Eu que sempre imaginava o
dia que em fosse morrer, hoje evaporo junto com a certeza de que por mais que
eu procure não sumirei assim tão fácil e o hoje o relógio, o vento e o destino
são os meus únicos aliados nessa busca incessante pela eternidade .
Lembrava minuciosamente
daquelas palavras profetizadas em meu ouvido, palavras doces e seguras, as
frases com os cafunés que se perdiam entre as fechadas das minhas coxas e o que
mais me martelava era de onde surgira tanta certeza de uma pessoa que eu nunca
vira , de um amor que me oferecia de longe e mesmo estando eu, de olhos
vendados conseguia sentir esse corpo distante, um rosto rompante ,uma voz
inebriante, e um olhar expressante .
Estou querendo acordar, mas
além da misteriosa estrada que entorpece minhas entranhas tenho esse homem, um
amor, que não terei como temer em parar e em nome desse ultimo irei lutar pela
felicidade que me consome mesmo sem conhece-lo ou amá-lo .
Não me prendi ao acaso de
sempre me encontrar perdida em uma estrada que não é minha, mas de alguma forma
em outrora deva ter me pertencido . Tenho certas vontades de quebrar o tempo,
me apegar ao vento e sair voando, mas temo esse querer que entorpece meus olhos
de lagrimas por não conseguir decifrar certos enigmas. Encontro-me em outra duvida,
algum tempo atrás assisti um filme sobre sonhos que alguma parte dele destacava
que “ você nunca se lembra quando começa um sonho e quando se percebe as vezes
já é tarde de mais para viver ele ou nele “ . Achava isso uma bobagem, pois
priva qualquer ser humano de buscar outra verdade diferente desta meia, cheguei
nessa parte da vida em que me encontro em não saber mais se esse contraponto é
o suficiente pra mim, hoje não preciso mais das verdades elas me fartam de uma
forma a sangrar e muito menos importa sonhar, depois que me encontrei perdida
em um deles, não sei se já estou acordada ou se estou dentro de mais um falando
agora, vivendo perdida e quando tudo isso começou? Na verdade não sei . Da
mesma forma, não lembro de nada a partir dos primeiros segundos de vida no
mundo, nem a emoção de colocar a primeira vez os pés no chão e como arranquei o
''então sorriso'' de meus pais ao me verem caminhando, tudo soa bem estranho
mas é uma da forma que me concentro e isso me deixa menos triste da realidade que
me assola.
O sorriso realmente é a
porta da alma , ele que engana, ama, o que chora, o que sangra, é triste e alegre
uma verdadeira contradição.
O jardim estava claro, as
flores pareciam que estavam dançando ao som das vozes de crianças brincando nas
ruas, todas vestidas com um perfume que cortava a alma de alegria ao senti-lo,
rodeadas com o babado de lagrimas feliz que caia torrencialmente regando as
outras como se fosse a mais linda chuva que já vira, tudo era tão lindo, tão
perfeito que meus olhos não aguentava ao menos piscar, de repente apenas eu no
meio e todas elas dançando como se estivesse fazendo um ritual, as vozes
pararam e ao fundo só o som das pegadas, que cada vez ficavam mais altas como
se tivesse bem perto de mim, em um segundo a respiração ofegante, o toque em
minhas mãos o suspiro em meus ouvidos , o arrepio de pele o perfume no pescoço
, o corpo no corpo , faíscas na roupa . A velocidade da dança aumentara,
pisquei os olhos e o mundo congelou, naquele momento vira um rosto pálido, iluminado
tão como o lugar que estava e em segundos a então a voz sucumbia meus ouvidos, aliás
todos os nítidos sentidos do meu corpo não se controlavam dentro de mim, eles
queriam ser extravasados, dançar como as flores , a voz aveludada e cálida
fazia festa em meu ser , além dela apenas as palavras que não escutava à tempos
com tanta certeza e o sorriso doce ? Esse me deixava psicodélica, sentia todas as
emoções e mais ainda quando o lábio inferior dele tocava no superior trazendo
um baile à tona de pura ternura, serenamente elas escorriam entra a boca dele.
– Meu amor, enfim te
encontrei, meu corpo não aguentava mais querendo o seu, meu sangue estava
congelado, minha saliva enojada, minha vida não era vida sem que eu pudesse
verificar entre os meus o seu pequeno olhar . Porque foges tanto, tive que
atravessar o meu inverso para te ver novamente, porque negas esse amor?
Diante dessas perguntas
,minha mente inundara e logo então as lagrimas começara a dedilhar entre meu
rosto a conhecida emoção que se estabeleceu entre meu frágil corpo sumira,
partira e de contramão as dúvidas voltaram, a tristeza que era minha válvula de
escape nesse momento me enclausurou não querendo soltar-me para poder ao menos
sentir esse corpo de sobre aviso ao meu, não conseguia entender o motivo dessas
cobranças. As temíveis lembranças voltaram com força total, e entre um
turbilhão de segundos lembrei-me desse límpido rosto, ele tinha o rosto
semelhante do homem da voz que já aparecera em alguns sonhos, só que dessa vez
estou com ele face em face estando no meio de uma história que ficou parada, o
começo desconhecido como nos meus devaneios e o futuro jogado a uma sorte que
não mais me pertence.
