sábado, 30 de janeiro de 2016

Entre carros, poeira e baratas


Desperto com o sol na cara
Me encara e assim vai ser o dia
Olho pra cima, o sol ria
“Teu dia vai ser aquele dia!”

No vai e vem das borrachas
Em pé e com solavanco
Poeira em meu pranto
Nos meus pés baratas

Pés que me pisam e passam
Mãos que pedem e disfarçam
A estupidez de não se firmar
“Amém irmão”? Vamos doar!

Não!!!

Não tenho sangue de barata!
Mesmo com o “trec” da catraca
Aguento esse mesmo sol vingativo
Atento, calado, calmo e altivo

Esgotos a céu aberto e lixos espalhados
Vejo o dia e a noite, repetimos os passos
Sol, borracha, poeira, amém e catracas
Mas não nos esqueçamos das baratas!

(29 de agosto de 2015)

Hugo Barros

... poesia


A boca do poema sem voz;
no algoz, seu próprio rito
limítrofe estrofe
nos quatros cantos letrada

A rouca e resistente chama
do grotão, sertão guerrilha
é ilha, para o código de barras
distante da sextilha enfeitada

Mas a poesia não descansa,
devora-se e explode semente.
no altar de quem não sente,
repousa o verso do mundo,
para ninguém ser mudo
na redondilha regrada

André Café

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Caminhada
No inicio da minha vida
Eu já me sentia cansada
Como se estivesse no meio
Ou mesmo no fim da estrada!
*
E não era um cansaço qualquer
Nem mesmo um jeito comum
Era daqueles de tirar a coragem
E a força de qualquer um.
**
Mesmo assim eu segui
Andando dia após dia
E não cheguei nem na metade
Do caminho que eu pretendia
***
Eu preciso ir o mais longe
O mais distante que eu puder
Pra mostrar pra essa gente
A força que tem uma mulher!

(Joana D´Arc)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Prólogo II da saída de Cocytus: breve diálogo entre os alteregos



Caminhavam num passo mais apressado, Satan e Metatron. O templo não tão distante, mas enorme como a soberba e maliciosa sabedoria do seu regente. Ao meu lado, ainda num silêncio instigante, o Duque, aparentando uma ansiedade mórbida, entre manter o niilismo exacerbado de sua marca e algum tipo de euforia pela conquista próxima. Mas o diálogo não demoraria iniciar-se:

- Julga-me, nobre pensador? Pausa para um silêncio cá do meu lado, para depois o mesmo continuar. As palavras não sentiam mais um peso.

- Não querem a continuidade da orbe, mas serei um sustentáculo para que este paradigma perdure um tanto mais em firmamento. Satan abdica do trono do qual enclausurou-se, deleitou-se nas miríades de sanguinolência e morte gerada ao seu bel prazer, superiores, imanes comparativamente ao que prezaria uma dita normatividade destes campos. Eu, também estava confinado a uma existência vazada, espreitando a sorte de todos os pecados e maldições impregnadas nas ações, no respirar, na adução dos fazeres e favores da humanidade. Pressenti obliquamente este fadado destino. E de alguma maneira, busquei auferir ser parte determinante no processo de julgo e execução de cada ação de risco dos homens. Lancei-me as guerras, para tentar saciar meu intento. Mas a minha condição carnal era um limite para tão arrojadas e grandiosas pretensões. Eu almejava mais. Meu querer se expressava na máxima obliteração do rastro destes abjetos seres.

- Então já considerava a existência desse universo e das possibilidades que poderiam ser doadas par você?

- Evidente que não meu caro. A correspondência a mim chegou numa fase decisiva entre descrença em tudo. Foi o lume necessário para reavivar minhas expectativas de conhecer potencialidades distintas e díspares da resumida vida na Terra. Minha jornada não estava arquitetada e concatenada com as mirabolantes fissuras que Satan aprecia e deseja. Tão somente vim, pela curiosidade etérea do sabor do chá e pelo deslumbre de um objetivo há tempos olvidado.

- Aceitastes rapidamente aquilo que te imputaram. Agora sois, ou será em instantes, o senhor do inferno. Por quanto tempo? Não saberemos das intenções totais daqueles dois seres e sua horda de seguidores. Não sei como lidarás com a intenção de Metatron em acabar com este recinto. Ou estaria eu enganado em perceber que a legião não tem a mínima intenção de combater o novo regente?

