terça-feira, 31 de maio de 2016

Moral


Na van lotada, organização dos espaços. Há reclamação. "Ajeita aí, Moral!" , e as vagas aparecem. Segue viagem. Moral. Conjunto de regras. Moral. Ética, respeito. Moral. Marcador identitário. "Vou descer na Bomba, Moral!". A cara de menino que aprendeu Moral pra chamar os outros. E se marca assim. Conduta. Realidade concreta. Uma realidade que chama pra disciplina. Não é a única possível. É talvez a mais forte. Marcante. Ordem. Existência. Moral.

terça-feira, 17 de maio de 2016

O outono em mim


Você me chama:
para longe, é que te espero;
sem o porto de afetos
naufrago antes do fim

Mil quilômetros aqui da esquina
despedaçados abraços fáceis
de dia, ou tarde, quiçá táteis
sobrepujavam o todo ruim

Me chama, apagando;
do tempo, não se sustentam as memórias
tampouco se gravará nas histórias
do agora outono em mim

André Café

terça-feira, 10 de maio de 2016

Os secundaristas


A geração antes, antes de mim pintou a cara e beijou o patrão
A geração antes de mim ficou perdida e bateu com a cara na parede
A geração que estou ainda tenta, mas fica presa a coisas idiotas
A geração que está vindo depois de mim...
A geração que está vindo depois de mim, essa sim, está honrando os que morreram antes, antes, antes de mim
Espero que a geração que virá depois, depois de mim, elaborará o verdadeiro mundo que outros tanto tentaram.

Miguel Coutinho

Ai que vida


Crescendo com as tão paredes brancas
sem vida, sem pinga, sem um pingo de cor
Andando em vielas turvas, intangíveis, invisíveis
Acordando com o canto das sirenes, de tiro, de polícia, de hora aula
Dançando ao som dos despertadores, incolores, arrastado, verdadeiros atores
Cantando os 7 passos para se conseguir um bom emprego, tem que ter cabeça erguida, sem arrego
Admirando a arte da impossibilidade de viver igual se prega nas televisões, vida tosca sem canções
Exercitando os músculos nas hastes dos ônibus
Tomando cafés para ter mais de 24 horas no dia
Esquecendo que a vida vai para além de 3 salários mínimos, bem meninos
Tocando as notas musicais dos vídeos aula
Achando que ser saudável é terminar a vida que disseram
Ai que vida, ai que vida, ai que vida...
Ai que vida, ai que vida, ai que vida...
E ainda se perguntam por que tanto diazepam e tanta ritalina...
Ai que vida, ai que vida, ai que vida...
Ai que vida, ai que vida, ai que vida...

Miguel Coutinho

Dor de amor


Dor que é minha
É tua e do mundo
Sempre tive a ilusão,
De ser o único a padecer ...
Um dia, olhei o mundo
E no chão vi apenas os cacos,
Dos corações iludidos e pisoteados
Era tanto amor pelo chão...
Que faltava na alma alheia
Aí eu descobrir
Do que a estrada da vida é feita.
De cacos!
Cacos de mim,
E de ti...
Tudo isso
Para um novo amor passar.
E mais na frente se quebrar!
Porquê o amor é assim,
Suicida!
Amor bonito é amor sofrido
Pois que se não ele passa despercebido.
E sem lágrimas de amor
Não existe o samba
Que permeia a estrada
Do boémio sonhador.

