sábado, 13 de junho de 2015

Sobre esquecer os versos


As poesias caladas agora gritam por companheirismo;
por várias noites a lágrima fora o registro,
das palavras que se perdiam no esquecimento
na tentativa de ser memória pelo tempo

Minuto resquício de rabisco;
enquanto a tinta seca
num tácito papel

Muito se espera do risco;
mas não que seja mito
dum conto além do céu

Falam-me os versos em silêncio;
sobre o sentir, sobre o sabotar
as palavras que se perdiam no esquecimento
pra que não lembrasse assim, da dor, do ser, de amar

André Café

Coletiva poética


O papel tem fome,
eu sinto urgência
em derramar-me para sobreviver
num sopro desgostoso de querer

O Sol encastelado,
é meia-vida;
passam carros, ideias, amigos, certezas
não importam as cartas sobre a mesa

E tudo me sorve,
por qual bueiro sedento serei tragado?
a sobrevivência resiste, até o próximo verso
e eu sem saber como esses inversos me reversarão

Sobre a história do mundo;
esse mundo que não queremos
mas sozinhas, jamais teremos
um lampejo sequer de outras possibilidades

Seguiremos, em sufoco
os ombros doem, mas a dor é fogo
garantimos, mesmo que em punhados, cuidado
não seremos nós que abandonaremos o lado a lado

Chora, despeja, abraça
o papel, o texto ou fumaça
cá estamos, em reenergia
para que o mundo possa ser um novo dia


André Café

Cessou


Um poema tem me engasgado os dedos;
e toda madrugada é desprezo,
num desejo desmedido
de desprender dos ombros
o que não deveria ter sido

Foi silêncio por anos
o que se passou em segundos;
um lampejo em desafio
pelo meio dos escombros
a surtar com os arrepios

André Café