- Cirúrgico nobre pensador. Entendamos a presença das tropas celestes por dois vieses ...

A fala, o caminhar, os traços e trejeitos de Duque não mais se assemelhavam ao ser que há pouco tempo brindava comigo. Não que anteriormente ele transparecesse mais humanidade, emoções de apego ou algo similar. Mas todo seu turno na caminhada da entrada de Cocytus até o templo, o demonizara. Em continuidade e conformidade com minhas observações, encerrava sua fala no tom sarcástico e satânico.

- Cá estão todos serafins e querubins para a provação dessa nova ordem da existência. Cá morreram aqueles que não seguirem disciplinarmente o tracejo pontilhado e arquitetado por eles dois. Esse é o primeiro ponto; o segundo, mesmo que tu te afastastes da presença humana, é exatamente no sentido de coibir pequenas insurreições que possam ser geradas entre eles e a regência, embora, pelo que suportara conviver em vida, mas fácil eles se destruírem antes de qualquer rebelião.

- Encerra-se o Duque de Copas então ...

- Não pensador. Agora que ele se faz essência.

O brilho distante despertara minha atenção ...


Sócrates jogando poker em Cocytus com Satan

Amigo


Amigo, por que andas assim tão perdido?
Nossos inimigos estão cada dia mais ousados
Amigo, estamos num momento difícil, estamos em tempos de conversar
Senta aqui cara, nós precisamos conversar
Roubaram-nos mais uma vez, não é hora de brigarmos
Vou ali pegar um café para nós dois
Amigo, das coisas mais catastróficas da humanidade
a pior delas é estarmos distantes
Ambos sofremos do mesmo mal, nossa causa é a mesma, precisamos conversar, precisamos nos organizar
Amigo, não seja tão assim
está aqui o seu café
Como você está?

Miguel Coutinho Jr., 2015

Poema ao mar II: caixinha de correspondência


Aqui não chega o mar
tem areia nas paredes
mas no sal não há vermelho
pacífico morto
reviro-me no quarto
do baú ao espelho e
busco cartas de
doçuras escritas
aflita
escrevo sobre a falta
que faz a praia
no inverno e na casa
caixinha de correspondências
vazia
não confio em quem
da costa
não escreve cartinhas de amor
cheias de areia
de sal
de sol
à amada que morre
por amar seu amor
do mar

Laìs Ha

Poema ao mar I: caixinha de música


O silêncio criado se vai
pelo vão da porta
entreaberta
o som da caixinha de música
se esvai pela vidraça quebrada
coberta
por uma cortina de flores
margaridas brotaram do lado
de fora da velha cabana
não há sonoridade nos cômodos
não há silêncio nos aposentos
estranho silente sonoro
desmonta quarto e cozinha
vazia se nota a mesa
o assoalho apaga marcas
de botinas sujas de terra
os homens se foram
foram ao mar vender
seus dias restantes
seus restos de homens
sobre eles não se fala
nessa família de mulheres
fêmeas pariram sozinhas
meninas cresceram sem sonhos
de serem mulheres
de famílias
de homens
do mar
marinheiros se vão
ao porto embarcam
não retornam às margaridas
de suas cabanas antigas
onde estranhos silentes sonoros
desmontam caixinhas de música
das meninas sem sonhos

Laìs Ha

Negras tormentas II


O tempo e sufoco pedem novo calor;
não aquele pelo Sol disparado,
e sim um fulgor organizado
tremulando pelas hastes as convicções,
e toda força para transformações
desse mundo capitalizado

Quente é a chama de quem se indigna,
diante de mais um golpe planejado,
nascido do pacto capital e estado,
que criminaliza nossas futuras ações
mas ninguém se calará frente às reinações
desse sistema hierarquizado

O fogo certamente acenderá
nas mãos e corações à revelia
lado a lado, a trupe caminhará
para o que antes soava fantasia

André Café

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Meu luto


Em memória dos trabalhadores mortos em Chicago, eu luto
Em memória das trabalhadoras mortas por se manifestarem no 8 de março, eu luto
Em memória dos camponeses da Rússia, do México, mortos por lutarem, eu luto
Em memória àquelas que morreram na Espanha e aqueles que foram exilados da América Latina em anos de ferro, eu luto
Em memória à todos eu visto preto e luto!

