Ponte Metálica
Ponte Estaiada
É
interessante evocar e comentar sobre os símbolos de uma cidade, pois isso
remete à história de um povo e certa tradição e transmissão de valores do
mesmo. Geralmente são trazidos para uma apreciação monumentos, prédios
históricos, cenários naturais e até mesmo personalidades, figuras ilustres que
ficaram arquivadas no imaginário popular durante um período de tempo bastante
longo.
Em
Teresina esse símbolo é a ponte! Ou melhor, são as pontes... Primeiramente a
ponte metálica que liga Teresina à Timon, enquanto cidades, e em nível de
Estado liga a capital do Estado do Piauí à hoje terceira maior cidade do Estado
do Maranhão. E isso não é de pouca importante regional! A ponte João Luís
Ferreira ou como é mais conhecida, Ponte Metálica, foi durante muito tempo e
ainda é símbolo de ambas as cidades e de ambos os Estados.
Mais
recentemente Teresina recebeu das mãos das três esferas de Governo e de depois
de um tempo estendido de obras, a ponte que homenagearia o sesquicentenário da
capital do Piauí, nomeado de João Isidoro França, mais conhecida por Ponte
Estaiada, devido às estaias que a compõe, tornando-se a partir de sua
inauguração o novo símbolo da cidade, presente inclusive nos ônibus que
realizam o transporte público de Teresina depois de realizada a padronização, símbolo
mesmo da linha coletiva que atravessa para Timon.
Isso
me levou a pensar o seguinte, o que simbolicamente representa a ponte?
Recorrendo ao que me lembro dos dicionários e até mesmo de vivências de
passagens pelas pontes citadas e mesmo por algumas outras me acorrem, termos
como passagem, travessia, caminhar, desejo de chegar ao outro lado, ligação,
separação também... Enfim remete a algo inconcluso, que não se sabe bem onde
inicia e nem onde termina.
A
ideia de uma indefinição, sempre algo em processo, de um caminhar iniciado,
porém nunca concluído parece se refletir no espírito das pessoas do lugar e em
sua produção cultural a ponto de uma professora conceituada da Universidade
Federal do Piauí enunciar mais de uma vez em eventos que o Piauí “é a terra do
já teve”! Como assim? A travessia pela ponte começa no lugar e ali mesmo se
acaba? Começo a pensar.
Outra
perspectiva é que para se alcançar certa notoriedade é necessário você sair
desse torrão e “estudar fora”, como se ali permanecendo o seu sucesso nunca
pudesse ser garantido. Recorrendo à história de figuras reconhecidas, renomadas
por este povo, vamos encontrar esse traço fortemente marcado, muitos dos quais
evadiram de seu território e retornaram a ele já formados e “doutores” e outros
no qual esse retorno não ocorreu sendo absorvido o seu talento por outros
Estados e até alguns países.
Continuo
me indagando, mas que legado seria esse? Que travessia simbólica é essa que, aí
me coloco como pertencente a esta gleba que estou mencionando, tem que fazer
para poder alcançar o mínimo como sujeito que existe, pensa, discorda e
constrói um modo particular de ser, sem necessariamente ficar amarrado a essa
construção imaginária de que essa ponte é inatravessável?
Cidades
que tem esse caráter de dormitório, onde há migração de pessoas vindas de
outros lugares, principalmente dos rincões interioranos do norte e nordeste, em
busca de melhoria de vida, parece ainda operar mesmo hoje esse processo
atravessado, enviesado de uma travessia interminável e difícil de uma
localização não mais geográfica, mas afetiva e de pertença.
Nesse
sentido de uma construção de identidade de povo, creio que devemos fazer um
resgate bastante significante da história e de novos (antigos) elementos
constituintes próprios, pois eles existem. A lógica do “tudo que vem de fora é
bom” é equivocada e prejudicial a todo e qualquer coletivo que deseja fomentar
um modo particular de ser e de viver... Será se desejamos fazer essa travessia?
Será se desejamos derrubar algumas pontes? E até construir outras?
Por Alderon Marques
19/07/2012
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