segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Refino de saudades

Refino frio da melancolia,

lá pelas tantas malfadadas portas desaguadas;

eu quero dizer saudades, num torpe frasco de engano.


Pêndulo reticente correndo à espera,

é o tácito frio na curva atônita do arrepio;

ebule a versidade, na miríade ímpar do humano.


Sou todo teus, na cor dolente,

a espreita range, o passado melodioso tange;

na cápsula de todos os tempos, repousa o amor leviano.


André Café

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Ordo delírio

 


Na impressão de tempo lento
décadas de milhas arrancadas
fui um sonho de alento e carinho
e de sobra, ruínas "fractadas".

Não sou eu o mentiroso, é a lâmina neoliberal
encravada no torso do equívoco,
esgarçando o tácito centavo do fim de mês,
poupado para o alto epílogo.

Não, sou eu, sem lides;
aguçando a ideia do fracasso,
almoçando as entranhas do fetiche,
delirando no ordo mormaço.

André Café

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Constituição

 



Constituição. Mais que a palavra escrita, é a púrpura corrente; 
mais que regramentos, é a razão compartilhada; 
mais que devemos e não devemos, é o que somos. 

Descontínuas constituídas de negralidade. 
Assim, forjado, bem ou mal, no semear de 
bárbaras mulheres em circularidade.

1889 - Maria Balbina da Silva;
1917 - Francelina Maria de Jesus e Silva;
1938 - Deusimar Laurinda da Silva Oliveira;
1964 - Conceição de Maria da Silva Oliveira;
1983 - André Oliveira da Silva.

Tatara, bis, vó, mãe, filho.

André Café



segunda-feira, 17 de maio de 2021

O mundo do ar




O pé talhado na terra úmida,

marca afetiva do labor germinando;

o vento toca a ponta do céu com cuidado,

levando o afofo de beira,

para chorar a ribanceira

das nuvens que vão se aprumando.

 

Trago forte na chama verde,

trabalho coletivo construtor;

o sumo da sobra é barro a se modelar,

forjando no ardor da fogueira,

a vida altiva e arteira,

ciente, sem peso e indolor.

 

Planeta esse, pra qual rumo?

Sonho cadente é fácil de achar:

Não se esconde, mas incita revelação;

floresce em cada fileira,

supera toda fronteira,

dos cantos do mundo do ar.


André Café

De madrugada a gente questiona: zero

Link original

 

Já não são trocas de turnos,

cada dia mais a paciência com sono é uma derrota previsível.

Sonhos desfigurados em poucos segundos

não sustentam mais o corpo: morada da sede infindável.

 

Quanto tempo leva para se esquecer o instante?

Dobram-se ao meio e aos quartos partículas de quintessência

enquanto a massa de pesares se avoluma e toma espaço,

faz-se percalço que se alimenta do amanhecer.

 

Segue mais um dia, respostas sem questões e condições contraditas,

melodia de um réquiem às avessas que regozija da aflição:

sons secos do amargo calor, que respingam no peito com vontade,

invadindo a mais vil sobriedade, semeando o mais coerente dissabor.


André Café

Anoiteceu; anos 2000 na cidade brutalizada

 



Fim de tarde ou de noite,

aquele abrasador conhecido; vento de paragem, céu sem milhagem.

Aponta para o universo o incerto destino de andança;

apenas mais um jovem nas aventuras de devorar praças e passagens.

 

O ardor sempre esteve, mas adoçado com calmarias:

da Frei pro Mocambinho, Saci ao Promorar,

cai a noite nas calçadas, pra esperar a brisa do norte,

o fervor no último gole para depois a gente sonhar.

 

Passa ponte, pinga lento, o menino ganha as ruas;

ainda sente o verde, o cheiro manga rosa, o detalhe de cidade.

Não que o urbano capitalizado já não devorasse sentidos, espaços, pessoas,

não que o aperto imposto não sangrasse nossa vivacidade.

 

Tão pouco tempo levou à quimera e transrupção;

a cidade engole as crias, no silêncio e invisível.

Atua para as torres mortas, amua para contradição:

amor, ao concreto; blasé, aos ritos dos povos vivos.


André Café

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Contra-atacar



Por terra, lágrima e sangue,

fatiados em todo turno de nossa gente;

ardor, vigor e fé,

ainda que o pisar dolente.

 

Às crias, as águas e montes,

encarcerados antes dos olhos;

mas livres, por sermos seres,

ao fardo dos intransigentes.

 

Ao natural, criado e destruído,

com fome de essência e equilíbrio;

ainda que rasguem os céus anis

de progresso pungente.

 

Para o sul, pelo entorno,

toda palavra é aprendizado,

cada prática é uma formação;

façamos ferver a contradição,

subvertendo, arrebentando

a frágil normalidade;

sobrará pouca saudade

daquilo que queremos olvidar.