Yara Silva

O diário de uma mãe


No ventre de uma jovem mulher, eu era uma obra-prima arquitetada pelo criador.
Na infância, eu era a pupila dos olhos dos meus pais.
No meu tempo de meninice, adorava comer o bolo de fubá feito pela minha avó.
Na adolescência vivi os conflitos da identidade.
Na juventude descobri os efeitos da paixão.
O casamento foi o voto que fiz em nome do amor.
Tornei-me mulher!
Conquistei o meu espaço no campo profissional.
No meu ventre o fruto do meu amor, o amor incondicional.
O ciclo da vida se inicia nos olhos de Maria, a minha amada filha.
O tempo, mestre do destino, deixou marcas das vicissitudes na minha face.
A minha filha tornou-se mãe, a minha amada mãezinha se foi no barco do destino, guiada pela paz rumo à eternidade.
Os meus netos correm pela casa.
Na memória, os belos dias, as recordações que nunca esquecerei.
Sou uma mulher realizada, sou uma mãe convicta!
Aos 98 anos, vejo a minha vida se esvair pelo ralo do existir.
Para as mulheres deixo a seguinte mensagem: Ser mulher é romper com os limites da vida, ofertando a possibilidade da vida para os homens, sensibilizando o mundo, perpetuando um olhar poético e amamentando o progresso da humanidade.
Um salve pra todas as mães!

Dhiogo J. Caetano

sexta-feira, 6 de maio de 2016

A cor do trabalhador

Trabalhador rural - Gisele Menegasse

Temos em nossas peles a cor de café,
Alguns nossos são cor do melaço da cana,
Cores mais lindas da beleza humana
As vezes com um pouquinho de leite
Cor café com leite, as vezes mais leite que café
Alguns tem cor de mel
com olhos da cor do céu
Céu nublado, céu estrelado
Céu "bonito pra chover",
Céu que as vezes não se vê
Somos a cor do corte do pau-brasil
a cor da cana-de-açúcar
a cor do café
a cor da fuligem das fábricas
do pau-de-arara
do bóia-fria
a cor campo
a cor da enxada
a cor da cidade
a cor do navio negreiro
a cor do Brasil inteiro

Miguel Coutinho Jr., 2016

Se eu quero, fui


Se eu tomo chá, está errado
Se eu como chocolate, é gula
Se eu sinto dor, analgésico, procure um médico
Se eu bebo café, não deve
Se eu bebo suco, falta dinheiro
Se eu uso pomada, que frescura
Se eu estou cansado, erva cidreira, tente dormir
Se eu estou triste, conselho, você é capaz, você vai superar
Se eu estou assim, é assado
Mas se é comprado, comunista
Se eu quero, não posso
Se eu desejo, impossível
Se eu aprendo, é obrigado
Se eu quero você, tem trabalho
Se eu quero viver, salário

Miguel Coutinho Jr., 2016

51 para 6000


Mais uma cachaça pra ver se passa
Dose na proporção, quem diria
Chegar tão perto um dia
De raiz não tão quadrada

Lapidada no eixo de permissão
Construída no passo de liberdade
Rompendo com produções a saudade
Coletiva nos peitos a inflamar

Saindo do forno mais uma expressa
No gesto imóvel do irmão
Aceso a chama de iluminar.

Pra ver a poesia raiar
No giro incandescente de rebeldia
Folia de pensamentos imateriais.

Cume


O cosmo de tanto em tanto flui poema,
Energia circula em nuvens vastas, alto da montanha,
Gira o pião, imensidão tamanha,
Assanha todos os desejos de temas.

Inscrito na pedra da resiliência,
ganha viço no som de flautas, de rebeldia,
Sabedoria de feiticeiros, colar de sonho,
Expressa quanta melodia para a cadência.

Vale o fluxo de pensamentos,
Esforço abafado de quem tenta
Sair de bateria renovada.

Que bate calada um outro verso,
Sobrado de mil casas, resto do terço,
Encerra de sobressalto a liturgia.

*música a partir do André Café Oliveira

quinta-feira, 5 de maio de 2016

O Eu das vezes.


Dos dias de brilho frio: The Dreamer.
O sol já canta fino, assinando, pouco a pouco, o rosto recém despertado.
Dias assim lembram da beleza de estar só:
cabelos sujos
roupa gasta pelo tempo
a voz rouca,
um suspiro de outono próximo.
Algo sem demais cuidados: casa por limpar. peças distribuídas por todos os cômodos.
Há aqueles que quando pensam em felicidade,
remetem a grandes aventuras, a fugas, à família, ou mesmo
à liberdade dos pássaros.
Não.
Na poesia friccionando meu corpo,
Num entra e sai sem espaço para prosa,
um balde cheio de café requentado
faz borbulhar um ontem cheirando vontade.

