segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Natimorto
As linhas são as mesmas, as interpretações não conseguem ser. Datas são números, nada significam, eu repito. Resta saber por que existe meu cinismo insistindo que elas não são nada além de números. Aniversários são algarismos superestimados. Acho muito incômodo este hábito de querer impor uma razão a tudo; a verdade é que me intimido pelo que é provável, ou mesmo óbvio. As conexões evidentes nas lições que nunca se aprendem. Motivos não precisam de bons sentimentos.
Talvez seja sempre nessa época porque é quase-dezembro e há o feitiço dos verões quentes e das tardes ociosas passadas ao sol que tudo exige e seca, sem nada retribuir. Apenas minha sede de flores e suas cobranças lamuriosas. Preciso parar de dar ouvidos e aprender a viver no deserto. Quarenta dias, quarenta anos. Mas também não se sabe se é pior o lago escuro profundo em que se perde o fôlego ou a areia movediça desértica afundando ao menor movimento. Em ambos, debater-se é inútil. Cair e ser tragada é inevitável.
Minha relutância em admitir que algumas coisas se repetem como símbolos e eles se lançando à minha frente a todo instante, se engalfinhando com a minha teimosa negação: não pode ser, não acredito. Despojada de todo misticismo, há apenas silêncio quando percebo que todas as paixões sobre este signo de luas minguantes são natimortas. Resta embalar o pequeno corpo até que descanse e suba aos céus das minhas lembranças purificadas pelo esquecimento.
Do meu blog pessoal, o Realismo Fantástico (http://desencantamentos.blogspot.com/).
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