Fazia um tempo que não escrevia, tudo parecia entediante, pois as minhas formas e molduras se repetiam em um papel que cicatrizava e manchava minhas rimas nos tragos de velhas filosofias.
A saia não é mais longa, o cabelo não está esvoaçado como Bethânia, nos dedos carrego anéis e no pulso um relógio que controla meu tempo, minha direção. Até o gosto do vinho barato corrói meu estômago.
Saio em silêncio, mas sem ausência, pois a vida aqui é bem mais calma, como mosaicos que colam os cacos de uma pintura que já foi viva. Em mim o sol existe e queima menos, talvez por ter amadurecido em meio a carburetos.
Um dia corro, esvoaço os cabelos, “pros pingos da chuva me molhar”, para ter o abraço em Ziriguidum e ir para o mundo com “qualquer dois mil réis”.
Yana Moura
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