Tassi

quarta-feira, 4 de maio de 2016

O presente é melancolia


Ela me abordou de repente,
e espalhou ansiedades e calmarias;
grifou que o presente é melancolia,
sem saber por que sente

Quis calar; falando, explodindo
ou saudade, ou certeza; conformação
tempo, amargura de ilusão,
brinca com quem vai resistindo

Eu, me abracei ao tiro dado,
oras, o dito é minha existência
que cada pranto pronto não dá a ciência
da força enquadrada num grito calado

Li, como se espelho fosses;
na busca de encurtar o dilema,
fiz risco, placebo é o poema
pro abraço de infinitas dores

André Café e  Raíssa Cagliari




Ensaio sobre a loucura numa insônia qualquer


Era 01:00 hora da manhã, madrugada silenciosa e escura quando a loucura olhou pra mim e disse:

_ Tu és louco por simplesmente ter algo concreto em acreditar.
_ Tu és louco por não se submeter a farsa que os outros já estão apaixonados e seduzidos.
_ Tu és louco por teres princípios e firmeza no que acreditas.
_ Tu és louco por falar a verdade e romper com o que lhe foi imposto.
_ Tu és louco por não te convencerem em nome do maniqueísmo corrupto da pilha com o prazo de validade vencido.
_ Tu és louco por sonhar e quereres fazer do seu sonho realidade.
_ Tu és louco por dizer o que os outros tem medo de dizer.
_ Tu és louco, impulsivo, vanguardista, espetaculoso por apenas não defender a quem já lhe bateu de chicote.
_ Tu és louco por propor o que vai além da quadrinhos dos jornais.
_ Tu és louco por apenas fazer os que os outros ficam no dizer.
_ Já te chamaram de Moisés, por quereres abrir o Mar Vermelho.
_ Já te chamaram de farol por queres iluminar os caminhos dos navegantes perdidos.
_ Já te chamaram de sectário por não querer aliança com Capitães do Mato.
_ Já te chamaram de vanguarda, já te chamaram de tanta coisa.
_ Uma pena que os que mesmos que te chamam destes nomes são os mesmos que fecham vários Mares Vermelhos, apagam diversas luzes de faróis, combatem tantas vanguardas e hoje paqueram Capitães do Mato.

Loucura, por que não me beijas?

Miguel Coutinho Jr., 2016

Os reformistas



As máscaras estão caindo.
As máscaras dos falsos profetas, dos falsos guerreiros, e falsos comandantes
A carne por de trás das máscaras são podres e cheias de vermes
Não há caixões para tantos corpos sucumbidos depois de tanta mentira
Falta tanto caráter por de trás das armaduras que o cheiro já não permite aproximação alguma
Eis aqui os falsos militantes!

Miguel Coutinho Jr., 2016

terça-feira, 3 de maio de 2016

Limites?


Seu coração é ousado,
seu corpo é atrevido;
Seu desejo tem loucura,
seu pensamento, rebeldia.
Sua doçura quebra barreiras,
que achava que não devia.
Seus limites e os meus,
agora uma travessia,
com mãos trêmulas,
corpos inflamados,
desejos incontidos,
prazeres rebeldes,
corpos suados,
loucuras,
doçuras...
linhas cruzadas:
a minha

e a sua.


Áureo João de Sousa. Teresina, 02 de fevereiro de 2016.

Pedra



És professora,
és pau,
és pedra !!!
és sal,
és caminho, de pau, pedra e sal.


És cabeça de pedra,
és coração de pedra,
és caminho de pedra,
és pedra,
cabeça, coração, caminho.


És pedra sobre pedra,
és pedra no caminho,
és caminho de pedra,
és o que és,
pedra.


És pau,
és pedra,
és pó,
és poeira de pó de pedra,
és preciosa pedra.

Áureo João de Sousa. Teresina, 14 de abril de 2016.

