sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Não se esqueça de algumas coisas se eu morrer


Se eu morrer em uma manhã de sábado,
à noite, não deixe de ir ao cinema e, após,
não se esqueça de beber algumas cervejas
com o pessoal de sempre ou até mesmo só.
Caso eu morra na Colômbia ou no México,
sem ter dado notícias nas últimas semanas
nem postado uma foto em qualquer rede social,
não durma até o nascer do sol – deixe que a aurora
invada a sua pele para que você possa sentir o meu abraço.
No caso de eu vir a falecer em um dia de chuva, deixe todos os meus
converses do lado de fora da nossa casa e observe cada gota molhar
a única parte da minha efígie que remanesceu visível.
Se a causa do meu óbito for triste, jogue fora o
Unknown Pleasures que eu comprei em Porto Alegre
e, durante uma semana, somente ouça as marchinhas
do Haroldo Lobo, que a tristeza irá embora...
Porém, se eu morrer dormindo, depois de uma noite de amor,
antes de ir ao meu funeral, tome café da manhã na padaria que
fica na outra esquina e coma todos os pães de queijo que puder.
Quando a minha vida cessar, não deixe que a sua também se encerre,
apanhe a minha mochila vermelha, e vá ao norte mais longínquo que
há na Terra, e conheça pessoas amarelas, e continue se apaixonando,
e beba novas comidas, e coma novas bebidas, e não se transforme em
um bitolado melancólico chato do caralho!
Quando a morte chegar, lembre-se de que ela é banal, vulgar & trivial.
E o mais importante: não a encontre antes de mim.

(Laís Grass Possebon)

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