Ele não me soltava, me dizia
que tínhamos muitas coisas para conversar, brincar, amar, planejar um futuro,
mas para que isso chegasse a dar certo precisávamos dormir, sonhar. A palavra sonho me permitindo a escutá-la mais
uma vez nesses últimos dias. Chegamos à ultima casa da rua , a casa de cor
branca que havia visto uma senhora parecida comigo há um tempo atrás que de
fato era a minha casa ,entramos e nos envolvemos com as gotas que caiam do
orvalho, elas criavam uma atmosfera de perfeita serenidade, nada igual como a
do bosque que presenciara mais cedo aonde ele me tocara. Senti alguns toques, o
frenesi na minha espinha, cercava este homem como um animal faminto com fome a
deriva por meses. Deitamos e do nada quando levanto meu rosto procurando a boca
dele me deparo apenas com o vagão o mesmo que aparece refletido em minha retina.
O amor sem afago que pairava em meu coração sumira mais uma vez. Levantei-me
cambaleando de tristeza deslizando entre as minhas lagrimas ,sugando o ultimo
ar que me restava, esvaindo passos para chegar ate a cozinha. Fiquei parada
analisando a área em que estava, cheguei aonde meu corpo tramava em chegar,
enxerguei tremulo vários remédios e sem nenhuma piedade despejei todos em minha
boca, comecei a definhar no chão e no lapso de tempo aquele ceticismo que já me
pertencera voltara e me cobria com o seu manto da morte.
Cheguei nesse momento da
vida que não confiava mais nem no meu sorriso, pois as digitais que o preenchiam
espelhava os lábios dele. A morte voltara e me entorpeceu com o seu excêntrico
perfume, as duvidas que oscilava dentro de mim jazia em meu peito como se
estivesse em um holocausto, o genocídio entre todos os meus sentimentos acontecia
enfraquecendo meu corpo ,sangue, dores, desgraças e trevas me resume a um lugar
que não imaginara expor nem nos meus livres versos . E se algumas horas atrás
eu vivia no olimpo por tanta felicidade, nesses novos segundos habito no caos
de insegurança. Sobre o amor, só a dor que me restou e hoje emano uma vontade
de não querer saber de mais nada incluindo ele.
“Ele me trouxera a morte que
não a desejava mais, hoje conspiro em uma luta que não foi travada pelas minhas
convicções, se antes já não sabia, hoje nem um pouco mais“
- Línia você pode me escutar,
pode me sentir e ainda consegue me amar?
Consegui lhe trazer a um lugar que sempre quis que você pudesse estar
Sente e deixe que eu possa lhe explicar.
Você esta morta como pode notar
Eu, aquela senhora e todas as imagens que já vira também estão
Mantenha-se acordada para que nada possa lhe maltratar
cuidarei da sua estadia aqui .
Consegui lhe trazer a um lugar que sempre quis que você pudesse estar
Sente e deixe que eu possa lhe explicar.
Você esta morta como pode notar
Eu, aquela senhora e todas as imagens que já vira também estão
Mantenha-se acordada para que nada possa lhe maltratar
cuidarei da sua estadia aqui .
Porque tenho que passar por
isso? Pensei que morta poderia está livre de tudo, não vou respondê-lo, me nego
a ter que fazer isso, sempre que essas palavras voltam pra minha vida eu volto
a sangrar, começara tudo de novo, as síncopes, as tremidas no cílio direito, a
arranhada com a mão esquerda torturando minha coxa, já me encontrava sentada
com a face languida balançando as pernas feita louca, percebi nesses segundos
que um pouco da minha insanidade nervosa reinava em meu corpo fazendo com que
eu me encontra-se a deriva discutindo comigo mesmo sobre a intriga dessas
frases que esse homem derrama sobre meu ser, ele fez questão em aparecer onde
estou, é isso? Sem respostas não consigo esvaziar ele por total do meu coração,
deva ser algum tipo de jogo. A minha mente esta sendo ameaçada por este
sentimento doentio e onde estou não sei se conseguirei fugir de mim. Meu nome
és o meu único legado que tinha se perdido por um tempo que me fizera esquecê-lo,
apagado da minha vida, tudo me fazia ocupada, retificando tudo estava preso nas
mãos desses acontecimentos e agora eis que surge tudo sóbrio novamente me
fazendo definhar mais por lembrar-se da minha infância, da minha mãe e quão era
feliz por estar viva. Esse era o jeito que minha mãe me chamava. E agora onde
todos estão? Onde eu estou?
...Onde estou, onde estou?
A voz arrastada arranhava a
minha garganta e de repente só o mudo da voz e a escuridão entre o espaço. Um
vento catabático me empurrava, flamejando vozes.
- Venha, venha. Essas foram
as últimas palavras que consegui ouvir .
Myrla Sales’
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