terça-feira, 3 de novembro de 2015

Quando Quimera fugiu de Anatólia


Ao caminhar sobre velhas calçadas de lajota de uma florida rua do meu bairro, sem me preocupar com os vizinhos que retornam cansados do trabalho e com as crianças que brincam sob árvores, voo até o meu lugar mais bonito e me encontro entre pessoas azuis. Com roxos chapéus de magos, solitários arqueiros pedem-me poemas de amor sobre uma terra distante. Declamo sem pestanejar. O azul se torna mais anil. Seus arcos se transformam em violinos que acompanham algum canto élfico. Sou assim desde pequena: prefiro andar pelo teto e desbravar outros planetas a me prender a toda essa normalidade nauseabunda. Nas rodas de ciranda, eu era a menina que se dizia viking. Na roda de amigos, eu era a jovem que se intitulava Joana d’Arc. Na roda da vida, eu rodo ao contrário. Talvez por isso tenho de dormir sob um apanhador de sonhos. Quem sabe o motivo de minhas buscas esteja aí: nas quimeras. Para mim, o propósito sempre foi experimentar. Budismo. Xamanismo. Anarquismo. Comunismo. Faltam ismos neste mundo. Voo até encontrar.

Laís Grass Possebon

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