Miguel Coutinho Jr., 2015

Tá difícil, tá roça

Sorridi anche se il tuo sorriso è triste, perchè più triste di un sorriso
triste c’è la tristezza di non saper sorridere. Jim Morrison - Andrea Zordan
aqui

Está difícil pensar no impossível
Está doloroso sorrir todos os dias
Está difícil escrever poemas
Cantar melodias que fazem sorrir
Está difícil caminhar, acordar e beber água
Está permanentemente difícil terminar esta poesia
É tanto grito entalado sobre tanta coisa engasgada
que está difícil escrever coisas que nem deveriam existir.

Miguel Coutinho Jr., 2015

Nosso estado social


Que estado é esse que estou?
Que estado é esse que me deixa assim?
Que estado é esse que me tira o suor?
Que estado é esse que me domina?
Que estado é esse que não me deixa viver?
Que estado é esse?
Que estado é esse?

Miguel Coutinho Jr., 2015

(Por que não acabar com esse estado?)

Dionísio: meu homem mítico


Propínquo aos castiçais de ouro,
sob auréolas afogueadas,
Dionísio, com seu professor Sileno,
sorvia aos goles o vinho
de um sagrado cálice pequeno.
Apresentei-me silente – como o
tempo insone –, cândida e aromática
para que, apesar da ebriedade, não
me percebesse trêmula e várias.
Talvez Dionísio, homem
mítico, admirasse a minha farsa
e me guiasse ao seu teatro na
encosta sul da acrópole de Atenas.

Laìs Ha

Pecados-IV


Ira
Meu sangue ferve a cada dia que passa
Vibrando pelo outro a ter sua desgraça
Sinto ódio de mim mesmo devido a minha bondade
Todos exigem que atenda suas coisas mas ninguém supre minhas necessidades
A cada pessoa que passa diante de meus olhos, vejo um tom de ignorância
Avarentas, prepotentes, lobos em pele de cordeiro, os sentimentos dos semelhantes não dão a maior importância.
Sou um lado obscuro de uma mente tranquila,que aguentou tudo calado
Larguei meus sentimentos de culpa e remorsos todos de lado
Quem sou eu nesse mundo vazio
Apenas uma pobre alma solitária em um mundo de pecadores
Sonhando com a queda desse mundo cheio de opressores
Não tenho pena de quem acaba caindo
Pois no final das contas com a sua tristeza eu acabo sorrindo
Desculpe se minha ironia te magoa tanto
Mesmo se nesse lamentável momento de amargura você acaba ficando.
Sou uma pessoa com rancor doentio que não consegue impor suas idéias nesse texto,
Não sou de mentir, mas acho que nessa circunstância eu arrumo um pretexto
Sou um sentmento sem controle
Sou um fogo que não se apaga
Sou um desejo incontrolável de vingança
Sou um lado que por mais que controle em um monstro você realmente vira
Olá mundo pecador, prazer sou sua Ira.

Cristian Muchilla

Pés No Chão


Filho da terra.
Criatura campestre.
Em tuas mãos o orvalho das manhãs.
No teu rosto a luz do astro rei.
Em teus lábios o doce mel que cativa os beija-flores.
Dos teus olhos vibra a energia da mãe natureza.
Ecos ecoam de teus ouvidos.
Um aroma energizador exala de teus cabelos.
O teu corpo sinergiza os fluxos do cosmo.
A tua fala equilibra a flora.
O teu toque restabelece a fauna.
O vibrar dos teus passos, equaliza as frequências da vida.

Dhiogo J. Caetano

Sobre tapetes de crochê e tela de tevê


Encaixo-me naquele tipo de
pessoas normalmente estranhas
que se sentem apenas solitárias
esquisitas como plutão quando
a sonda new horizons passou
deixando-o singular para trás

sinto-me fria como os granizos
que despencaram no teu telhado
e te perturbaram com o mesmo
frio que te tirou o sono quando
nevou no verão de nosso quarto
ocultando nossos tapetes de crochê

hoje ainda me escondo de tudo e
de todos sem descobrir o porquê
sem acender as minhas luzes ou
aumentar os meus volumes para que
não possam me ver nem me ouvir
imóvel em uma falsa tela de tevê

(Laís Grass Possebon)

(Por de trás do meu coração)


Sobre a cama tantos ditos
Livros, cadernos e escritos
Milhares de insultos num mundo de dor
De pedra, bate coração que seiva
Jorra, poetiza e acalma
Sou poeta que ama mesmo com fome
De que me vale beber?
Queria apenas um beijo teu
Para sonhar com um mundo
Que possamos, juntos, num jardim viver

Miguel Coutinho Jr., 2015

Meu partido não tem pé, não tem cabeça, mas tem coração

Quem é que faz?


