quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Das reuniões sem convite nem data



Mordam-se discursos e notas musicais, engasguem! Silêncio é o único privilégio egoísta direito universal. Na droga do silêncio, que é universo, cabe tudo. Ele te salva quando não há como falar, não há mais o que falar. Pede preço, sim, por que tudo tem - uma alma em troca, pode ser a sua ou não. Ele não decide se é vilão ou mocinho.
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Por trás das caras torcidas,pintadas, queimadas, botoxizadas e duras de sol, de sal ou de fel, lá está, roendo a pobre da alma - coitada! Tanto aproveita todas as situações, fica com quase todas as fatias das entrelinhas por onde o verbo costuma passar. Palavras são rótulos tão pequenos que não abarcam tudo, aliás, abarcam quase nada.
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Mas, chegará o dia que as caras torcidas, queimadas, botoxizadas e duras de sol, de sal ou de fel, com o silêncio escondido roendo a pobre da alma - coitada!, sentirão um tremor mandado pelos pelos pés e logo sairão à praça.
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Caindo máscaras no chão, os não-falantes-desmascarados - mãos dadas - gritarão todo o silêncio que tem e arrastarão todas as mágoas e louvarão todos os amores, amaldiçoarão todos os amores, consciências pesadas, alma trapo, com risos e chistes e soluços presos e as letras de um serão as letras de todos, e a minha dor será a tua dor, até que o silêncio volte a ficar mudo.
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Logo as caras voltarão ao lugar de origem, por fim!
e o silêncio temendo os tremores nos pés.

(Flora Fernandes)

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