quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
Identidade
Lembro-me dos tempos em que me afogava
na anatomia alheia e bebia todo o néctar
que era oferecido ao meu paladar.
Eu era triste e talvez vazio
mas não tão melancólico como sou hoje
nem possuía o mesmo olhar sofrido e boca trêmula.
Meus livros não eram tão empoeirados
e a minha saúde não era frágil.
Refletia paixão em minhas poesias
e orgia em minhas noites
frias ou quentes ou chuvosas.
Tentei duas ou três vezes
mantê-la por perto
mas nem sequer consegui
guardá-la em mim.
Não existia uma gota de amor
ou qualquer outro sentimento além de tristeza
dentro do meu ser.
E percebi tudo isso agora.
Quando descobri o abismo
entre viver e apenas sobreviver
guardei os meus discos do Chico
e nunca mais cantei Singin' in the Rain
mas não parei de escrever.
Porque sou poeta
e poeta não deixarei de ser.
(Laís Grass Possebon)
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dá pra sentir pelas palavras a levada, o vagar dessa vida e a intrínseca ligação da poesia e da poetisa. poema muito bom de se compartilhar ^^
ResponderExcluirO poema me lembrou 'Retrato' (em que espelho ficou perdida a minha face?). Mas já disse: é muito melhor que o da Cecília...
ResponderExcluirPercebe-se um pequeno toque de Cecilia Meirelles... Ou me enganei? Excelente influência...Cecilia é Cecilia! Muitas gerações de poetas têm a poetisa como inspiração... Parabéns!
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