Mas eu falo daquela folia;
pra você soa retrô, antiquado
mas deixa disso, vem pra esse lado
que nosso bloco não tem cordão que segure

A gente nos trapos, no pulo ensaiado
ou na pisada em descompasso,
confetes e serpentinas por todo espaço,
no rosto, no corpo, no ar e na alegria

Tinta aquarelando todo riso,
os metais aperreando a peleja,
e pra aguentar o fole, boas cervejas
até que a quarta vire cinzas,
ou até que o dia diga pare,
ou talvez só quando o baile acabe
nas lembranças boas que me fazem carnaval

André Café


Uma conversa com o espelho


__ Você parou de escrever poesias?
__ Ando meio desanimado.
__ O que se passa?
__ As poesias não devem ser escritas por mim. Não sou digno dessas coisas.
__ Que é isso cara!
__ Poesias são bonitas nas mãos de intelectuais. Raros são os pobres que são reconhecidos. Ricos tem educação, livros, bons educadores. Eles tem estética, tem formação pra serem poetas, dirigentes, oradores, narradores. Poesia só é valorizada na boca de playboy. Eu queria mesmo era ter nascido artista plástico. Pelo menos fazia um graffiti onde os outros pobres se reconheceriam.
__ No mundo da poesia não existe amor, no mundo da poesia só existe sobrevivência.

Pavel Gorki, 2016

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Por esse tempo


Quem chama de tempo
os instantes escorridos desses dias?

Corremos, num time que trememos:
não cumprir, desviver, atrasar, perder
o tempo parece nunca ser; já foi, era
enquanto o timoneiro aflito da rotina
teme temporizar sobre segundos perdidos

Segue, siga a saga e a sede que suga
tempo, já dizia outra poesia,
não pode ser o jazigo;
traz consigo,
o olhar, o vivenciar, o lutar por outro mundo,
o cuidar mútuo, o ombro a ombro, o amor e o devir,
caindo vagarosamente
pela ampulheta das vontades:

tempo é gerúndio
e que corra assim, toda realidade

André Café, em referência `poesia Tempo, de Miguel Coutinho

O tempo


Não se passam anos, viradas de anos
Apenas passam-se meses, dias, horas, minutos
Vão passando dores, sofrimentos
Numa eterna correnteza por pontes decaídas de enchentes
de rios que transbordam
O tempo não parou, não continuo, não passou, não é poesia que passarinho
O tempo vai passando, e tudo é empurrado
As vezes deposita no fundo, as vezes diluída, as vezes na superfície
O tempo não parou, não passou, o tempo vai acabando e vai passando
O tempo, o tempo é gerúndio

Miguel Coutinho Jr., 2015

Mural


A voz jamais se cala;
por mais que o silêncio pareça a lei,
a mordaça se rasga a cada grito
ecoa para além do limite dos ritos
dos quais nunca me interessei

Se não voa fora da garganta,
não se engole nenhum pedaço;
a tinta risca com firmeza
pra fissurar qualquer certeza
e anunciar que me desfaço

Mas enquanto o canto não entoa,
a gente segue resistindo,
seja arte, luta ou destruição
cada muro e ato se faz canção
ao som desse mundo se ruindo

André Café

CRIANÇAS, LEMBRANÇAS E FUTURO


Nessa mata fria
escura
de lembranças
profundas
várias crianças
semelhantes aos anões
pequenos ladrões
divertindo-se à beça
parecia uma peça
as meninas de Cinderela
meninos de Peter Pan
uns lutando contra piratas no cais
outros no leme
será que não cresceriam jamais
e seriam felizes pra sempre?

