quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Prólogo II da saída de Cocytus: breve diálogo entre os alteregos



Caminhavam num passo mais apressado, Satan e Metatron. O templo não tão distante, mas enorme como a soberba e maliciosa sabedoria do seu regente. Ao meu lado, ainda num silêncio instigante, o Duque, aparentando uma ansiedade mórbida, entre manter o niilismo exacerbado de sua marca e algum tipo de euforia pela conquista próxima. Mas o diálogo não demoraria iniciar-se:

- Julga-me, nobre pensador? Pausa para um silêncio cá do meu lado, para depois o mesmo continuar. As palavras não sentiam mais um peso.

- Não querem a continuidade da orbe, mas serei um sustentáculo para que este paradigma perdure um tanto mais em firmamento. Satan abdica do trono do qual enclausurou-se, deleitou-se nas miríades de sanguinolência e morte gerada ao seu bel prazer, superiores, imanes comparativamente ao que prezaria uma dita normatividade destes campos. Eu, também estava confinado a uma existência vazada, espreitando a sorte de todos os pecados e maldições impregnadas nas ações, no respirar, na adução dos fazeres e favores da humanidade. Pressenti obliquamente este fadado destino. E de alguma maneira, busquei auferir ser parte determinante no processo de julgo e execução de cada ação de risco dos homens. Lancei-me as guerras, para tentar saciar meu intento. Mas a minha condição carnal era um limite para tão arrojadas e grandiosas pretensões. Eu almejava mais. Meu querer se expressava na máxima obliteração do rastro destes abjetos seres.

- Então já considerava a existência desse universo e das possibilidades que poderiam ser doadas par você?

- Evidente que não meu caro. A correspondência a mim chegou numa fase decisiva entre descrença em tudo. Foi o lume necessário para reavivar minhas expectativas de conhecer potencialidades distintas e díspares da resumida vida na Terra. Minha jornada não estava arquitetada e concatenada com as mirabolantes fissuras que Satan aprecia e deseja. Tão somente vim, pela curiosidade etérea do sabor do chá e pelo deslumbre de um objetivo há tempos olvidado.

- Aceitastes rapidamente aquilo que te imputaram. Agora sois, ou será em instantes, o senhor do inferno. Por quanto tempo? Não saberemos das intenções totais daqueles dois seres e sua horda de seguidores. Não sei como lidarás com a intenção de Metatron em acabar com este recinto. Ou estaria eu enganado em perceber que a legião não tem a mínima intenção de combater o novo regente?

- Cirúrgico nobre pensador. Entendamos a presença das tropas celestes por dois vieses ...

A fala, o caminhar, os traços e trejeitos de Duque não mais se assemelhavam ao ser que há pouco tempo brindava comigo. Não que anteriormente ele transparecesse mais humanidade, emoções de apego ou algo similar. Mas todo seu turno na caminhada da entrada de Cocytus até o templo, o demonizara. Em continuidade e conformidade com minhas observações, encerrava sua fala no tom sarcástico e satânico.

- Cá estão todos serafins e querubins para a provação dessa nova ordem da existência. Cá morreram aqueles que não seguirem disciplinarmente o tracejo pontilhado e arquitetado por eles dois. Esse é o primeiro ponto; o segundo, mesmo que tu te afastastes da presença humana, é exatamente no sentido de coibir pequenas insurreições que possam ser geradas entre eles e a regência, embora, pelo que suportara conviver em vida, mas fácil eles se destruírem antes de qualquer rebelião.

- Encerra-se o Duque de Copas então ...

- Não pensador. Agora que ele se faz essência.

O brilho distante despertara minha atenção ...


Sócrates jogando poker em Cocytus com Satan

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