segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

As flautas da abóbada celeste


Não fossem as flautas da abóbada celeste, eu teria permanecido deitada ao lado das margaridas no Jardim. Entregaram-me novas e boas notícias, por meio de um som casual, sobre as leituras das madrugadas velhas. Talvez meus pés descansados desejassem correr para fora do horto, talvez desejassem mais. Voltei a deitar-me ao lado de minhas flores favoritas. Voltei, sim, e assumo ter feito isso para não o deixar só e adormecido, apenas com seu grande coração sentimental, sonhando com os versos do Garoto do Maiakóvski que li minutos antes de abrir meu coração covarde. Não poderia deixar minhas margaridas e meu Dionísio para trás. Já não poderia esquecer. Já não saberia correr. Minha razão, combatendo centelhas do corpo, disse-me para voltar a dormir. Adormeci. Admiti minhas fraquezas como jamais havia feito. Mostrei meus sinais de ausência. Abri minhas gavetas torácicas e deixei que guardasse seu sentimentalismo de bom sujeito. Torneio-o sujeito de minha oração. Pedi ao Cosmos com delicadeza, e as poeiras interestelares nos atingiram, e nos levaram à Nebulosa Laguna, e nos fizeram eternos.

Laís Grass Possebon

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