sexta-feira, 24 de junho de 2016
8
Vejo-me melhor em poemas do que
em fotografias alegres de domingos
falsos quando palavras fáceis soam
como a magia da flauta de Mársias.
Talvez sejam as lentes frágeis destes
velhos óculos quadrados que já não
servem para demonstrar minha face
mas apenas meus dizeres em versos.
Observo-te solitária e ofuscada pelo
tempo de parasselênio da saudade
azul daquele antigo amado bardo
que te escreveu em uma folha em
branco e que te queimou com uma
vela branca sem guardar tuas cinzas
em um pote ou jogá-las em um lago.
Reescrevo-me todas as noites antes
de me recolher aos meus aposentos
e costuro este coração com pedaços
de nomes de gente ou com linhas de
estrofes mudas de uma poesia escrita
por Rimbaud antes de sua partida.
Recordo-te pequena sobre a cama
sem ter o que falar nem o que ouvir
e lembro-me que compartir o silêncio
é o método mais sincero de se declarar
o amor conservado entre duas pessoas.
Beijo-te sem movimentar meus olhos
melancólicos como naquela tarde fria
de junho quando dormi no teu sofá duro
somente para te acompanhar ao teatro.
Estaremos dormindo quando ocorrer
o fim do Cosmos e apenas teremos
nossos membros por dentro da gente.
Morreremos em todas as frases escritas
e em todas as fotos guardadas em álbuns.
Seremos poeiras restantes do nosso universo.
(Laís Grass Possebon)
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