Passeando pela calçada
Pulando os buracos dos becos
Bambeando pelas beiradas
A passos pequenos, trôpegos
Tropeçando nas pedras
Com suas pernas tortas
Calçado com seu sapato surrado
De sola velha, silenciosa
Batendo de porta em porta
Em noite plena, alta madrugada
À procura de uma casa
Ou alma bondosa que lhe abrigue
Dê morada a uma cara
Que nada tem, nenhum vintém
A não ser palavras d'um passado
Memórias de perdas e vitórias,
Histórias narradas pela sua voz
Arrastada, rouca, baixa
Alastrando-se rua afora
Bebendo bourbon barato
Sentindo-se um rato,
Grato pelas migalhas e sobras
Que a vida lhe dá
E ao reverenciar o céu, o luar
Seu único lar, sua família e platéia
Feito amador em dia de estréia
Se permitiu perguntar
E pensar no porquê
De viver e ser assim
Sem parente nem aderente,
Um indigente feliz.
Na boca alguns dentes
Somente pra sorrir
E sem perceber que as pessoas
Lhe olham com nojo, medo
De lado, com cuidado
Enquanto outras não estão nem aí,
Ele gira, dança e grita
A plenos pulmões
Fazendo pulsar seu coração
Mofado e maltratado que diz:
"...Mas isso não impede que eu repita
É bonita, é bonita e é bonita!"
Hannah Cintra
Hannah Cintra
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