segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Nada aponta


O que me prende?
causa, vida, curta
nada mais fixa-me
nas rédeas do apego,
vestido de sossego
e madrugadas

Um pedaço, caco desprendido
do barroco reboco na parede do tempo
do pó, destino, que o vento, a sorte
pra quê tanto laço
em nós idênticos?

O que me prende?
sustenta, resfria
no calor de todas as relações
cada qual com seu verbo
e conjugações
não para um coração que pára
no abstrato de ilusões;
travestidas a ermo
no abraço de gerações

André Café

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

09


Ainda que chama pouca, mas existe. E chama, sempre clama, vem você também! Tem risos, cores,
flores e amores. Como amar é resistência poética em tempos tão destemperados. No meio de um incerto nascedouro, 2006 era o ano, e daquele com um sorriso mais acolhedor, se fez, surgiu, desceu para o mundo, se disse menina e abriu os braços para um abraço sem fim em permissão e coletividade.

E a menina cresceu, em uns anos ficou quietinha, tantos outros esbravejou até arder os olhos em poema, que escorriam nos coretos e paredes, ônibus e lugares da cidade. Mais uma vez tá quietinha, escutando um bom som subversivo na rádio, num cochilo, num suspiro, numa eternidade, numa lucidez, num crescer. 09. Se serão mais, se será talvez, de vez acabe, de começar.

09. Na ciranda de ida e volta, sintam-se parte, quem partiu, quem pariu, quem partou, quem permanece, quem aquece. Num grude, mas grude, abusa, pinta, grafita, histeria. A cidade, pelos cotovelos, ecoa na beira do Tucuns um chamamento. Vamos ressignificar? Vamos sentir, sentir-se, além de todos os espaços possíveis. Criança ainda, mais de andança muita; Pulou riachos, cercas e quilômetros; no Espírito Santo fez e tem morada e viaja até Vanuatu. Nós, expressão; produção aos ventos; liberdade, crítica, maturidade. Menina transgressora.

09. Pra mais anos num barco ao sabor da água da inspiração, se movendo e removendo arestas, obstáculos, descansos. Muito prazer, quem sabe numa passagem de segura, todas as vibrações em rebeldia e arte, retornam e explodam em giros, saudade e piração.

André Café

Educa e se sinta a vontade para aprender. Fala daquela rima que canta o dia a dia de trabalhadoras e trabalhadores; em uma poética sofrida, viram canções, brados e exemplo pra luta. Junta tudo num verso coletivo e chama o povo, pra ver a banda passar, pra ser a banda que passa, pelas ruas, luas, tuas, minhas e nossas; sejam bossas funkeadas, todos os sons para juntar todas as vozes.

Organiza-te, num terceto, soneto, sextilha; afina os instrumentos e os discursos, corre junto para o povo, pois dele tu é parte. Invade as ruas e seus nomes; praças e colégios, façam aparecer os desaparecidos. Olha pra história, vê o curso da história e não te esquece jamais. O caminho é de luta, na rebeldia e na arte, para invadir tantos corações.

E num ataque mais radical, para, greva, emudece os rumos tortos da sociedade e grita pelos cantos que quer raiar a liberdade, a autonomia, através de apoio-mútuo, de coletividade, de cuidados, de rimas e versos, em cadernos velhos, de escritos de antes e de agora,traduzindo sonhos e esperanças de que um dia um mundo se horizonta, pra estontear cada cabeça viva de felicidade, e semear o melhor que há, pra no raiar o dia, tudo respirar poesia.

André Café