 

São tranças de tempos difíceis

que se complicam em nossas fragilidades,

arquitetadas em preditas formas.

Porém, do mais alto torpor,

nasceram as ruínas:

sedimentos fundais

dos sepulcros finais

gerados em contra-atacar.


André Café

Sem Assunto



No mundo em que se pisa na terra,

quebranto é feito homem: segurando forte o açoite;

atrasando o ponto da noite, esmigalhando o pulso que finge,

alimentando a fome de prece, apaziguando o corpo cadente.

 

Fé na brisa que cura as feridas:

ameniza o passo dolente, formigando a peia do mundo;

assunto, na forja dormida, a chave da tosse insistente;

escarro a gota de gente, que afunda no véu espelhado.

 

Embarco, no lume de horário,

cem cargas de peso da história, acobertadas pela ranhura.

não sou assunto da criatura, qual me padeço em meus percalços;

alvoroço cálido, falido, tácito e pungente, murmura.

 

Fogo temente, frio corporal; guizalham as articulações:

uma nota miúda, sofrida e semibreve, invertida verve.


André Café

Visão dessa paixão

 


Vejo o seu mundo com a verdade desse olhar,

que meus olhos trazem nesse ar que o vento faz. 

A Coragem diz-me que sou capaz de realizar e terminar:

esse lindo acreditar.


No Desejo desse medo, 

que torna a feição uma ficção nas dores do meu coração. 

Na Viagem dessa imagem, 

que brilha nessa ilha: A Lua e o Mar dentro desse Amor 

O meu Sabor.


Isabela Pazeto


O jardim da minha vida

 


Nesse jardim existem flores perto do monte que irradiam o Chão... 

Onde a luz brilha o reflexo dessa (essência). 

No Horizonte vendo as gaivotas, no céu, é como o passe leve da bailarina dançando no mar para contemplar esse lindo luar, que a noite vai deixar! Quando terminar! O amor maternal dos animais ,tocar a mais linda borboleta ao pousar na flor. Com esse mesmo afeto. O céu onde as nuvens moram, é lá onde eu quero chegar no mais sublime pensar de estar lá, onde eu sei chegar...  Só bastar sonhar.


Isabela Pazeto


Carinho de Amiga


 

La vem a Chloe, 

para quem não conhece: 

É a luz dos meus dias. 


É a Amizade que me guia,

nos caminhos da minha vida.

Sou a sentinela dela.


O que ela pensa?

É o que os meus olhos não podem ver. 

Mais posso crer. 


É a razão do meu viver, todos os dias

É o motivo da minha felicidade,

que dá sentido aos meus dias.


Isabela Pazeto


quinta-feira, 17 de setembro de 2020

A NAVALHA E O FIO

Fernando Vieira - Fio da Navalha

 

Áureo João

Teresina, 22 de junho de 2019.


Navalha é caos, sem o qual a vida pára na ordem estagnada;

O fio tece o que deve ser tecido;

A navalha corta, recorta, decompõe e separa o todo e as partes do todo;

O fio sutura partes entre partes e partes com o todo, quando inseparáveis;

A navalha talha a vida e coisas da vida que a compõe, separa coisas da vida e a vida;

O fio conecta coisas da vida que dão sentido à vida e a própria vida; laços conexos que religa fil a fil;

A navalha penetra o caos, perfurando-o, retalhando a confusão, sua ordem e sua desordem;

O fio tece a luz à ausência de luz, a lucidez ao caos; o fio ao fil;

A navalha é o medo da vida e a ruptura com o medo;

O fio é o tempo da vida, a vida no tempo, sem o medo da vida;

A navalha é o desassossego da ruptura;

O fio tece a vida, as coisas da vida; e o gozo na vida;

A navalha é corte, recorte, talhos e retalhos, análise e crítica;

O fio sutura e tece o que sobrou do corte da navalha; é síntese do texto, do contexto, do poema e da vida incessante, sempre por uma navalha que corta e um fio que tece fil a fil!!!

Jacarandá


 

A noite me envolve 

num giro e devolve

querendo meu tempo para revelar.


Que eu tenho um segredo,

mas pode ser medo

que sem teu chamego, eu vou me afogar.


Noite de Lua, sereno faceiro

eu sinto teu cheiro aonde quer que eu vá


Água da chuva fazendo salseiro

e o amor florescendo no Jacarandá


Vem a saudade, 

me envolve e invade

e eu sinto vontade do teu balançar


Mesmo distante 

teu dengo é a fonte

que chega no instante de anunciar


Todo sabor com o cheiro da terra,

o vento não erra os gingados do mar.


