, padeço, peco, pelos lábios arredios
num desafio de inibir o inevitável,
para arrancar de ti a desperança,
ou talvez me reconhecer inefável

Não era, mas fui; acabou e final?
as palavras tolhidas pelo não ser;
um abraço, um laço de distância, de afeto
silenciam o que não seria dito.
outro rito, despido de credo

Minhas mais sinceras vontades
do espelho que fujo, aquela que vai ao longe
diversos caminhos num só espiral
depressa não, qual é o ritmo?
do íntimo cadeado em visceral

André Café


segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Nada aponta


O que me prende?
causa, vida, curta
nada mais fixa-me
nas rédeas do apego,
vestido de sossego
e madrugadas

Um pedaço, caco desprendido
do barroco reboco na parede do tempo
do pó, destino, que o vento, a sorte
pra quê tanto laço
em nós idênticos?

O que me prende?
sustenta, resfria
no calor de todas as relações
cada qual com seu verbo
e conjugações
não para um coração que pára
no abstrato de ilusões;
travestidas a ermo
no abraço de gerações

André Café

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

09


Ainda que chama pouca, mas existe. E chama, sempre clama, vem você também! Tem risos, cores,
flores e amores. Como amar é resistência poética em tempos tão destemperados. No meio de um incerto nascedouro, 2006 era o ano, e daquele com um sorriso mais acolhedor, se fez, surgiu, desceu para o mundo, se disse menina e abriu os braços para um abraço sem fim em permissão e coletividade.

E a menina cresceu, em uns anos ficou quietinha, tantos outros esbravejou até arder os olhos em poema, que escorriam nos coretos e paredes, ônibus e lugares da cidade. Mais uma vez tá quietinha, escutando um bom som subversivo na rádio, num cochilo, num suspiro, numa eternidade, numa lucidez, num crescer. 09. Se serão mais, se será talvez, de vez acabe, de começar.

09. Na ciranda de ida e volta, sintam-se parte, quem partiu, quem pariu, quem partou, quem permanece, quem aquece. Num grude, mas grude, abusa, pinta, grafita, histeria. A cidade, pelos cotovelos, ecoa na beira do Tucuns um chamamento. Vamos ressignificar? Vamos sentir, sentir-se, além de todos os espaços possíveis. Criança ainda, mais de andança muita; Pulou riachos, cercas e quilômetros; no Espírito Santo fez e tem morada e viaja até Vanuatu. Nós, expressão; produção aos ventos; liberdade, crítica, maturidade. Menina transgressora.

09. Pra mais anos num barco ao sabor da água da inspiração, se movendo e removendo arestas, obstáculos, descansos. Muito prazer, quem sabe numa passagem de segura, todas as vibrações em rebeldia e arte, retornam e explodam em giros, saudade e piração.

André Café

Educa e se sinta a vontade para aprender. Fala daquela rima que canta o dia a dia de trabalhadoras e trabalhadores; em uma poética sofrida, viram canções, brados e exemplo pra luta. Junta tudo num verso coletivo e chama o povo, pra ver a banda passar, pra ser a banda que passa, pelas ruas, luas, tuas, minhas e nossas; sejam bossas funkeadas, todos os sons para juntar todas as vozes.

Organiza-te, num terceto, soneto, sextilha; afina os instrumentos e os discursos, corre junto para o povo, pois dele tu é parte. Invade as ruas e seus nomes; praças e colégios, façam aparecer os desaparecidos. Olha pra história, vê o curso da história e não te esquece jamais. O caminho é de luta, na rebeldia e na arte, para invadir tantos corações.

E num ataque mais radical, para, greva, emudece os rumos tortos da sociedade e grita pelos cantos que quer raiar a liberdade, a autonomia, através de apoio-mútuo, de coletividade, de cuidados, de rimas e versos, em cadernos velhos, de escritos de antes e de agora,traduzindo sonhos e esperanças de que um dia um mundo se horizonta, pra estontear cada cabeça viva de felicidade, e semear o melhor que há, pra no raiar o dia, tudo respirar poesia.

André Café

domingo, 19 de julho de 2015

Malinagem

"O diálogo entre a malina e o escritor"

N - E um belo domingo, na calada da noite, uma criatura malina interpela o escritor, na rede social:
M - E nosso projeto? O livro?!
E - Sairá da prancheta, virará realidade!
M - Nos vemos na livraria, para um gostoso café?
E - Sim, sem dúvida!
M - Pois está marcado, à tarde, naquele horário!
E - Estarei lá!
M - (Pensa) (... Não falte, seja pontual e leve algo novo pra me mostrar!)
E - (Reflete) (...Tomara eu encontre material pra mostrar a tempo e logo! Porque ela escreve bem...)
M - Boa noite.
E - Muito boa noite, para você também.

***

(Próximos detalhes no próximo post...)

terça-feira, 14 de julho de 2015

Daquele abraço forte e a certeza que juntos, lutaremos e voaremos


Nos teus braços sinto força;
seja num abraço apertado
daqueles que só você sabe dar,
seja no meio da roda
mostrando que ali é seu lugar,
seja mutuamente nos apoiando
com disposição pra ajudar,

Me sinto pequeno, acolhido
envolto nesse laço fraterno
que nenhum tipo de força repressora
será capaz de quebrar

Sinto aconchego, reenergizo minha vitalidade
pra poder fazer de sabores e saberes,
entre o fervor do fogareiro ou no grito de luta,
uma outra sociedade, contigo, construir e partilhar

Dos olhos mirrados, miúdos
de sono, de charme, de observação
entre o ponto do silêncio
e a fala decidida, para nos conclamar

Tu, poesia brutal, doçura em fervura
sorriso amigo, "batom vermelho girassol"
eu digo, sem medo e receio
bom estar lado a lado contigo
na luta, na canção, em verso e sempre
no coração e mente, no punk ou no repente
juntos, nos abrigamos, e avante! Revolucionar

André Café, poema para Cibele Andrade