terça-feira, 3 de novembro de 2015
O conto do Antonio
Me contou seu Oliveira,
uma história antiga,
daquelas que vira cantiga
de se cantar nas feiras
O caso foi por ele vivido,
e que começa bem assim:
Maranhão, no interior Mearim
foi o local do acontecido
Sua filha, Ana Maria
tava num mal que só
sofria de uma doença
que não importava a crença
era de sentir dó
O Antonio preocupado,
pois remédio não funcionava,
sua cria nem se mexia
de tanta dor que sentia
e cada vez mais piorava
Deusimar, mãe da menina
se agarrava na oração
mas também foi procurar
dentro do saber popular
alguma solução
Seu Antonio, de boi e reisado,
foi sem problema escutar
o que um Preto Velho dizia
e como numa profecia
lhe disse o que devia encontrar
'Essa doença agourenta,
tem um remédio natural
vá caçar uma raposa no mato
abra a bicha, tire os fato
e pegue o fígado do animal'
'Bote por riba das telhas
deixe ficar sequinho
amasse, pise, no moedor
o que ficou passe no coedor
até criar um pozinho'
O Antonio voltou depressa
mas raposa não marca reunião
o jeito era esperar
pra não deixar escapar
o bicho pelos grotão
A Deusa, na pausa das rezas
já cuidava das panelas em brasa
ferveu café, fez beiju no azeite
deu pro Antonio um copo de leite,
e continuou no fazer da casa
O homem se passou pra tapioca
comeu, repetiu que suou
Deusimar ficou descrente
'esse aí, pega nem gente'
foi quando todo mundo escutou
A gritaria vinha do galinheiro
E o Antonio já saiu correndo
pegou do sogro, a espingarda
chegou ofegante na galinhada
pra ver o que tava acontecendo
Pois num era uma raposa naquele instante?
A galinha piava e bicava
mas ela comia sem parar
um, dois, três pintinho, sem piscar
por isso nem viu o que lhe apontava
Ouvi-se só o estouro
mas o tiro não foi certeiro
pegou bem na bacia,
mesmo assim ela fugia
pro meio do salseiro
E seu Antonio, na pressa de resolver,
gritou pro cunhado na agonia
"José, acode aqui que ela tá fugindo!"
e lá foi mais um tinindo
pra pegar o bicho de dia
Raposa caçada, doença vai passar!
pegaram a carcaça no chão
fizeram como o Preto Velho ensinou
tirou o fígado e nas telhas pendurou
só não contava com o gavião
Não deu nem um minuto de Sol,
lá se foi o fígado voando
Antonio correu, mas não alcançou
pra cima dum coqueiro o bicho parou,
e se apressou quando viu Antonio mirando.
O fígado foi para as crias,
mas Ana Maria ficou bem
coqueluche era a doença da sina
que se medicou e tomou vacina
pra alívio dos pais e dos vizinhos também
Mas fica pra história o conto do Antonio,
que mostra mãe e pai com preocupação,
tem que ser rezadeira, caçador e açougueiro
percorrer por várias fé do mundo inteiro
pra virar rima nordestina que fala de tradição.
André Café
(Poema feito a partir das histórias de antigamente que seu avô Antonio Oliveira e avó Deusimar Laurinda viveram)
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