Em tempos de internet, a facilidade de um botão 'enter' ao alcance dos dedos, em uma distância mínima entre o pensamento e o teclado, produz resultados, no mínimo, interessantes.
Acabamos, muitas vezes sem querer, sabendo aspectos das vidas das pessoas que a gente nem imaginava na convivência do dia-a-dia. Descobre-se, assim, que a Ana, que parecia tão dura e insensível, se derrete toda por um cachorrinho; João, tomado como frágil e delicado, não perde uma partida de Luta Livre. Do mesmo modo, conhecemos traços da personalidade das pessoas que era preferível nem conhecermos: preconceitos, desrespeitos, futilidades, consumismos e outros.
Mas, nessa facilidade e oportunidades de se dizer ao mundo inteiro o que se pensa, o que se sente, tem algo que vez ou outra tem chamado minha atenção: a solidão das pessoas.
É que na geléia geral de tantos desabafos, compartilhamentos e auto-exposição, acabo sempre me deparando com reclamações e lamentos onde as pessoas se sentem/dizem 'Forever Alone', muito mais sério do que se pretende a brincadeira.
Bom, não quero (nem posso) julgar os sentimentos das pessoas, mas não posso deixar de ver como isso representa a idéia que se difunde de solidão/felicidade.
A internet é um espaço propício para um reducionismo da vida. É urgente ser feliz, é urgente que se tenha sempre um álbum de fotos recheados sempre de festas, sorrisos, muitos amigos, etc, quando a vida de todo e qualquer ser humano está sujeita a momentos de tédio, raiva, aperreios, decepções e frustrações tanto quanto aos seus antônimos.
Sem se dar conta, as pessoas vão se martirizando e reclamando por estarem mais uma sexta ou sábado em casa, como se obrigação fosse todo final de semana estar na 'balada'. 'Esperar alguma coisa em um sábado à noite parece que sempre implica numa saída/festa, não entrando a possibilidade de se ficar em casa, pensar um pouco sozinho, ler aquele livro deixado na estante, aquele vídeo que seu amigo indicou, ou simplesmente ficar de "boresta".
Intrigante mesmo é quando acontece de essa 'martirização' se dar por conta de falta de um/a companheiro/a em sua vida. Desconsideram-se todas as outras esferas de sua vida (família, trabalhos, atividades, lazer, etc.) e condiciona-se a uma felicidade que necessariamente consiste em ter um 'amor', tal como todos os clichês de filmes, novelas, músicas e poemas e o resto acaba virando um imenso vazio.
Nascemos sozinhos e morreremos sozinhos. A maior parte das nossas vidas nos deparamos sozinhos conosco mesmos - com o perdão da redundância. E não há nada de ruim nisso. Na tradição cristã, diz-se que o Criador fez todas as figuras perfeitas, completas, mas quando foi criar a figura mais complexa, o ser humano, fez-se justamente incompleto, porém, com capacidade de modificar e interferir em seu destino. Algumas religiões politeístas trazem uma perspectiva mais interessante ainda: Os Deuses, eles próprios, já são imperfeitos, incompletos, cada qual com seus vícios e virtudes. Ora, se os deuses são imperfeitos, porque haverá de os humanos buscarem a perfeição? Não significa, por outro lado, que deveria se aceitar as imperfeições como um dado, mas a busca por uma felicidade ideal acaba sendo, na maioria das vezes, frustrante.
Belo texto! Disse tudo... ;)
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