Um encontro com Juliana


Eu gosto do jeito latino das brasileiras que se aceitam brasileiras. Mas devo confessar que não sei o que as diferencia das outras nacionalidades porque, no fundo, é a latinidade em si que me toca. A pessoa é latina, tem jeito de latina e vive a vida aceitando essa latinidade, essa brasilidade. Não é algo sensual como se diz lá fora, nada que sexualize o nascer brasileira, o viver no sul do mundo. É um jeito apenas. E é isso que me agrada nas mulheres brasileiras: essa coisa de aceitar ser daqui e viver como se, de fato, fosse daqui. Sem grandes imposições de outras culturas.

Há duas semanas eu conheci uma brasileira. Mas ela não parecia ser dessas que aceitam suas raízes, seu carnaval, seus orixás. Sinceramente, ela não parecia ter essa nacionalidade, nem tampouco ser latina e, em realidade, o fato de eu saber que ela era brasileira e falava português com um sotaque que eu desconhecia, pois nunca ouvi sua voz, parecia ser a única coisa que nos trouxesse algum tipo de aproximação. E só.

Mesmo assim, essa brasileira estrangeira tinha algo em seu jeito que me encantava de tal modo, o que me fez criar um mundo a ela.

A começar por seu olhar tímido que parecia não acompanhar seu corpo confiante. Era um modo blasé de ser sem saber que se está sendo. Era algo que me remetia a uma artificialidade mais natural que já havia visto. E eu, no passar dos dias, ia julgado mil características a ela que nem sei se, de fato, as tem.
Talvez faça um esporte diferente, como remo, por exemplo. Mas ela não me parece gostar muito de água, me parece mais pé no chão. Não sei! Quem sabe tênis?...
Talvez tenha viajado ao Japão em 2012; fale francês e mais três línguas; desenhe mulheres nuas, ou coisas abstratas que nunca iria conseguir interpretar. Parece não gostar de nada que remeta às brasilidades: nem samba, nem funk, nem rap, nem nada que soe um pandeiro, um tambor. Parece ser do jazz, do rock, do blues. Não parece leitora de clássicos. Tem tom de geração y. Talvez nem goste de poesia. Quem sabe seja leitora das pequenas crônicas ou dos romances contemporâneos.
Eu dei um nome a ela: Juliana. Pensei que, ao menos, o nome seria BEM brasileiro! Depois descobri que nem esse nome ela tinha.
Nos fins de semana, deve prezar pelas comidas mais refinadas. Enquanto que semanalmente se contente com um simples macarrão instantâneo. Não acredito na possibilidade dela gostar de misturar doce com salgado! E, de igual modo, não me parece gostar de verduras e nem de frutas (quiçá as cítricas...).
Entre filmes e séries, deve optar pelas séries!

Nenhuma característica atribuída a Juliana me faz achá-la mais interessante. O que pesa é eu não saber porque Juliana me encanta.

Descobri seu signo e seu telefone. Mas jamais estabeleci contato.
Um dia a encontrei no ônibus. Foi tão inesperado que eu parecia estar dentro de um filme hollywoodiano.
A vi quando sentei. Ela estava dois bancos a frente de mim. Reconheci pelo tanto de pulseiras no braço. Não podia ser! Era ela? Depois vi o cabelo...Não tinha como não sê-la.
Nunca havia encontrado alguém que eu julgue importante dentro do ônibus. Sempre tive algumas elucubrações a respeito, imaginado algo parecido com outro alguém, mas nunca o acaso havia contribuído para tal acontecimento. Mas aconteceu. Ela estava lá! Olhava fixo pela janela. Não sei se ela havia me visto, mas que passei por sua frente, passei.
Pensei que logo ela desceria e iria me ver. Eu não sabia como me portar. Meu cabelo estava sujo e eu estava com sono. Queria dormir naquele balançar do ônibus. Mas não. Permaneci lá, de olhos abertos, esperando-a descer. Porque ela havia de descer antes de mim!
Eu tratei de arrumar minha postura. acho que ficaria mais bem apresentado. Arrumaria o cabelo para que lado? Peguei um livro. Acho que seria a melhor forma de parecer interessante. Era um livro bom, mas era verde limão. Quem, em sã consciência, acharia interessante alguém lendo um livro com capa verde limão? Iria parecer algo sem importância. Talvez um auto-ajuda. Tratei de esconder a capa. Também catei um lápis que havia guardado. Porque não me bastava ler, tinha que parecer que eu estava me apropriando de algo.
Eu não entendo o motivo, mas meu coração veio a boca quando ela se levantou do banco. Ela iria descer pela porta mais próxima a mim. Ela me veria e eu estaria lendo.
Eu estava de cabeça baixa tentando espiá-la de rabo de olho, mas não consegui ver se, em algum momento, ela chegou a me observar. Resolvi tirar os olhos do livro. Por que não olhá-la? Agora pouco me importava, queria que me visse e os olhares se cruzassem! Mas, ela não se voltou a mim em nenhum momento sequer.
Essa cena até me lembrou do personagem de A Docil, de Dostoiévski, o qual,  ao abrir e fechar os olhos repentinamente e observar Lukéria apontando a arma sob sua têmpora, não soube dizer se, naquele breve instante, ela o tinha visto olhá-la. Ele nunca soube.

