quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
Metade de um segundo vivo, entre a morte e a sorte
E fim ... e fim?
Formigando-me de dúvidas
entre meio segundo de vida
e outra metade de ... de quê mesmo?
porque metade é metade:
metade de uma laranja
é a metade de um livro
é a metade da meta de não seguir sozinho
Mas sozinho que se nasce,
não é sozinho que se parte?
Parte de mim que se vai e fica metade
Metade de um milésimo,
num máximo de instante,
metade conflitante,
pensando em tudo na vida,
na metade do que foi bom viver,
na metade do que é melhor esquecer,
mas no momento é só o que gira
e angustia no meu pensamento!
quero gritar, mas meio milésimo de grito
não faz arrepio no ouvido de ninguém. E agora?
Multiplico meu instante, meu milésimo de grito
Outrora gritava aflito, agora grita coragem
Se Morte é coisa inexorável
Que a enfrente sem ser covarde
o semblante temeroso se foi
que se aceite essa verdade
vem, me possua Dona Morte
me abrace com toda vontade
E a Dona Morte veio.
Mas pra que tanta pressa, Criatura?
Deixe-se aí, que a Vida ainda lhe atura
Deixe pra vir a mim, quando ela enjoar de ti...
e num misto de alegria e amargura
ela se foi em insensível ternura
e cá me deixou no colo da Vida dura
sem nem eu expressar o que queria
quero praia do outro mundo! quero maresia
Dona Morte me segura
Olha atenta, e sussura:
Calma, que ainda falta metade
e um pouco mais ou menos.
E sumiu ali no sereno, pro próximo dia vivo chegar
Laelia Carvalhedo e André Café
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