terça-feira, 8 de novembro de 2011

E a solidão das pessoas... nessas capitais





Em tempos de internet, a facilidade de um botão 'enter' ao alcance dos dedos, em uma distância mínima entre o pensamento e o teclado, produz resultados, no mínimo, interessantes.

Acabamos, muitas vezes sem querer, sabendo aspectos das vidas das pessoas que a gente nem imaginava na convivência do dia-a-dia. Descobre-se, assim, que a Ana, que parecia tão dura e insensível, se derrete toda por um cachorrinho; João, tomado como frágil e delicado, não perde uma partida de Luta Livre. Do mesmo modo, conhecemos traços da personalidade das pessoas que era preferível nem conhecermos: preconceitos, desrespeitos, futilidades, consumismos e outros.

Mas, nessa facilidade e oportunidades de se dizer ao mundo inteiro o que se pensa, o que se sente, tem algo que vez ou outra tem chamado minha atenção: a solidão das pessoas.

É que na geléia geral de tantos desabafos, compartilhamentos e auto-exposição, acabo sempre me deparando com reclamações e lamentos onde as pessoas se sentem/dizem 'Forever Alone', muito mais sério do que se pretende a brincadeira.



Bom, não quero (nem posso) julgar os sentimentos das pessoas, mas não posso deixar de ver como isso representa a idéia que se difunde de solidão/felicidade.

A internet é um espaço propício para um reducionismo da vida. É urgente ser feliz, é urgente que se tenha sempre um álbum de fotos recheados sempre de festas, sorrisos, muitos amigos, etc, quando a vida de todo e qualquer ser humano está sujeita a momentos de tédio, raiva, aperreios, decepções e frustrações tanto quanto aos seus antônimos.

Sem se dar conta, as pessoas vão se martirizando e reclamando por estarem mais uma sexta ou sábado em casa, como se obrigação fosse todo final de semana estar na 'balada'. 'Esperar alguma coisa em um sábado à noite parece que sempre implica numa saída/festa, não entrando a possibilidade de se ficar em casa, pensar um pouco sozinho, ler aquele livro deixado na estante, aquele vídeo que seu amigo indicou, ou simplesmente ficar de "boresta".

Intrigante mesmo é quando acontece de essa 'martirização' se dar por conta de falta de um/a companheiro/a em sua vida. Desconsideram-se todas as outras esferas de sua vida (família, trabalhos, atividades, lazer, etc.) e condiciona-se a uma felicidade que necessariamente consiste em ter um 'amor', tal como todos os clichês de filmes, novelas, músicas e poemas e o resto acaba virando um imenso vazio.

Nascemos sozinhos e morreremos sozinhos. A maior parte das nossas vidas nos deparamos sozinhos conosco mesmos - com o perdão da redundância. E não há nada de ruim nisso. Na tradição cristã, diz-se que o Criador fez todas as figuras perfeitas, completas, mas quando foi criar a figura mais complexa, o ser humano, fez-se justamente incompleto, porém, com capacidade de modificar e interferir em seu destino. Algumas religiões politeístas trazem uma perspectiva mais interessante ainda: Os Deuses, eles próprios, já são imperfeitos, incompletos, cada qual com seus vícios e virtudes. Ora, se os deuses são imperfeitos, porque haverá de os humanos buscarem a perfeição? Não significa, por outro lado, que deveria se aceitar as imperfeições como um dado, mas a busca por uma felicidade ideal acaba sendo, na maioria das vezes, frustrante.

Buscar um modelo ideal (e constante) de felicidade, muitas vezes imposto, com padrões de amizade, diversão e amor, retira muito da essência humana: nossa inconstância, nossa mutabilidade, nossa incompletude e nossas imperfeições. Assim, volta e meia, invariavelmente, nos encontraremos sós e insatisfeitos. Essa é a graça, é o que nos torna tão interessantes! Caso contrário, estaríamos (e muitos querem isso) em uma linha de montagem em série, onde sairíamos todos iguais, ou então buscando sermos iguais. Ah, deixemos disso! Sim, ainda acho que é "Impossível ser feliz sozinho", já que "nenhum homem é uma ilha", mas sem essa de sermos completos quando atingirmos aquele padrão de amor, de emprego, de família. Como ouvi na música, que me provocou a escrever este texto, ninguém pode completar alguém, ninguém pode se bastar em outra pessoa, mas é sempre lindo o gesto de se oferecer.



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