Áurea Valério de Sousa, 12 anos.
Teresina-PI, 30 de Março de 2015

MÃOS. MINHAS MÃOS! É certo que as tenho observado constantemente nos últimos dias. Tão pequenas e encolhidas em meu mundo. Às vezes, discretas, tímidas, dentro dos bolsos, quando não na boca, enfiada aos dedos entre os dentes. Vinte e cinco ano de mãos, quase vinteeseis. Já não são mais as mesmas que antigamente, mas têm me equilibrado aos montes em todo esse tempo.

Talvez agora trabalhe mais e embora eu não tenha mais o calo no dedo anelar da mão esquerda, meus calos estão em outras partes do corpo.
Mãos com unhas fracas, esbranquiçadas, sem força e sem cortes. Sensíveis ao sol, sem linha longa da vida. Las manos! Tenho as duas. Elas que percorrem meu corpo quando preciso de carinho e me molham de prazer ao ser ausência. Mãos amadurecidas, de contato, de mãos apertadas. Sem pressa. Massageiam corpos que não são os meus; abraçam outras mãos, translaçando os dedos. Uma com a caneta na mão, a outra segurando um dos joelhos ou apalpando uma das pernas. Canhota ao escrever, ao apontar, ao girar a chave e puxar o gatilho. Confesso que a esquerda me domina.
As mãos já não me traem, me atraem. Não me seguro nos prazeres. Vou inteira. Se não gosto: enfio-as embaixo das axilas, nego com os dedos. Abro a porta, vou embora. Se gosto: fico, abraço, puxo. No nervosismo, à suo, a roo, a engulo. Com fome, cheiram a alho.


Sem reza. nem para trás nem para frente. coçando o nariz ou os olhos. por vezes, limpando lágrimas.  sem anéis, sem tinta, sem nada.  Do apuro, recuo.

Tassi

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

vida violeta: ela acrônica


enquanto crianças corriam pelo gueto de varsóvia
mortas de medo do tempo e sem ar nos pulmões
viu-se uma carta de luz narrar a vida acrônica de
uma jovem que subsiste em um futuro violeta

ouvindo canções perdidas de mãeana a radiohead
umedecendo seus olhos mpb e seus lábios rock’n’roll
ama páginas marcadas costuradas no corpo celeste
e conta os astros que revelam segredos do cosmos

dizem que noutra época a moça se perdeu com
deuses do monte olimpo e por isso acabou presa
num tempo inundado de pessoas sem quimeras
e teve de se contentar com estórias em tela plana

há relatos de que ela foi a primeira a furtar livros
da biblioteca cardíaca do último condado fantasma
da primeira nação oxidada do universo luminoso
deixando sem peso as estantes de árvores mortas

sabe-se por aí que ela corre e tenta alcançar o real
mas um vento de cores frias não a deixa sair de seu
intelecto utópico e assim sua voz continua soando
como clair de lune para as audições mais raras

ela revive seus dias de outrora e se percebe entre
flores mitológicas numa terra cintilante em que
há o celestial nos sentimentos e o sexo tântrico
é comum entre os amantes e seus corpos poéticos

enquanto os pequeninos de varsóvia se perdiam
pelo gueto e dormiam pensando em suas mães
a carta de luz ensinou a eles a capacidade humana
de sonhar e de desejar a vida numa vida melhor

Laìs Ha

Laila


Não sou muito de sono,
Pois a noite é triste.
Sem a dama que me arranca solidão,
A hipnose não existe.

Quero me abrigar no escuro sem dor:
O ébano derme de meu amor.


William Feitosa Júnior

Ando para a estrada do destino sem fim, e flutuando estou ao paraíso do Amor irreal de mim. Talvez o destino quisesse seu escravo ser... Um viciado do Cálice Santo Graal, vislumbrando este ser perdido a doçura paixão dos que Amam sem: leis, pudores ou ressentimentos. O fogo da chama ascendente do Amor: talvez esteja escondida com a chave da dúvida de Amar o que se julga conhecer...

Porém quem sabe o tempo diga... Que assim como o Amor nos ensina a Amar, seja a maturidade do Amor nos mostrando a viver nos prazeres do toque ou palavras de encanto, na cumplicidade em que os dois sejam um só.

