terça-feira, 3 de novembro de 2015

O inefável universo dos adoradores de chá


Havia resquícios de sentimentos dentro de seus livros. Havia resíduos de amores no interior de sua gaveta de meias. Sobejavam partículas de macróbias confusões sentimentais pelos corredores de sua casa. Ao lado de cinco pequenos vasos de margaridas, que estavam sobrepostos em uma estante de madeira de carvalho, existia um antigo espelho oval, no qual podia se ver refletida em uma remota imagem cândida. Silenciosamente lívida abriu suas portas para que seu Anjo-amor adentrasse musicalmente. Ele entrou em seu lar e caminhou sem pressa pelos cômodos, apagando os fragmentos de velhas consternações ignóbeis. De modo inefável, sem prescrições galênicas, ele preparou um chá de canela para que ambos pudessem absorver as doçuras do fado. Após navegarem pela magia líquida do chá, trocaram pacíficas palavras de devoção e recolheram-se à alcova. Durante o sono, sonharam juntos e acordaram para dentro. Reconheceram-se no interior de cada um. Nunca mais deixaram de sonhar.

Laís Grass Possebon

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