A poesia que faz de repente,

se sabe, se sente o amor regressar


André Café

Nos moldes dos caminhos

 


Olho mundo; chama cria:

os encantos do pirografar em centelhas de cosmogonias;

as raízes, suas histórias e louvores,

cantam modos, ensinam versando, rimando magias.


Carregamos a flâmula, somos arte e olaria:

da lama, caos, convicções e ética: 

cinzas que adubam o florescer

no solo da consciência e prática


Lume move e fortalece,

pelas mãos de nosso labor.


"Afervilha", expande, aquece

a premissa do pavor


Rebuliço, alvoroço, cerração;

é barulho que antecede a brisa.

E o pavor sublimado ao alívio,

num fio de fim de tarde que avisa:


O fogo que atiça o pavio,

agora prepara o alimento;

foi faísca de combate e ruína,

mas é molde de base e firmamento.


André Café


Nos caminhos

 



Caminhos rasos, traços fundos;
na categoria da ginga, o passo a passo é sabença,
Donde o tempo escuta a história contada:
é prosa que gira, é sumo de essência

Na caldeira do breu no mundo,
temperei; entre provas, decantei o rumo.
Velha barra do barro e pé descalço,
calçado no abstrato que presumo.

Entre a fome da pressa,
e o eco do Tucuns;
Vem-se as guerras das horas,
mas na serra, voam anuns;
O aperto em metal cinza,
ou descanso no lajeiro;
o sufoco do não dito,
o "eu" meio, por inteiro.

André Café


quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Poeti-se

 



Poesia entre e se apresente

Como recital
Performaticamente
Eu lírico ou marginal
Repentina ou de repente
Rima improviso risco pincel
Tarsila do Amaral
Abaporu postura
Costura Chanel
Sarau de Cultura
Aberta mente
Liberta arte literatura
Convide-se chegue
E se sente
Entre e sinta
Poeti-se e se apresente

          A.V

terça-feira, 12 de novembro de 2019

O bem mais precioso

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Do alto-falante oficial,
esbravejam engasgadas palavras em conservas;
é um "fica tudo como está", "é seguir pra desenvolver",
é "um bem comum" estrangeiro ...

Alardeiam, esperneiam, aos quatros cantos,
de nova ordem, de proteção, de pátria, de lugar divino.

Nem o mais tenro menino ouve, nenhum lugar ecoa o sibilo,
nem baixas frequências reproduzem este brado.

As ruas sem beiras, com canções e flores,
a passos assertivos, à marcha fulminante, ao porto escondido,
as veias abertas, dos grilhões vencidos, do prazer demorado,
em uníssona voz, ao algoz agora arrependido, num tempo sem perdões.

Os inimigos espreitam; mas há força, num mútuo fazer ebulição.

André Café

domingo, 27 de outubro de 2019

Resumo




Cena e sangue em uma meia-noite fugaz;
o corpo náufrago na timidez insólita,
a ver navios num silêncio de espasmos ...

Vermelho inferno, tingido de fogo e sabor;
nas horas de réquiem desarranjado,
segundos, percalços, palavras que presumo.

Tinto, amarga ternura no sal de lágrimas;
talvez, anterior tão lógica desistência,
pela deselegância de qualquer aprumo.

Tempestivo gole de equívoco;
temperadas formas que me resumo.

André Café

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Sonhos

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Todos os sonhos do mundo,
como uma mensagem clichê de fim de ano,
palpitam nas últimas badaladas em meio peito.
Caberiam agora, neste solo fúnebre?
Venceriam, nestes términos tristes?

Alcançaram, ainda vivos, outra época,
que talvez desconheça a fina flor do mutualismo;
vagueiam, quiçá, atrás de uma canção solene, mas ao mesmo tempo, arrebatadora,
que possa ser um silvo para os gritos de um mundo outro, desabrochar de cinzas e metal;
mesmo que a secura inflame o peito
na vontade de não respirar.

A dor e o tempo, o caso e a solitude, remédio e o preço,
a febre e o laço, o sumo e vazio, o encalço e o espaço.
Para qual terra, para qual gente compartilhar este punhado maltrapilho de amanhã?
Cessa o pensar, no autômato andar, que podem sugerir o último silêncio ...
ou o começo do fim, no fim do começo.

André Café

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Nunca só

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Não cabe pensar só na distância,
mesmo que ela devore as horas de "sabência"
há de se ter serenidade,
nas inquietudes que correm pela vida.

No expresso só, mas nunca sozinho,
são várias talhas pelo caminho,
os ombros são o peso de cada irmandade,
carregada com orgulho nos altos e descidas.

Ferve o tempo, trazendo desafios,
um gole de café, ou o prumo do alambique,
pra que clarifique a mente e o organismo,
nunca só, sempre audível no pé da mente,
as força e camaradagem, dos que resistem ainda.

André Café e Glauco