Radas Ribeiro

Mar



Joseph Paz

Aos lobos solitários da noite:
A visão mágica irreal dos sonhos, em se vê iluminado na curiosidade mitológica de uma lenda, o aliviando do atormentado destino trágico de entender a si mesmo, despertando neste ser a loucura em ver as correntes presas em sua mente, o libertando para fazer do agora o principio básico de sua consciência.

Radas Ribeiro

Assassinando Jesus


No olhar o pedido de socorro.
No corpo as marcas de uma vida estigmatizada por escolhas mal sucedidas.
Nas ruas, nos becos, nas calçadas; crianças, jovens, adultos e idosos que vivenciam os burilamentos de uma existência “distante” da felicidade.
O desequilíbrio promove uma sucessão de escolhas fatais.
Na nossa casa uma mesa farta, nas ruas irmãos famintos, com os lábios desidratados, implorando por um gole de água.
O egoísmo e o orgulho são os mestres da perdição humana.
Todos os dias matamos Jesus, com as nossas práticas funestas.
Amar a Deus é cumprir com suas leis, vivenciando a caridade, doando abraços, olhares, palavras.
Precisamos dar as mãos rumo ao progresso da nossa realidade.
O mundo exterior é o resultado das nossas vibrações, diante do ato de doar-se sem promover os questionamentos.
Façamos da caridade uma prática humildemente difundida no decorrer da vida cotidiana.
Não podemos transformar o mundo, mas somos suficientemente capazes de corroborarmos com a regeneração do mesmo.
Chega de violência, de excessos, da busca indiscriminada por sensações.
Jesus é o nosso modelo guia, que suas ações possam nos inspirar, nos despertar.
Exilemos os nossos equívocos, visando a interpretação do amor supremo.
Quando negamos o auxílio a um irmão, negligenciamos as oportunidades da vida.
A racionalidade aguça de forma errônea o juiz de valor.
A nossa inferioridade nos cega diante dos resquícios de verdade.
O mundo está carente de abraços e sorrisos.
Não assassinemos Jesus com as nossas atitudes egoístas, que Ele possa renascer todos os dias através das nossas ações e pensamentos benévolos.

Dhiogo J. Caetano

Amor! resguardo nos colos mendigos da saudade.
Amor! relutante do coração sentido no abrigo calabouço solitário da alma.
Amar! perdoando sem a máscara apática da indiferença.
Amar! simplesmente agindo, nos sonhos ilusórios aonde o
Amor é a perfeição infinita existencial do
Eu.

Radas Ribeiro

Como são


Basta uma história bem contada,
Que arrasta a histeria sem mácula,
Para mexer o vazio das entranhas,
Onde a repulsa ignorante
Expulsa a comoção breve, inoperante.
Por que sou duro em não chorar?
Talvez não me dê a um abraço do par.
Altivez me falta em sentir teu amor,
O amar solidário do beijo que não vejo.
Basta uma ilusória pena retirada
A pluma farsa que derrete ao sol.
Num instante voa, num instante cai.
O sonho livre da emoção ascendida
Esparrama na queda que desfaz a rubra vida.

William Feitosa Júnior

Ode holocênica dos Campos Elísios – De Carmela para o Jardineiro


Era Día de los Muertos quando enterrei
Tuas linhas pequenas e níveas
E linho plantei sobre elas e sobre as flores
Antigas que estavam a vivificar
Os ruídos luminosos do longo fim de ano

Era Día de los Muertos quando cortei
Meus fios laranjas e lisos
E na nuca deixei vivo o cheiro de mar
De um outono frio de maio
Dissimulando os acordes de fim de ano

Era Día de los Muertos quando matei
A morte escura e cínica
E ancorei no velho cais de outra terra
Uma nova forte ventura
Para revelar algum navio de fim de ano

Era Día de los Muertos quando deixei
Apagar sem piedade
As chamas sanguíneas da lareira de tuas
Veias azuis de saudade
Antes de sentir o sangue do fim de ano

Era Día de los Muertos quando evitei
Numa rua deserta
Tua face marcada pela vida da minha
Vida então encoberta
Pelo acórdão lúgubre do fim de ano

Era Día de los Muertos quando amei
O holoceno sucumbido
E terminei todas as leituras maçantes
Para o Dia de Natal
Fortificar-se o mirante de fim de ano

Laìs Ha

Carmela e o Jardineiro


Carmela:

