segunda-feira, 4 de abril de 2011

Parar é um movimento















Queridos alunos (as) do Curso de Psicologia, novos e veteranos companheiros de instituição, passamos e vivemos no estante do agora, por uma mobilização, por um movimento, que paradoxalmente solicita a compreensão de todos para o ato de PARAR, paralisar, não mover. Como podemos falar de movimento, luta, reivindicação dos direitos, se exigimos a interrupção de nossas atividades? É estagnado e estático, que o tempo passa, a ferrugem e o germe decompõem e tornam pó todas as coisas.
    É parando que iniciamos o nosso movimento, é silenciando e pondo-se em luto que simbolizamos o descaso com a nossa formação superior. Quantas vezes para suprir a carência desta instituição doamos, disponibilizamos e reconstruímos nossa formação. Me pergunto quantas aulas vistas a pressa, quantas noites sem dormir, quantos livros xerocados, quanto tempo longe de nossos familiares, teremos que suportar para remendar os vácuos da nossa formação?
         Já que os defeitos são evidentes e os esforços de professores e alunos beiram ao nível do esgotamento. O nosso parar é um sinal de que a maneira como se mostra a nossa realidade, não condiz com o que desejamos dela, não nos favorece a qualidade na nossa formação.
Um educador escreveu no primeiro capítulo de seu livro, o seguinte titulo: “Não há docência sem discência ” e discorre no final desse mesmo capítulo sobre os discursos silenciosos que a estrutura das escolas gritão. E ele se questiona como cobrar a qualidade dos alunos se o próprio Poder Público não os respeita, sem fornecer esta qualidade. Pois: “A eloqüência do discurso ‘pronunciado’ na e pela limpeza do chão, na boniteza das salas, na higiene dos sanitários, nas flores que adornam. Há uma pedagogicidade indiscutível na materialização do espaço.” (Freire, 1996, p. 50).
        E Paulo Freire (1996) continua a nos instigar quando fala:
O que importa, na formação docente [e discente], não é a repetição mecânica do gesto, este ou aquele, mas a compreensão do valor dos sentimentos, das emoções, do desejo, da insegurança a ser superada pela segurança, do medo que, ao ser “educado” vai gerando a coragem (p. 50-51, colchetes adicionados).
          É com esse desejo de ter insegurança na vivência de nossa prática, de ser escutado e compreendidos nas nossas emoções e sentimentos, que nós estudantes de psicologia somos incomodados para crescer e inferir sobre a condição humana, que só pode ser sentida e atuada na ação, na vivência, no questionamento, na aquisição de conhecimentos ao repertório comportamental, assimilados e acomodados no nosso cognitivo, promotor de insights e transformação intima e/ou social das subjetividades.
          Paremos agora, para seguir adiante, paremos agora, para sermos escutados e nos escutar, paremos agora, para começar a luta. Como o Movimento de Estudantes de Psicologia do Piauí (MPPI), sempre nos lembra ao dizer que: “a luta é um movimento, ela pode começar em qualquer ponto” e parar ou estar parado, mais nunca ficar parado, é o início de todo e qualquer movimento.


(Pedro Modesto)


Referência:
Freire, P. (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários para à prática educativa (10ª Ed.). São Paulo: Paz e Terra.

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