segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Achei um papel que me dizia o que não era o Amor


Um dia, caminhando rumo à escola, achei o que mudaria o sentindo de muita coisa na minha vida. Nesse dia eu tinha chorado, tinha sofrido pela primeira vez. Nesse dia presenciei papai e mamãe discutindo, brigando na cama do quarto. Foi terrível, os dizeres feriram minha audição como se fossem brasas entrando em meu ouvido, e isso doeu tanto que, Meu Deus!, nunca sarou. Ainda tenho aquela imagem deles dois afastados, com incríveis sinais de raiva e decepção no rosto. Acho que brigavam por alguma coisa chamada de confiança e dedicação. Isso devia ser muito importante pro papai, porque ele repetia o tempo todo que era disso que ele precisava e que foi a mamãe quem perdeu. Ah, mas se eu encontrasse-as...
Fui ao colégio, já era hora da minha aula de inglês. Fui sozinha, preferi. Só conseguia olhar pro chão, até parecia uma ação proposital. Olhava pro chão procurando salvação, só podia. E é o que eu mais lembro daquele insólito dia. Parei. Uma surpresa. Algo parecido com aqueles papeizinhos pequenos e finos que a gente encontra dentro de um biscoitinho da sorte e ele estava coberto por areia, e balançava um pouco, ação do vento; Cheguei mais perto e tive certeza, era sim um daqueles papeizinhos finos e pequenos que a gente encontra no meio de um biscoitinho da sorte, e nele estava escrito: '' Quando for amor, você saberá. E se for amor e ele se for, ele voltará". Li o papelzinho até o final da esquina, que me levava de casa pro colégio, e caminhei o tempo todo com aquela vontade de voltar lá em casa e dizer que eu tinha lido, que eu me importava com eles, que essa briga poderia ser perdoada. Voltei. Sai correndo pra casa, tive medo de não conseguir chegar, meus pés e mãos ficaram pesados demais, a respiração estava pra me matar.
Devo ter esquecido minha mochila no chão, mas segurava forte aquele pedaço de papel, ele parecia ser o que de mais sagrado eu teria lido. Era diferente daquilo que eu via todo dia lá em casa. Cheguei. Entrei no quarto e a cena era quase a mesma: mamãe ainda estava na cama, com incríveis sinais de raiva e decepção no rosto. Era como se realmente alguma coisa não tivesse dado certo. Foi quando percebi que ela não tinha nem notado minha presença, eu tive pena do seu rosto. Eu tive pena de vê-la. Foi nessa hora que estendi minha mão diante do seu rosto cabisbaixo. Apenas eu estava contente, alegre, querendo fazer algo certo naquela bagunça. Mas ela fez um olhar de indiferença, e eu ainda insisti. Ela levantou a cabeça e disse, num soluço: - "Ele se foi. Não há mais pai pra você, e o mundo acabou pra mim." Eu também falei algo, e falei sobre o que eu tinha lido: - "Mas ele vai voltar. E eu vou esperá-lo. Não vai demorar, a senhora vai esperar também!" O dia acabou ali. Ou eu não lembro do resto.
Só que eu espero até hoje. Nunca veio, nunca virá. Deixei a inocência da infância jogada na mesma cesta de lixo em que joguei o papel. Hoje espalho tirinhas finas e pequenas por esquinas que passo. Mas tive cuidado no que dizer. Talvez você encontre alguma te dizendo algo parecido com isso: "Não há amor que te faça esperar pra voltar"
(Rosseane Ribeiro)

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