Eu também nunca saberei se houve esse tempo/espaço de contato entre um olhar e outro.


Guardei o livro e dormi enquanto não chegava a hora de eu solicitar a parada. Cheguei a sonhar que havia recebido um sorriso de Juliana...Mas quando dirigi meu corpo e meu rosto para trás, percebi que não era para mim.

Eu não sei o que ela tem, mas me fascina!

Tassi

Da Barrinha


O caminho é curto; vida longa
pelo cheiro úmido dos trilhos:
mata que respira, canto da arara,
trem de passagem para qualquer rumo

A estrada é barro; vida longa
pelo verde que entorpece:
arvoredos e grotões, num bolado de canções
os olhares 'desaluem' do aprumo

A vereda vive; vida longa
no encontro do caleidoscópio:
a parada é pra ficar, pros daqui ou estrelar
tanta história que não cabe num resumo

Mergulho no natural; vida longa
o lugar mistificado:
dos cantares, poesia, pra fazer da noite o dia
e sugado de prazeres até o sumo

André Café

Na escuridão


Procuro uma companhia
Para falar poesia e soltar mentiras
Todos os dias vivo a realidade.
Aquela coisa chata
Acordar fingir disposição
Ser real.
Não quero isso
Quero brincar de iludir
Contar vantagens bobas
Fazer sorrir .
Na escuridão do quarto
Busco uma conversa amena
Pela necessidade de existir.
Não interessa ser,
Puritano,puta ou normal
Só não tens a permissão
Para ser ser frio.
Fale sobre tudo
Mas fale!
Não seja o eco do meu silêncio.
Seja a voz, a conversa .
Seja a luz
Da minha escuridão.

Yara Silva

Sem culpa


Te comunico que tudo acabou,
Meus joelhos já saíram do chão
Sem culpa te olho nos olhos ,
Pra dizer que aceito o fim.
Depois dos erros,acerto e devaneios
Vou partir, perdão pelo teu sofrer
Pelo teu sorrir...
Por alimentar tua prepotência
Com minha culpa eterna.
Em um amanhecer qualquer descobri,
Eu ainda estava lá.
Vi que além de ti
Existia o mundo.
Hoje te dou a paz que tanto quis
Minha alma vai pro mundo
Com aquele desejo,
De não voltar mais.
Agora,
Olhe o sol,
Pois vou partir
A final
É preciso sorrir.