Quando desatava os teus nós de solidão
E te amarrava nos meus olhos de tristeza
Você não me dizia tudo o que sentia
Quando te encontrava empinando
Mil pandorgas com os pequenos
O vento carregava meu aceno até você
Que não me compreendia
Hoje ainda canto que te faria um tapete
Branco de crochê e te leria Hilda nua
Te mostraria o vermelho dessa vida
Mas sem teus jornais no fundo do baú
Sem teu guarda-roupa
Só me resta uma varanda vazia
Mais uma vida sozinha

Jardineiro:

Na minha pele, teus cacos de vidro se perdem
Nos velhos livros, tuas fotos guardadas escrevem
Cartas a Ophelia esquecido comigo
Contigo, meus discos de folk, de blues e de rock
Noite bucólica – ao teu encalço me vejo
Descalça – no meu segredo te vejo
Sagrada – sob a luz de parasselênio
Cartas a Ophelia esquecido comigo
Contigo, meus discos de folk, de blues e de rock

Laìs Ha

Rotinas e botões


De tanto pensar com eles
Meus botões se soltam carregados,
Injuriados.
Caem ao relento esquecidos;
nem ligo,
E nem me aperto em vê-los.
Sem cabeça para pensar,
Escrevo versos ao amigo
Mas perco sua amizade
Sem ao menos rimar
Nos pobres vocábulos impacientes.
Quero a atenção dos pobres
Dos pobres coitados que pensam
Que pensam na vida.
E não na meta da metáfora incerta.
Mas do percurso duro,
Rico de suas boas rotinas.
Rotina-me, vento invisível orgânico.
Com sua desordem organizada
Retirando-me botas e botões.

William Feitosa Júnior

Canteiros


Qual flor que brota no campo
Reluz vida em meio ao pranto?
Da semente sincera e contente
Dela notei festa e canto.
Não peco em ser displicente
Da lição ensinada à semente
Na qual renuncia, brota esperança
Sem igual denuncia, traga temperança,
De viver a vida embelezada
Em sua pele firme e bronzeada

William Feitosa Júnior

Carnificina


O ódio como roda motriz das sensações gera a dor coletiva.
Em um ambiente de festa o foco da crueldade.
Ao som do rock o frenesi da morte.
Uma onda obscura envolveu o Bataclan.
O planeta ouviu os ecos de pânico de Paris.
O desamor aterroriza a humanidade.
A segregação social promove o desequilíbrio das ações.
O egoísmo é o cavaleiro que promove a destruição.
As “luzes do iluminismo” levaram a França ao confronto direto com os jihadistas.
Não podemos fazer do ego o consumador do apocalipse.
Precisamos nutrir as nossas ideias com a essência de amor.

Dhiogo J. Caetano

Consciência Crística


O verdadeiro amor é uma centelha que promove a vida transcendental.
Faça do amor o combustível existencial.
Ninguém morre de verdade, despertemos para a concreta realidade, coberta pelo véu da bestialização humana.
Tudo que vivemos é fundamental para o progresso dos nossos dons.
A consciência Crística reluz dentro de nós.
Os sentimentos não podem nos sucumbir, estamos no controle do nosso ser.
Existe dentro de nós um poder criativo que sobrepõe à mente humana.
Podemos romper com a capacidade mental humana, homogeneizando com a consciência cósmica.

