quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

BLOCO DA SAUDADE




Aí veio uma rajada súbita de lucidez!
As asas que por pressentimento já estavam sobrepostas,encolheram-se de vez numa lenta agonia.As serpentinas,lantejoulas e confetes permaneceram invisíveis na avenida à espera do carnaval e acabaram sucumbindo a um fevereiro gasto por outros meses de calendários imaginários.
A rainha da bateria cardíaca põe à prova seus espetáculos em março.Ela,mestra do silêncio restaurador , divide-se em três batuques roucos:SAU-DA-DE.Sem fantasias, máscaras e despida de qualquer traje alegórico , nutre as lágrimas atrasadas(gerações de dores acumuladas) dos olhos insones e salga os olhos ressacados pela folia da noite passada.Na verdade o seu enredo não se importa com os ponteiros do atraso ou mesmo se o sofriemento veio por antecipação,a tinhosa de salto fino faz palco dos corações alheios e entre uma taça e outra de nostalgia embreaga-se nas lembranças mais sutis.
Aí veio outra rajada súbita de lucidez!
Dessa vez a rajada foi tão crua e tempestiva que o relógio tornou-se intrafegável e a saudade,vítima de um crime passional,foi desfalecendo e até se achou digna de um epitáfio "Aqui jaz a rainha dos tormentos".
Que farsa ridícula!Os senhores assassinos me corrijam caso esteja equivocada.Mas quem já matou a saudade sabe que ela teima em ser imortal,nada de três dias para esperar sua ressurreição,basta um suspiro,um sonho,um delírio e aí não importa se é fevereiro,março ou dezembro..a rainha põe seu bloco na rua novamente!

(Vanessa Feitosa)

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