quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Solitude



"And all I loved, I loved alone."

(Edgar Allan Poe)

O meu olhar se perde no dourado do trigo,
envolto em sangue e chamas abandona-me o dia decadente.
Nada retém meu verso, todas as coisas que digo
Ficam apenas pairando, triste nebulosa em minha mente.

Minha alma é campo fértil para as sementes da Morte
que as mãos da noites seguem despejando nestas horas frias.
Quem sabe a imensidão de terras ermas me conforte
e traga-me uma esperança desafeita no final dos meus dias.

Da tua voz nas árvores partem pássaros de trevas
cortando a brisa amável com seus vultos e seus medos...
Não há nada no mundo tão doce como o que carregas
entre os ventos da entrega e a tempestade dos segredos.

Por muito tempo andei pelos palácios da tua tristeza,
no entanto em mim nenhum eco de passos rompe esta quietude.
Quisera eu ser poeta pra cantar uma certeza
em vez de errar entre a pálida ilusão e a solitude.

Por vezes dos meus lábios saem notas de violinos
que nunca chegarão a ferir as redes do teu ouvido.
Nem deixarão seu ninho meus sonhos pequeninos
pra o infinito céu, onde canta meu anjo mais querido.

Nenhum sorriso agita mais estas parreiras sem uvas,
nenhuma paisagem presenteia meus olhos fatigados.
Já escondi meu pranto em todas estas chuvas
que caem no estio abençoando os chãos queimados.

Por este espaço largo arremesso meu canto triste
como um arado tentando sulcar um chão de aço.
De toda matéria de que tua estranha ausência consiste
é com a neblina do teu riso que este verso eu faço.

Um barco naufragando na bile é o meu coração...
Estas raízes de tédio! Esta saudade de tudo!
O tropel dos cavalos da Morte trovejando no chão...
Desesperanças enterrando o amor que viveu mudo...

(Igor Roosevelt; 31/05/2008)

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