terça-feira, 17 de novembro de 2015

Mais uma primavera


Da janela, o carro lento,
o passo firme, tardio vento,
a pressa da presa, a chuva
ora dádiva, ora escárnio
lavando um a um, atrasos
e apressados;
as ruas e tudo o que passava;
o tempo melodiava,
para as pessoas olharem pra si
e para o alto; para os lados
e para o fim; para que se
parasse tudo e que tudo fosse
brincadeira de criança
em pleno fim de tarde

Mas arde, a cabeça e paciência,
o horário e a essência;
bate ponto, lucra rico,
paga conta, pobre fico;
não por aqui, nem acolá,
tampouco ali; lá nem pensar
das culpas que não são nossas
a rota é guarda chuva
e mergulho nas vias inundadas,
para mais um dia de risco
em prédios de janelas fechadas

Cá estou, a ver o fluxo;
do meu mundo sozinho,
observando o tempo
passando por todas as vontades
e possibilidades de mudanças
quiçá, oxalá, tenho esperança
não há tempo pra mais espera;
que da janela do meu abrigo
só floresçam primaveras

André Café

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