Multicultural - Robert Daniels |
Tenho cabelo grande maluco beleza.
Sou ácido hippie, tenha certeza.
Poeta beatnik, valeu, firmeza?
Sou comunista, altruísta, nacionalista, capitalista, extremista.
Levanto a bandeira socialista, não sou qualquer porta bandeira de praxe.
Tenho lido Nietzsche, tenho lido Marx.
Seguro a marcha da revolução em ordem evolutiva.
Degenero tudo ao meu favor, sou progressista.
Conduzo-me na força de meu coração, sou ditador.
Dito, afirmo e dito.
Não ligo pra ninguém e sua dor.
Vou atrás dos revolucionários e mentores
motores da nova geração e modernadores.
Carrego livro grosso.
Tenho gosto que dá gosto.
Usufruo de cabelo grande
como já foi dito antes.
E sigo e vou e fico.
Êhhh caba indeciso voando altivo.
Meu martírio é segurar as bandeiras e ser primeiro.
Sou o último a morrer na guerra.
Fico sempre no lado de quem eleva a nova era.
Na minha camisa está escrito: pra que dinheiro?
Também sou seguidor de Cristo e da paz
sou bonzinho, um exemplo de rapaz
sou bizantino
conheço Firmino
e não digo o que este tal Firmino tem a ver com a minha sina.
E não me livro do progresso enlouquecedor da rima.
E do progresso enlouquecedor da rima não me livro.
Já vivi a idade do tempo e ainda vivo
não sei quantos e quantas já se proclamaram Cristo.
Hoje sou intelectual.
Defendo a guarda nacional.
Me candidatei e, se for eleito, farei.
Converso pra boi dormir.
No sul sou José, no Piauí
sou Zezim.
Sou revolucionário burguês
e sinto lhe dizer pra que vim
vou te fazer meu freguês.
Ando de Mercedes-benz
Wolksvagem e de General Motors.
Amém, meus bens.
Eu também oro.
Sou devoto e tenho um santo propósito.
Sou maluco certeza
mas tenho dinheiro
estou de beleza.
Sou íntegro e vou ao que quero certeiro.
Penteio o cabelo de lado.
Uso colarinho branco.
Assalto banco.
Aprendi a ser malandro safado.
Depois do trabalho, tiro a gravata e como bem na delicatessen
não, não há nenhum mal em comer bem na delicatessen
o mal está em quem olha pela vitrine e sonha, sonha, sonha, só sonha. Até virar cinza e pó.
Eu não paro de sonhar
cheiro pó
quero abalar.
Que cristo não me ouça
a minha boca se morda
e meu nariz exploda.
Meu cérebro está acelerado, agoniado.
Estou numa rotina pra descarado.
Quero comprar meu carro.
Não mereço isso
nasci pra ser aquilo.
Sou aniquilado aniquilador.
Sou poetador arretado.
Sou artista, um amante da boemia
com ou sem hipocrisia.
Tenho a bossa nova no meu iPod.
Sem depender de nenhuma opinião
faço tudo por mim, o que devo e o que pode.
Garanto, sempre ganho a razão.
Sou no outro mais um desgraçado
uma belo descarado.
Vou moderno e cultuando o mundo privilegiado de mim.
Vou moderninho cominando o mundo feito para mim.
Sou elite, vanguarda.
Sou conservador e dono das palavras.
Sou moderno, moderninho, contemporâneo
ouço Los Hermanos.
Sou discípulo de Caetano e curto trance.
Me visto todo louco, uso couro de serpente.
Estou oco
mas tenho um Ray-Ban maroto
marotinho vou e sou escroto.
Curto um broto.
Pago pra puta.
No motel, como uva.
E não pago pau pra ninguém.
Até porque me escondo.
Tenho medo e me escondo.
Pago pra ficar tudo zen.
Quer saber? Não te conto
e nesse rumo vou sem
ninguém.
Do poeta José Augusto Sampaio
Publicado no livro O outro lado do olho, em 2010
Está à venda no www.agbook.com.br
Mais informações em joseaugustosampaio.blogspot. com
Contato: guto.sampaio83@gmail.com
Facebook: josé Augusto Sampaio
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