Yara Silva

O proprietário das cópias imperfeitas de uma realidade transitória


Ao longo da caminhada evolutiva da humanidade, o progresso encaminhou os homens para a propriedade privada, e os mesmos iniciaram o cultivo do ego, em todas as vertentes da vida humana.
Concordo que são necessárias as leis, para manter a ordem no meio social. Porém, precisamos despertar para a marcha rumo a eternidade.
Não somos proprietários de nada. A arte, a escrita, usam-nos como meros difusores, a vida é um fluxo constante, e nós somos a parte efêmera desse comboio.
Normativamente se faz necessário o uso segundo as regras da ABTN, citando corretamente trechos, textos e parágrafos, explicitando sua autoria, nunca se esquecendo das aspas, promovendo a construção científica de um trabalho anti-plágio.
Mas nada é novo, tudo simplesmente se transforma. Podemos escrever coisas semelhantes. Vivemos em contextos diferentes, mas as “dores” são as mesmas... Em um texto a arte registrada de diversos “mundos”, sentimentos e momentos.
Ninguém é proprietário, vivemos uma ilusão, um reflexo efêmero, amanhã pode ser o fim de mais uma criatura. Não cultivemos a egolatria, compartilhemos a mensagem. Que a boa nova se multiplique em diversos livros, discursos e narrativas.
A realidade vivida é parte da nossa memória, uma alusão em preto e branco, pois compartilhamos uma irrealidade quase perfeita, ou seja, vivemos uma cópia quase perfeita de um mundo dito real.

Dhiogo J. Caetano

Oração de ir pra rua (às margaridas de luta)


há um sussurro urgente
dentro de uma multidão
insurgente de margaridas
de uma nação
há um sopro que marca
muito do pouco de algo
de uma democracia
em ebulição
há um pavio já aceso
estimulando aquele
orgulho do ovário
entre orvalho machista
golpes fascistas
e olhares conservadores
todos perdidos nas veredas
das verdades vendadas
da vida
que é crua e chama
de oração
o fogo que salvaria
um país
ou todos
mas
que horas são?
quando algumas horas
a mais
ainda são horas
de ir pra rua
à luta
e nada mais

laís grass possebon

Não vai ter golpe. Já tem luta. E poesia também.

Devaneios I- Vida


Sou mais um dentre outros tantos
Aquele que semrpre se lamenta pelos cantos
Sou aquele que sempre pensar antes de agir
Aquele que na maioria das vezes só pensa em daqui sumir
Sou mais um numa vida que não me pertence
Alguém que possui um coração inocente
Pelos maiores motivos sempre esteve presente
Sou aquele que escreve frases e versos à procura de uma resposta
Um indivíduo que sempre teve uma alma feliz e disposta.
Quem ou eu?????
Sou eu o cara que esquece de tudo?
Sou eu o mocinho da história?
Sou o poea de fundo de quintal?
Sou o romântico à moda antiga?
Sou o safado da era moderna?
Ou será que eu sou apenas uma certa página de um livro que está no fim?
Somos personagens de uma crônica mal resolvida
Páginas pela metade sem nexo e resolução
A cada dia precisamos escrever uma fase importante
Seja amor, ódio, angústia ou felicidade exacerbante
Quem somos nós?
O casal perfeito de histórias infantis?
Os vilões de um filme de suspense?
Nós temos os mesmos defeitos,
Sabemos tudo à nosso respeito
Somos suspeitos de crime perfeito
Mas talvez podemos ser aqueles que sempre sonham acordados em nossos leitos.
Ser ou não ser, perder ou ganhar, sorrir ou chorar?
Às vezes somos tão obstinados com certas coisas que no chão esquecemos de pisar.
Vida e morte estão lado à lado, uma vida começa e a outra se apaga
Somos apenas crianças em um mundo cheio de tristezas ou esperanças
O que somos nós, somos ninguém vivendo em um mundo cheio de alguéns
Torcendo pra que tudo temine feliz e com todos os bens.
Mas a pergunta que vale um milhão.......
Por quê existimos??

Cristian Muchilla

Metamorfoses


Assim eis terminada a minha obra
Que destruir não poderão jamais
A cólera de Jove, o ferro, o fogo
E a passagem do tempo. Quando o dia
Em que pereça a minha vida incerta
Chegar, o que em mim há de melhor
Não há de perecer. Subindo aos astros
Meu nome por si mesmo viverá.
Em toda a parte onde o poder de Roma
Se estende sobre as terras submissas,
Os homens me lerão, e minha fama
Há de viver, por séculos e séculos,
Se valem dos poetas os presságios!!