Dhiogo J. Caetano

Não preciso de sentimentos fúteis
não preciso de promessas falsas
Não preciso de de mais mentiras nesse mundo medíocre
Há muito tempo eu fui a pessoa que mais teve paciência
Há muito tempo fui o tipo de pessoa ideal para todos
Sou nada mais nada a menos do que um simples ser com sentimento
Uma casca vazia onde todos podem chegar e falar o que pensam e me deixarem de lado
Um mero homem que sempre foi capaz de enxergar o melhor nas pessoas mesmo que elas o magoem.
Quem sou eu?
De onde eu vim?
Para onde vou?
Porque existo?
Há quem diga que sou um covarde
Há quem diga que não fui capaz
Há quem diga que sou isolado
Há quem diga que não lhe dei paz
Fui de tudo um pouco nessa vida pequena
Desde muro de lamentações à saco de pancadas
Mas sempre mantendo a calma
Como as pessoas de hoje são fúteis
Como os meus e os seus sentimentos não são mais úteis
O que eu realmente queria é que todas as pessoas fossem verdadeiras
Viver em um lugar onde não há ningué, dizendo mais besteiras.
Quem sou eu?
De onde eu vim?
Para onde vou?
Porque existo?
Eu me sinto como sse vivesse numa sociedade feita de papel
Onde os valores e sentimentos são facilmente descartados
Onde amor, felicidade, e paz são meras ilusões na sua mente
Dos lugares mais obscuros que eu já passei
Nada se compara à esse lugar, triste realidade da vida
Onde mentiras são contadas no lugar das histórias de ninar
Quem sou eu?
De onde eu vim?
Para onde vou?
Porque existo?
Onde os olhares sinceros são trocados por peliculiaridades inúteis
Palavras calorosas se tornaram apenas frases ditas da boca pra fora
Realmente eu estou desistindo dessa entediante vida
Aqui eu deixo minha carta de despedida
Onde que a partir desse ponto não importa mais a minha saída
Deixo aqui meus sentimentos de pena desse mundo sujo
De onde dos grandes olhos da nossa divindade velado jás
E sobre o estrelado céu poderei descansar em paz..

Cristian Muchilla

Dignidade


Com as folhas encharcadas de lágrimas, narro a desigualdade.
A fome, a miséria, cresce avassaladoramente.
No shopping, em meio a tantas riquezas, um pedido que me comoveu.
“O senhor pode pagar o meu lanche?”.
Em lágrimas, pedi-lhe um abraço.
Aquela menina de farrapos vestida, suada e tímida, estendeu os braços em minha direção, permanecemos por minutos abraçados.
A sensação de amor nos envolveu, pra mim aqueles minutos se converteram em uma eternidade de paz.
Com muito prazer contribuí com seu lanche.
A humanidade carece de alimentos que suprem as necessidades da alma.
Aprendendo a arte de se solidarizar com as dificuldades do outro.
Colocando-se no lugar do mesmo, visando sempre o bem do próximo.
A igualdade é uma conquista que se solidificará depois que exilarmos o egoísmo.
Amemos a nossa família universal.
Doemo-nos em prol do trabalho no bem.

Dhiogo J. Caetano

As flautas da abóbada celeste


Não fossem as flautas da abóbada celeste, eu teria permanecido deitada ao lado das margaridas no Jardim. Entregaram-me novas e boas notícias, por meio de um som casual, sobre as leituras das madrugadas velhas. Talvez meus pés descansados desejassem correr para fora do horto, talvez desejassem mais. Voltei a deitar-me ao lado de minhas flores favoritas. Voltei, sim, e assumo ter feito isso para não o deixar só e adormecido, apenas com seu grande coração sentimental, sonhando com os versos do Garoto do Maiakóvski que li minutos antes de abrir meu coração covarde. Não poderia deixar minhas margaridas e meu Dionísio para trás. Já não poderia esquecer. Já não saberia correr. Minha razão, combatendo centelhas do corpo, disse-me para voltar a dormir. Adormeci. Admiti minhas fraquezas como jamais havia feito. Mostrei meus sinais de ausência. Abri minhas gavetas torácicas e deixei que guardasse seu sentimentalismo de bom sujeito. Torneio-o sujeito de minha oração. Pedi ao Cosmos com delicadeza, e as poeiras interestelares nos atingiram, e nos levaram à Nebulosa Laguna, e nos fizeram eternos.

Laís Grass Possebon

O linchamento virtual


A vingança com a máscara da justiça.
A lei do “olho por olho”.
O desejo de aniquilamento do outro.
O ódio ecoando na vastidão virtual.
A sede por destruição.
O prazer em ver o outro sofrer.
A difusão das ações belicosas.
O materialismo patológico.
A perseguição ideológica.
O preconceito generalizado.
A proclamação da violência.
A banalização dos recursos telecomunicativos.
O linchamento viral.
A onda de egoísmo conectada por um fio tecnológico.
O lamentável primitivismo coletivo.
A ausência de sabedoria e tolerância.
O movimento dos ditadores da “verdade”.
Os alienados do essencialismo existencial.
Os difusores da bestialização.
Meros seguidores da guerra ideológica.
Até quando viveremos a Era Egoica?

Dhiogo J. Caetano