sexta-feira, 24 de junho de 2016

Ciclo da vida

Arte, menina, ônibus, solidão Vetor

Estava eu voltando da universidade mal aconchegado na janela de um 365 – vulgo Amarelão ou Circular II – e pensando nas coisas que a gente só pensa quando está na janela de um bus ou sentado na privada do banheiro de casa. Os pensamentos iam e vinham bem como os cheiros e sons dentro daquele ônibus lotado de gente lotada de gente e lutando para ser gente…

Pensava na vida e na morte, nos excessos e nas carências.

Pensava nos porquês da vida: porque, por que, porquê e por quê – nossa língua não é para amadores.

No meu celular estreava o disco “O milagre dos peixes”, do Milton Nascimento com a participação da divindade Naná Vasconcelos.

Álbum visceral, cheio de sonoplastia e de efeitos de mixagem, como o fato dos sons ficarem variando entre um fone e o outro, dando a sensação de que a música atravessa a cabeça. Ecos, gritos, queixas, assobios, gemidos… É uma mistura de contemplação com angústia e melancolia.

Cada faixa era – e ainda é – uma liga metálica conduzindo as infindas energias presentes na obra até a carne do meu espírito.

Então me veio a ideia de escrever, ainda dentro do ônibus, alguma coisa. Qualquer coisa que fosse, porém, imaginando o próprio Milton cantando e Naná musicando…

E deu nisso que agora compartilho com vocês.

PS: logo abaixo do texto está o link de uma música em especial desse álbum, “A chamada”. Recomendo ouvi-la enquanto estiver lendo.



“A gente morre o tempo todo

Enquanto tenta matar o tempo

A todo instante, todo momento

Quando percebe, já está morto



E todo dia, morre um sonho

Um sentimento, matam a fome

Morre a saudade no aperto

De um abraço



Morre o jovem no aperto de um gatilho

Vão-se os trens, ficam os trilhos

Todo dia é dia de morrer



A gente nasce o tempo todo

Enquanto tenta morrer pra sempre

A todo instante, todo momento

Quando percebe, nasceu



E todo dia, nasce um sonho

Um sentimento, nasce uma fome

Nasce a saudade na falta

De um abraço



Nasce o jovem no aperto do gatilho

Voltam os trens por outros trilhos

Todo dia é dia de nascer

A gente morre o tempo todo

Enquanto tenta nascer pra sempre

A todo instante, todo momento

Quando percebe, já morreu



E todo dia, nasce um sonho

Um sentimento, matam a fome

Nasce a saudade no aperto

De um abraço



Morre o jovem no aperto de um gatilho

Ficam-se os trens, se vão os trilhos

Toda morte é feita para nascer”


Todo mundo é assassino por conveniência, matando o tempo por sobrevivência.


Marcus Sousa

Ver também em: Ciclo da vida



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