Cristian Muchilla

Dias de setembro.


No arvoredo dormem a natureza
Que de transparente riacho nos molha.

Do eucalipto em flor toda orvalhosa
De aromas se inebria
Quando de tão úmida o vento que os ares te perfumam.

É a brisa a que nos cerca
No sereno azul estrelar
Que em face do orvalho te seca

Era digna de ti aquelas estrelas
Que no sereno emprestava seus véus
E da montanha seu frescor.

Já orávamos ao Senhor, por aquele Amor, o nosso Amor!

" Araújo. Bruna Caroline"

Ocupação


De longe, no alto da ladeira,
Uma cabana ali em construção,
Feita com cuidado
Nas turbulências diárias,
Resistindo no terreno ocupado,
A vontade de criar um vínculo
Da claridade, luz acender.
Arrancando do chão molhado,
A parede pra cobrir seu interior;
Livrando do sol e da chuva
No abrigo do familiar calor;
Pois labuta no monte,
Encharcado de suor,
Enxada, facão
Tirando aos montes
Capim, mato e cipó.
Com esmero e paciência
Que resguardam da dor,
Sem clemencia
A força de levantar a vida.
Está erguida....
Pronta para um vínculo
E assim morar.

William Feitosa

O Senhor Tempo


No olhar as transvisões do mundo.
No corpo os reflexos da convivência com o senhor tempo.
Os narradores da vida.
Contadores de história.
Aqueles que vivenciaram inúmeras alvoradas.
Experimentadores de múltiplas sensações.
Uma poesia burilada pelos fluxos do dia a dia.
Uma melodia entoada pelo anoitecer.
Anciões que superaram a velhice.
Idosos que fazem desta fase a melhor idade.
Enxerguemos aqueles que trasviram as nuanças da caminhada evolutiva.

Dhiogo J. Caetano

Sou minha


Quando olho o horizonte
Vejo as marcas, as nuances
De existências diversas
Pertencentes a uma alma
Que no fim
Não pertence a ninguém.
Sou minha...
Para gritar
Rir
Fingir a alegria que deverás sinto.
Quando te peço pra ficar
Não é para te dar ,
O que já me pertence
E sim pra preencher os espaços...
Sou minha, apenas
Na imensidão de ser
Existe a falta de sentir.
No meio da furia feminina,
Mergulho na epifânia da culpa.
Mas no fim,
Sou minha...
Para chorar,
A dor de não ser
Mais tua.

Yara Silva

Sou prefácio de mim mesma, pomba branca, Repousada na sombra do leão. Serenidade escondida, vulcão apagado. Sou prefácio de mim mesma, eternidade esguia no bater da meia noite. Curiosidade sombria, planalto de angústia e poemas. Sou prefácio de mim mesma, beijo suave da noite. Grito abafado, lábios esquivos. Tela inacabada. Sou prefácio de mim mesma, música lírica, luz duma estrela distante. Fruto das circunstâncias, confluência do amor. Luar que beija a linha da água do mar. Sou prefácio de mim mesma, incógnita de um destino ingrato. Chuva de Verão, Sol de Inverno. Mistério envergonhado de um sonho de menina. Sou prefácio de mim mesma. Quero ser. Epílogo de uma lágrima que escorre pelo rosto. Renasce. Quero ser. Útero de uma vida esquecida. Quero ser. Força de uma vontade daninha. Estilhaço de uma vitória muda. Sou prefácio de mim mesma. Pele de uma mulher. Alma de uma fênix. Grito de um silêncio.

Deyne Caroline

Para além do microondas


Para além do microondas;
longe daquilo que não se vê
encurtando distâncias,
reaproximando astros, mitos e sentimentos

Para voar inerte, de um ponto ao mesmo lugar
um jogo de cartas fora da tv,
tangenciando o contato,
saindo perpendicularmente dos paralelos

Aquecer as partículas de pertinho mesmo, do jeito antigo;
no ato impossível de se prever,
um choque macio, um frio quentinho,
revolvendo o arrepio esquecido em silêncios

André Café e Bruna Barlach