quinta-feira, 17 de setembro de 2020

A NAVALHA E O FIO

Fernando Vieira - Fio da Navalha

 

Áureo João

Teresina, 22 de junho de 2019.


Navalha é caos, sem o qual a vida pára na ordem estagnada;

O fio tece o que deve ser tecido;

A navalha corta, recorta, decompõe e separa o todo e as partes do todo;

O fio sutura partes entre partes e partes com o todo, quando inseparáveis;

A navalha talha a vida e coisas da vida que a compõe, separa coisas da vida e a vida;

O fio conecta coisas da vida que dão sentido à vida e a própria vida; laços conexos que religa fil a fil;

A navalha penetra o caos, perfurando-o, retalhando a confusão, sua ordem e sua desordem;

O fio tece a luz à ausência de luz, a lucidez ao caos; o fio ao fil;

A navalha é o medo da vida e a ruptura com o medo;

O fio é o tempo da vida, a vida no tempo, sem o medo da vida;

A navalha é o desassossego da ruptura;

O fio tece a vida, as coisas da vida; e o gozo na vida;

A navalha é corte, recorte, talhos e retalhos, análise e crítica;

O fio sutura e tece o que sobrou do corte da navalha; é síntese do texto, do contexto, do poema e da vida incessante, sempre por uma navalha que corta e um fio que tece fil a fil!!!

Jacarandá


 

A noite me envolve 

num giro e devolve

querendo meu tempo para revelar.


Que eu tenho um segredo,

mas pode ser medo

que sem teu chamego, eu vou me afogar.


Noite de Lua, sereno faceiro

eu sinto teu cheiro aonde quer que eu vá


Água da chuva fazendo salseiro

e o amor florescendo no Jacarandá


Vem a saudade, 

me envolve e invade

e eu sinto vontade do teu balançar


Mesmo distante 

teu dengo é a fonte

que chega no instante de anunciar


Todo sabor com o cheiro da terra,

o vento não erra os gingados do mar.


A poesia que faz de repente,

se sabe, se sente o amor regressar


André Café

Nos moldes dos caminhos

 


Olho mundo; chama cria:

os encantos do pirografar em centelhas de cosmogonias;

as raízes, suas histórias e louvores,

cantam modos, ensinam versando, rimando magias.


Carregamos a flâmula, somos arte e olaria:

da lama, caos, convicções e ética: 

cinzas que adubam o florescer

no solo da consciência e prática


Lume move e fortalece,

pelas mãos de nosso labor.


"Afervilha", expande, aquece

a premissa do pavor


Rebuliço, alvoroço, cerração;

é barulho que antecede a brisa.

E o pavor sublimado ao alívio,

num fio de fim de tarde que avisa:


O fogo que atiça o pavio,

agora prepara o alimento;

foi faísca de combate e ruína,

mas é molde de base e firmamento.


André Café


Nos caminhos

 



Caminhos rasos, traços fundos;
na categoria da ginga, o passo a passo é sabença,
Donde o tempo escuta a história contada:
é prosa que gira, é sumo de essência

Na caldeira do breu no mundo,
temperei; entre provas, decantei o rumo.
Velha barra do barro e pé descalço,
calçado no abstrato que presumo.

Entre a fome da pressa,
e o eco do Tucuns;
Vem-se as guerras das horas,
mas na serra, voam anuns;
O aperto em metal cinza,
ou descanso no lajeiro;
o sufoco do não dito,
o "eu" meio, por inteiro.

André Café


quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Poeti-se

 



Poesia entre e se apresente

Como recital
Performaticamente
Eu lírico ou marginal
Repentina ou de repente
Rima improviso risco pincel
Tarsila do Amaral
Abaporu postura
Costura Chanel
Sarau de Cultura
Aberta mente
Liberta arte literatura
Convide-se chegue
E se sente
Entre e sinta
Poeti-se e se apresente

          A.V